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General: Cantineiros do Mato
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De: espadinha1940 (Mensaje original) |
Enviado: 07/11/2007 20:31 |
Amigos: Depois de ler a mensagem da Nanda-Matias, cujos pais foram cantineiros no mato, nテ」o resisti a colocar aqui um pequeno texto, retirado de um trabalho que estou a fazer. テ旺uma pequena homenagem a essas pessoas que viviam no interior do sertテ」o de Tete, algumas das quais conheci. Aqui vai o texto para vossa apreciaテァテ」o: Na Curva da Picada No caminho para o Furancungo existia uma velha cantina dirigida pela senhora Rosa e pelo marido, um casal europeu de meia-idade. Era quase obrigatória uma paragem na cantina da Casula para tomarmos uma bebida e desentorpecermos os músculos, muitas horas imobilizados pelas longas viagens nos carros militares. De vez em quando, famílias de macacos atravessavam a picada, observando-nos desconfiados. Certa vez, nesse percurso, parámos mesmo um pouco para que uma enorme e pachorrenta jibóia atravessasse a picada. Cercada de mato agreste, a cantina vendia os produtos tradicionais consumidos pela popula챌찾o nativa. No pátio, coberto de colmo, um alfaiate negro pedalava uma antiga máquina Singer com que costurava os vestuários garridos das mulheres africanas. Tendo como fundo sonoro o matraquear da máquina de costura, ficávamos largos minutos a escutar a senhora Rosa. Com especial simpatia, ela contava-nos as peripécias, recheadas de aventuras, daquela vida isolada no mato. Apenas as raras viaturas, que passavam a caminho de Tete ou do Furancungo, quebravam a monotonia daquele lugar. Lá fora caía um calor tórrido e o ar seco era quase irrespirável. Depois de uns minutos de conversa e de uma bebida fresca, partíamos para o nosso destino, deixando para trás uma espécie de santuário que sempre nos fascinava. Enquanto estivemos nas Minas do Mavúdzi, visitámmos algumas vezes a cantina da senhora Rosa. Um dia fomos encontrá-la muito triste e abatida. O marido tinha adoecido e fora necessário transportá-lo para o Hospital de Tete, onde ficaria internado. Tentámos animar a comerciante, mas a solidão em que ficara deixou-nos também um pouco perturbados e apreensivos. Nada podíamos fazer, já que as distâncias em África eram enormes e o nosso acampamento ficava a muitos quilómetros dali. Decorreram alguns dias. Uma noite, quando estava já deitado no aldeamento das minas, chegou um grupo dos meus soldados que regressavam de um exercício mais distante. Ouvi-os ent찾o comentar que tinham estado na cantina da Casula, onde foram deparar com a senhora Rosa num grande desespero. Acabara de receber a notícia do falecimento do marido e, no meio de choro convulsivo, disse aos militares que bebessem o que quisessem que já nada lhe fazia falta. Podiam ficar com tudo. Os meus homens recolheram ao acampamento muito impressionados com a situa챌찾o dramática que tinham ido encontrar. Uns meses mais tarde vi ainda a senhora Rosa na cidade.Caminhava pela rua, com olhar vago e triste, transportando uma pequena cesta de compras. Cumprimentei-a, mas n찾o me reconheceu. Na última viagem que fizémos ao Furancungo, passámos pela cantina da Casula. Estava encerrada. Parámos um pouco, para observar. Não se via ninguém! Apenas um gato doméstico apareceu no pátio a olhar-nos com curiosidade. Com alguma tristeza, partimos. No nosso rasto uma nuvem de poeira avermelhada ficava suspensa no ar. Lá ao longe, na curva da picada, a casa solitária ia ficando esbatida, cercada pelo mato agreste e silencioso. António Espadinha |
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De: manuelnhungue |
Enviado: 07/11/2007 21:37 |
Não quero jurar, mas acho que conheci a Dª Rosa. A sua idéia foi ótima. Os cantineiros, genéricamente, monhés, (comerciantes do mato), poucas vezes eram indianos. Na minha humilde opini찾o, entre bons e maus, eram na sua maioria gente de muita fibra e valor. Vá em frente que eles merecem ser lembrados. Parabéns pela idéia! |
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De: nanda-matias |
Enviado: 07/11/2007 23:41 |
Olá! Espadinha Fiquei comovida, com a sua recorda챌찾o. No colégio, como aluna interna, a maioria das colegas internas eram da Casula, Furanculo, Angónia, e duma maneira geral eramos filhas de cantineiros, farmeiros e todas tinhamos um elo muito forte, como se fossemos uma grande família de manas, primas.... Ao fim e ao cabo, nós eramos a família que passavamos mais tempo juntas, porque duma maneira geral deixavamos os pais em meados de setembro, início do ano lectivo e a maior parte das alunas só voltavamos a ver os pais lá para o dia 19 de Dezembro, na altura das férias.... Em setembro de 1969, da Uncanha a Tete eram 360 kms. o meu pai vinha com o meu irm찾o do meio, mais um empregado nosso e a 11 kms da cantina, ....uma mina, daquelas que nao era de ouro nem diamantes, rebentou quando uma roda do land-rover... Dores e sofrimento, mas com a gra챌a de Deus, o meu irm찾o e o meu pai sobreviveram, mas infelizmente o nosso empregado...que Deus o tenha. Mais uma vez, agrade챌o porque assim como a D.Rosa, tanta gente boa espalhada pelo mato. Beijos e abra챌os da largura do Zambeze. Kisses from Jo'burg Nan |
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De: nanda-matias |
Enviado: 07/11/2007 23:47 |
Corrigir : FURANCULO, MAS EU QUERIA ERA DIZER : FURANCUNGO. BEIJINHOS NAN |
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De: nanda-matias |
Enviado: 07/11/2007 23:47 |
Corrigir : FURANCULO, MAS EU QUERIA ERA DIZER : FURANCUNGO. BEIJINHOS NAN |
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De: mayra1950 |
Enviado: 08/11/2007 06:27 |
Espadinha, Eu fico impressionada comigo mesma, quando leio as tuas estórias! Em vez de "letras" eu assisto cenas, como se aqui estivesse um filme. A senhora Rosa: baixinha, gordinha de vestido estampado em rosas miúdas. O marido: magrinho, de grande bigode, camisola branca e calça azul bem clarinho! Lógico que não eram assim, mas a imagem que "crio" (não sei porque) permanece...se penso, ela vem mesmo e não muda nunca! Linda narração dos factos! Chorei!!! Um abraço, Mayra |
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De: misabelantunes1 |
Enviado: 08/11/2007 12:23 |
Espadinha, Um grande abra챌o com os meus parabéns por este belo trabalho. Está lá tudo, é um quadro perfeito da cantina no mato! N찾o me recordo da D. Rosa e do marido que, julgo ter conhecido, pois nas minhas desloca챌천es de e para o colégio com o sr. Agostinho Rego, faziamos o trajecto Angónia, Furancungo... Isabel |
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De: espadinha1940 |
Enviado: 10/11/2007 03:33 |
Manuel Nhungue, Nanda Matias, Mayra e Isabel: Agradeço as elogiosas palavras com que comentaram o texto sobre os cantineiros do mato, aqui retratados pela figura da Senhora Rosa. O trabalho está a ser ainda melhorado para vir a integrar um pequeno livro sobre a minha vivência como militar em Tete. Devo aqui referir que tinha umas recordações já um pouco nubladas dessa personagem, mas, logo que comecei a descrevê-la no seu ambiente, vieram à tona muitas imagens que estavam já a caminho do esquecimento. Felizmente que a recordei. Um abra챌o e um bom fim-de-semana para todos. Espadinha |
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De: misabelantunes1 |
Enviado: 10/11/2007 14:20 |
Espadinha, Espero, ansiosamente, esse livro de memórias que, irá despertar as minhas, como tem vindo a acontecer com os trabalhos que, aqui apresentas. Este tema, apresentado em boa hora pela Nanda, dá, como se costuma dizer, "pano para mangas". Lamento n찾o ter disponibilidade para contar algumas histórias que recordo. Um beijinho e obrigada. Isabel |
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