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General: MIGUEL TORGA(1907-1995)
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De: mariommarinho1 (Mensaje original) |
Enviado: 06/12/2007 19:55 |
MIGUEL TORGA (1907-1995) - O SER E O PARECER por Hercília Agarez | | (...) N찾o pe챌o aos eventuais leitores que mudem de opini찾o ao ler este artigo. Pe챌o-lhes, isso sim, que leiam Torga. (...) BIOGRAFIA
Sonho, mas n찾o parece. Nem quero que pare챌a. É por dentro que eu gosto que aconteça A minha vida. Íntima, funda, como um sentimento De que se tem pudor. Vulc찾o de exterior T찾o apagado, Que um pastor Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois, Frutos do sonho e dessa mesma vida, É quase à queima- roupa que os atiro Contra a serenidade de quem passa. Ent찾o, já n찾o sou eu que testemunho A gra챌a Da poesia: É ela, prisioneira, Que, vendo a porta da pris찾o aberta, Como chispa que salta da fogueira, Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga, in Orfeu Rebelde
Respondendo ao convite/desafio/sugestão do director deste nosso jornal, começo hoje a ocupar nele, quinzenalmente, um espaço, desta vez imiscuindo-me na vida e na obra de Miguel Torga, cujas comemorações do centenário do nascimento ocorrem no próximo ano. Numa “jogada de antecipação” e como aperitivo, foi realizado um roteiro torguiano de que tive o privilégio de servir de guia.
O que me proponho fazer é contribuir para um maior e melhor conhecimento de um escritor transmontano conhecido por muitos apenas pelo seu proverbial mau feitio. Negar-se a ler Torga por essa raz찾o, é o mesmo que recusar a leitura de Saramago por ele ser comunista ou a do poeta Eugénio de Andrade por ter sido homossexual. Quem assim age, revelando uma atitude primária, n찾o merece sequer o nome de leitor. Para quem encontra prazer nos bons livros, é muito mais importante o que está escrito do que quem os escreveu. N찾o conhe챌o nenhum escritor mais bisonho, mais insociável do que António Lobo Antunes e veja-se o 챗xito editorial dos seus romances, a sair do prelo com invulgar regularidade.
Ninguém, a come챌ar pelo próprio, (Torga) nega algumas das suas facetas comportamentais. Basta ler a sua poesia (releia-se o poema introdutório) e a sua narrativa autobiográfica. Recusava autógrafos, raramente concedia entrevistas, não frequentava eventos sociais, – Sou um solitário solidário, era quase inacessível, aparentava dureza – Eu sou um homem de granito –, reconhecendo tal em versos como: O meu perfil é duro como o perfil do mundo/Quem adivinha nele a graça da poesia? (…)
Seria tudo isso uma carca챌a usada contra investidas indesejáveis, uma camuflagem da sua timidez? Seja como for, a verdade é que o poeta transmitia essa imagem, como pode comprovar-se num episódio ocorrido em Coimbra, na década de cinquenta. A minha irm찾, estudante de Filologia Germ창nica e como tal aluna de Paulo Quintela, entrou numa livraria da baixa onde este se encontrava a conversar com o amigo Torga. Disse-lhe o Professor: - Apresento-lhe uma minha aluna que é transmontana como nós.
Estendeu-lhe a m찾o friamente e de sobrolho carregado: - Desculpe, minha senhora, eu sou rude como as nossas fragas. Digamos habitarem nele duas personalidades distintas – uma, a aparente rudeza, a palavra aspra, a sisudez, a frontalidade assumida, por exemplo, com Mário Soares ao opor-se a decisões por ele tomadas como a adesão de Portugal à Comunidade Europeia e a tentativa da regionalização. O verdadeiro Torga só se revelava na intimidade, rodeado de amigos, ora em sua casa, ora na casa deles. Aí o escritor desafivelava a máscara do homem inacessível, deixando transparecer a sua verdadeira personalidade.
Há cinco anos a estudar a vida e a obra do escritor que é a minha “paixão literária” desde os dezanove anos, a reler a sua diversificada produção artística, a conversar com pessoas que com ele conviveram, tanto gente do seu povo, como pessoas do seu nível intelectual, tirei uma conclusão sobre o ser, oposto ao parecer, resguardado no interior da tal couraça de que atrás falei. Não tenho a veleidade de ter encontrado o busílis da questão, apenas dou conta do que ouvi e li sobre Torga, de modo a que o leitor possa fazer o seu juízo.
Li o que sobre ele disse Eurico de Figueiredo na Assembleia da República, por ocasião do seu definitivo regresso às origens, passei um delicioso pedaço de tarde falando sobre o “Orfeu Rebelde” com o médico António Júlio Monteiro, com direito a bom presunto e a excelente vinho fino, visitado pelo casal na sua Quinta de S. Paio, sou vizinha da Casa do Campo, residência de férias do amigo e companheiro da “Presença”, o advogado João Menéres Campos, onde Torga, durante anos, almoçava, com a família no domingo de Páscoa, sendo sempre referido com afecto pela viúva e pelos filhos.
Conversei ainda com o Sr. Arquitecto Mário de Oliveira, pintor e crítico de arte que conviveu com o artista das letras quando residia em Coimbra e que é autor, entre outras, da caricatura do seu livro de curso, tive um breve diálogo com o filho do Dr. Fernando Vale, ouvi o que dele pensa o Professor Jo찾o Bigotte Chor찾o.
Se as gentes da aldeia (hoje vila) referem a sua total disponibilidade para os atender gratuitamente quando iam consultá-lo, mostram também, embora nem sempre, uma certa compreensão para o seu isolamento. Sabiam que, além de médico, era escritor o seu conterrâneo, sempre a suspirar pela casa nativa onde se refugiava a ler e escrever, usufruindo de uma paz bucólica propícia à reflexão e à escrita. Os outros, os tais do seu mundo intelectual, sublinham traços temperamentais que Eloísa Alvarez, sua tradutora para castelhano, sintetiza assim: (…) “O Torga, para além de um grande contador de histórias, é um conversador extraordinário. O tempo, ao pé dele, passa então sem darmos por isso: anedotas, piadas, divagações, reflexões políticas, morais, históricas, deliciam os que têm a sorte do seu convívio”.
Não peço aos eventuais leitores que mudem de opinião ao ler este artigo. Peço-lhes, isso sim, que leiam Torga. Se são estreantes, aconselho, para começar, a leitura de Bichos. Tenho a certeza de que não vão ficar por aí… | |
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De: mayra1950 |
Enviado: 07/12/2007 05:27 |
| Miguel Torga | Sei um ninho. E o ninho tem um ovo. E o ovo, redondinho, Tem lá dentro um passarinho Novo. Mas escusam de me atentar: Nem o tiro, nem o ensino. Quero ser um bom menino E guardar Este segredo comigo. E ter depois um amigo Que fa챌a o pino A voar... Já comecei a minha "pesquisa e leitura". Adorei-o! Mayra |
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