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General: NYAU OU GULE WANKULU
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De: misabelantunes1  (Mensaje original) Enviado: 04/12/2007 20:24
DANÇA NYAU: Das origens aos nossos dias
Notícias 29 de Agosto de 2007

O NYAU (Gule Wankulo) é uma dan챌a praticada por vários grupos étnicos espalhados pelas regi천es transfronteiri챌as de Mo챌ambique, Malawi e Z창mbia. De entre eles figuram os Chewa, Achipetas e Azimbas.

A sua origem é associada à formação do Estado Undi, por volta do século XVII, (Gabinete de Organização do 1º Festival de Dança Popular, 1978), altura em que se supõe ter sido adoptado como uma forma de manifestação do seu poderio perante os povos conquistados. Do ponto de vista lendário, as fontes orais continuam a relacionar esta origem aos Undi, que supostamente, “do Malawi teriam vindo ensinar esta dança aos moçambicanos”. (entrevista com um Nyau do Malawi, 20 .04.07).

O termo Nyau designa igualmente o dançarino, quando já equipado com os vestes, nomeadamente as máscaras e o restante fardamento. Por sua vez, “Gule Wankulo” significa grande dança. De facto, o Nyau é uma dança invejável que atrai molduras humanas pelo espectáculo que proporciona, em suma, pelo seu elevado valor artístico-cultural. Por outro lado, o Nyau é igualmente um símbolo de contestação das comunidades locais, primeiro contra a invasão Nguni e depois contra a presença colonial portuguesa, esta aliada à Igreja Católica.

Com efeito, há indica챌천es da presen챌a de grupos Nguni, chefiados por descendentes de Zuangedaba e Nguana Maseko, por volta de 1890, em territórios mo챌ambicanos, como Tete e Niassa, submetendo os Chewa (UEM, História de Mo챌ambique, vol.1, 1988). Admite-se que tenha sido quando desta submiss찾o que se enriqueceu a dan챌a Nyau, procurando contestar contra esta invas찾o.

Refira-se porém, a um acontecimento interessante na organização social Nguni, que mais tarde viria a relacionar-se com o Nyau. Estes, de organização patrilinear por excelência, com o tempo, viriam a converter-se à sociedade matrilinear, característica dos Chewa. As razões desta transformação não estão ainda claras, no entanto, são associadas ao facto dos guerreiros Nguni não terem incorporado muitas mulheres nas suas longas, difíceis e pesadas marchas migratórias, fugindo à perseguição de Tchaka Zulu. Assim, uma vez estabelecidos nestes territórios, tiveram de se casar, naturalmente, com mulheres locais, o que os levaria a conversão a matrilineares, alguns, passando a praticar o Nyau.
Com a ocupa챌찾o colonial portuguesa do território mo챌ambicano, nos finais do século XIX, como veremos adiante, os Chewa procuram resistir, igualmente contra a presen챌a tanto dos portugueses, como dos missionários católicos.
Uma das características do Nyau (Gule Wankulu) é de ser uma dan챌a essencialmente masculina. Os passos de dan챌a s찾o marcados pelo ritmo acelerado e estonteante dos tambores, enquanto as mulheres, cuja participa챌찾o é historicamente recente, acompanham cantando em coro. Alguns dan챌arinos envergam vestes cheias de enfeites (tiras de trapos, peda챌os de sacos, fibras de árvores, penas de águias ou avestruzes, formando uma mistura ardente de cores). Outros, exibem-se mascarados e com o corpo nu, pintados de cinza, argila vermelha ou branca (Mafuta). Nas pernas usam chocalhos, também ostentando várias cores.
Afigura-se importante destacar o carácter sacramental, mítico e secreto do Nyau. Os dois primeiros aspectos manifestam-se através da exibi챌찾o de imagens humanas zoomórficamente configuradas. Estas representam macacos, búfalos, le천es, leopardos, palapalas, pássaros, entre outros animais. Este aspecto leva-nos a inferir tratar-se da manifesta챌찾o da sua religiosidade ou ideologia, dada a deifica챌찾o destes seres, aliás uma conclus찾o a que chegaram os participantes ao 1º Seminário Provincial de Cultura, em Tete, realizada de 2 a 12 de Novembro de 1977. Fundamenta o nosso ponto de vista a rigidez nas atitudes e comportamento que se exige a todas as pessoas que s찾o iniciadas no Nyau, por sinal, um fenómeno ligado ao carácter secreto desta dan챌a.
No que se refere ao secretismo, no Nyau encontramos elementos de resistência à aspectos socialmente exógenos, sejam eles associados à outras culturas, como aos de natureza política. A carga política do Nyau é visível no papel decisivo que os chefes tradicionais, vulgo mafumos tomam relativamente à realização desta manifestação. Com efeito, em nenhumas circunstâncias se admite que o Nyau seja praticado, sem a anuência destes mafumos. Os casos de violação são passíveis de sanções, mais concretamente ao pagamento de multas.
O desenvolvimento do Nyau não é somente associado à invasão dos Nguni, conforme referimos, como igualmente à penetração colonial portuguesa. Relativamente a esta penetração, afirma-se que algumas figuras centrais da dança representam símbolos de resistência. Por exemplo, os macacos pretos, de acordo com certos informantes, ridicularizam a ordem colonial, enquanto o macaco branco de óculos, contestava contra a presença da Igreja Católica, que se supunha pretender substituir-se a religião tradicional local. A figura da Maria “Chadzunda”, que acompanha algumas exibições procura trazer uma nova reflexão, sobre a Virgem Maria, que deu à luz Jesus Cristo, contudo continuando a manter a virgindade.
Refira-se, no entanto que a interpretação do Nyau não é algo pacífico e depende em larga medida da capacidade de decifração dos símbolos e gestos exibidos, sobretudo contextualizados histórica e culturalmente. A título de exemplo a administração colonial demorou muito tempo para compreender o significado desta manifestação. A sua leitura inicial era de que estas figuras e símbolos significavam a condescendência e apreciação aos dirigentes coloniais e à ordem eclesiástica, bem como a hospitalidade destas comunidades.
Anote-se porém, que em 1965 já havia revelações de que esta dança criticava as autoridades administrativas coloniais, conforme uma fonte da época, nomeadamente de Manuel Simões Alberto. Quando a administração colonial se apercebeu do seu significado real, o Nyau passou a ser vigorosamente combatido. Para a sua contínua preservação as comunidades viram-se obrigadas a praticá-lo nas matas, às escondidas, longe dos olhos coloniais e da Igreja Católica.
De salientar que a mesma situação aconteceu nas ex-colónias britânicas, como no Malawi, onde a sua prática viria a ser relançada e encorajada por Kamuzu Banda quando ascendeu a presidência deste país. Na Somália, país que recebeu alguns escravos moçambicanos vendidos, o Nyau é igualmente praticado, havendo fortes indicações de que esta dança foi usada para contestar ou mesmo reivindicar a prática da escravatura. De acordo com Francesca Declich, investigadora que tem estado envolvida em estudos sobre o Nyau na Somália, à semelhança do que aconteceu em Moçambique e países vizinhos da Africa Austral, foi preciso passar muito tempo para que os “donos dos escravos” percebessem que estavam a ser ridicularizados (comunicação pessoal).
O Nyau insere valores educativos, como a preserva챌찾o do meio ambiente, através de restri챌천es no abate de certos animais, visando, certamente o estabelecimento de um equilíbrio na natureza. Fazem parte desta manifesta챌찾o, valores como o respeito pelos mais velhos, a conviv챗ncia social e ainda a resist챗ncia física e valentia, estas últimas incorporadas na ginástica acrobática, como o trepar postes e a locomo챌찾o em fios suspensos, assegurados por estacas. Outro aspecto n찾o de menor import창ncia, é a garantia da reprodu챌찾o cultural das linhagens, manifestamente através da conserva챌찾o de certas institui챌천es tradicionais, como os mafumos e de algumas práticas culturais.
No entanto, é importante anotar que o Nyau insere alguns aspectos que n찾o ajudam ao desenvolvimento das sociedades. No tempo colonial, o seu secretismo severo levou a que muitas crian챌as n찾o frequentassem a escola, alegadamente como um protesto contra o sistema colonial.
Nos nossos dias o Nyau continua a ser praticado depois da época agrícola e por ocasião dos ritos de iniciação femininos “Chinamwali”, de funerais em geral “Maliro ou Malilo”, de ritos associados a funerais de chefes locais “Mbona”, celebração de casamentos e outras festividades.
Essencialmente, em território moçambicano, o Nyau é praticado em oito distritos da província de Tete, nomeadamente Angónia, Furancungo, Macanga, Zumbo, Tsangano, Chiúta, Zóbwe e Moatize. É também praticado na província de Maputo, distrito de Boane, trazido para esta região cidadãos oriundos sobretudo da província de Tete.
Refira-se porém que na actualidade esta manifestação continua a influenciar negativamente o acesso ao ensino, pois algumas crianças são estimuladas mais à sua prática, em detrimento da escola. Por outro lado, as pessoas não iniciadas que se aproximam dos locais onde a dança é praticada, correm o risco de serem espancadas até à morte, alegadamente porque pretendem esvaziar o carácter secreto da dança. As mesmas sanções são aplicadas às pessoas que uma vez iniciadas, desistam do Nyau ou divulguem os seus “segredos”. Em nossa opinião, é nisto que reside em larga medida a força do Nyau, alicerçada por medidas disciplinares reais e visíveis, bem como por medidas mitológicas enquadradas na cosmovisão comunitária.
Neste sentido, é motivo para afirmar que a sociedade de hoje está perante um legado histórico e cultural sobre o qual se impõe a sua reflexão, em prol do desenvolvimento. Em nome da preservação cultural ainda sobrevivem visões, atitudes e práticas que em nada contribuem para o desenvolvimento. Se a nossa marcha é ir para a frente, sem abandonarmos os valores nobres que nos viram nascer e nos educaram, é tempo de expurgarmo-nos de aspectos adversos que escapam à força da ciência e da técnica, sob o risco de sermos julgados pelas próximas gerações.
Deste modo, sem se pretender negar esta dança, o que seria um desastre sociológico, deveríamos encontrar nos seus símbolos, elementos de alento ao desenvolvimento cientifico e tecnológico. Como interpretava a mãe de Eduardo Chivambo Mondlane, quando estimulava a este para ir à escola, é “preciso conhecer o feitiço dos brancos”, para se desenvolver o país.
Na mesma senda, chamando a atenção dos moçambicanos, malawianos e zambianos praticantes do Nyau, participantes ao seminário de reflexão sobre esta manifestação cultural, realizado em Olóngwe, distrito de Angónia, no dia 19 de Abril do ano corrente, o Ministro da Educação e Cultura, Aires Aly, referiu que “o segredo é bom quando nos protege, mas é muito mau e fútil quando se vira contra nós ou está contra o nosso progresso”.
Devido ao risco de desaparecimento a que estão sujeitas muitas expressões culturais, face à globalização e à outros factores, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) decidiu adoptar, em 1997, um programa de proclamação de expressões culturais, como obras – primas da Humanidade.
Assim, em reconhecimento e valorização do grande valor histórico e sócio-cultural do Nyau, reflectido inclusive, na elevada elaboração técnico-científica sobre a importância desta manifestação cultural, produzida por Moçambique, Malawi e Zâmbia, e submetida à UNESCO, esta instituição proclamou a dança NYAU (GULE WANKULU), a 25 de Novembro de 2005, Obra-Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade. A partir desta data, esta dança já não é somente dos moçambicanos, malawianos e zambianos, mas sim, de toda a Humanidade.
FERNANDO DAVA (Director do ARPAC/Instituto de Investiga챌찾o Sócio-Cultural)
http://www.mozambique-music.com/sites/pages/articles/mmm049_noticias.htm


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