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General: ATÉ À VISTA ZIMBABWE!
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De: misabelantunes1  (Mensaje original) Enviado: 10/12/2007 04:03
PEDRO FIGUEIREDO*, em Mo챌ambique

"Os cowboys n찾o choram." A frase batida sai tonitruante e cortante
como uma flecha da boca de Arnaldo Gouveia, 72 anos, madeirense de
nascimento mas africano de coração - "são 65 anos de África". Haveria de repeti-la durante a conversa. Bastaram cinco minutos para este português de barriga proeminente negar o adágio do Oeste
norte-americano com que quis dar tom viril ao relato da sua epopeia
africana.

Depois chorou convulsivamente, sentado numa das mesas do seu novo
restaurante, de onde se v챗 uma piscina pintada de fresco sem água e o
Zimbabwe, que come챌a nas montanhas cobertas de vegeta챌찾o e nuvens
cinzentas ao longe.

Enxuga as lágrimas: "Esta agora!" Recomp천e--se. A memória que faz
chorar Arnaldo Gouveia encontra-se por trás das montanhas, a cerca de 18 quilómetros de Manica, no Centro de Moçambique. Estão pejadas de garimpeiros e contrabandistas. É lá que começa um país que se afunda.

É o país onde vivia desde 1957 e que abandonou há três anos e meio.

Arnaldo Gouveia chegou a África aos seis anos, trazido pelo pai. Viveu no Malawi, em Moçambique e na Zâmbia. Na antiga Rodésia britânica,onde conheceu a mulher, também madeirense, fez de tudo: "Vendi peças de carros e acessórios, tive um supermercado, depois um hotel e finalmente um restaurante." Em 2004, vencido pela pressão psicológica que sofria diariamente em Harare, decidiu vender o Arnaldo's, um espaço para 250 pessoas e que "estava quase sempre cheio".

O Arnaldo's era frequentado por algumas das principais figuras do
regime e do exército zimbabwiano. "Iam para o restaurante todos os
dias e quando passavam por mim diziam 'so much money'… 'este
restaurante deve ser uma mina'." Depois o discurso evoluiu: "Isto
agora é nosso."

Arnaldo Gouveia cansou-se: "Vou vender isto, acabou-se." Tr챗s meses
depois, estava em Manica com a mulher. Para trás ficou uma casa "toda montada" em Harare, "com um bar espectacular e uma mesa de bilhar", guardada nestes dias pela cunhada, que permanece na capital do Zimbabwe, a cerca de 300 quilómetros de Manica.

Trocou tudo pela explora챌찾o de um complexo composto por restaurante,piscina com prancha de saltos e um pequeno anexo nas traseiras. Na verdade, trata-se de uma espécie de pens찾o de quartos gastos, onde se toma banho de caneca e balde.

As ementas, onde n찾o faltam as moelas e os bitoques lusitanos, s찾o
ainda as do Arnaldo's. O carro azul parado à porta, que o transportou para o exílio, tem a matrícula amarela do Zimbabwe. Tudo à volta parece provisório, como se estivesse só de passagem por este "oásis" moçambicano.

"Eu n찾o deixei o Zimbabwe. Quero voltar, mas só quando estiver
diferente. Vou fazer o qu챗 para lá agora?", questiona.

A resposta pode estar num saco de plástico, de onde tira cinco ma챌os
de notas novas enroladas com elásticos, iguais a tantas outras que,
nestes dias, se vendem ao longo da estrada que serpenteia montes e
vales até à fronteira de Machipanda. São vários milhões de dólares
zimbabwianos, que há alguns anos faziam deste portugu챗s de sotaque
madeirense um homem rico. "Um papo-seco custa 100 mil dólares (2,27 euros). Um rolo de papel higiénico mais de um milh찾o (22,7 euros). Com 20 milh천es (455 euros) compro um quilo de carne. A minha mulher trabalhou 36 anos no Barclays e tem uma reforma de sete milh천es (159 euros)."

Arnaldo Gouveia prossegue: "Tinha o dinheiro a juros e perdi tudo,
como centenas de outros." Move-o a esperança de cruzar novamente as montanhas que preenchem o horizonte visível. "Quando desaparecer o [Robert] Mugabe, bastam três ou quatro meses e aquilo arranca outra vez. Conheço muita gente que está aqui só à espera de voltar",
assegura. E dispara, no mesmo tom de duro com que come챌ou a conversa. "Sou um tipo teimoso, é o meu feitio."

O medo que atravessa a fronteira

É medo puro e esmagador que está estampado no rosto de Kevin (nome
fictício), 57 anos, "farmeiro" (do ingl챗s farmer) que, como milhares
de outros fazendeiros brancos, foi for챌ado a entregar as suas terras
ao Estado, ao abrigo da reforma agrária decretada por Robert Mugabe em Fevereiro de 2000.

Ao longo da conversa, que decorre na sua quinta nos arredores de
Manica, este agricultor alto e esguio, de olhos azuis e cabelo branco,
fuma vários cigarros. Fala em surdina como se, por detrás dos
arbustos, alguém estivesse a escutar. "Vou estar em muito maus len챌óis se perceberem que sou eu a falar", justifica. No Zimbabwe permanecem alguns familiares próximos.

Filho de um ingl챗s e de uma alem찾 - "o meu pai tirou a minha m찾e da
Alemanha mesmo antes de Hitler tomar o poder", recorda -, Kevin nasceu na antiga Rodésia, onde viveu até 2001 na quinta que já era dos seus pais.

Nesse ano, como a outros quatro mil "farmeiros" brancos do Zimbabwe, foi-lhe dado um prazo para entregar a sua propriedade - uma quinta de 12 mil hectares, onde n찾o faltavam pequenas barragens, com mais de 300 pessoas e que produzia bananas, líchias, tabaco, animais, quase tudo para exporta챌찾o.

O que se seguiu, em 2001, ainda hoje assom- bra os dias deste
fazendeiro. "Chegavam ca- miões cheios de gente, que era descarregada à porta da quinta", recorda. "Acampavam ali. À noite faziam fogueiras e cantavam. Não conseguíamos dormir. Um dia entraram e levaram-me."

Depois veio a expropria챌찾o e o "salto" para a regi찾o de Manica, que já conhecia. "N찾o foi nada agradável o que se passou lá em cima.
Basicamente tiraram-nos tudo", atalhou.

Kevin faz, porém, um par챗ntesis no relato de uma desgra챌a colectiva.
"O grande problema foi os 'farmeiros' brancos terem-se metido em
política e apoiarem o MDC (oposi챌찾o). Se n찾o tivesse sido assim, a
maioria de nós ainda hoje lá estaria." Um problema sem recuo porque
n찾o acredita que algum dia seja possível resgatar o passado. "De onde
viria o dinheiro para p척r tudo aquilo de pé outra vez? Seriam precisos bili천es e bili천es!", exclama.

Kevin diz-se feliz na sua quinta mo챌ambicana de 260 hectares - 46
vezes menor que a sua antiga propriedade no Zimbabwe -, onde
lentamente refaz uma exist챗ncia perdida. "Podemos chorar e desejar
isto ou aquilo, mas a vida é mesmo assim e lamentar n찾o vai trazer as
nossas coisas de volta. Já lá voltei uma ou duas vezes, mas n찾o tenho
interesse nenhum em regressar", garante. "Prefiro ficar aqui. Aqui
ninguém quer saber quem tu és. És apenas uma pessoa."

Vender 'Cerelac' de dia e o corpo à noite

Cheira a bafio e a urina, que tornam ainda mais pesado o pequeno átrio de minúsculos quartos improvisados de tectos baixos, como uma colmeia, onde cabe pouco mais que uma cama. Est찾o separados por cortinas sujas ou por paredes de madeira, erguidas. Há tampas de cerveja e beatas espalhadas pelo ch찾o.

Para se chegar a Memory Chitima é preciso primeiro mergulhar no
submundo de Chimoio, a primeira cidade depois de se cruzar a fronteira montanhosa de Machipanda. Ao entrar no Centro Social 25 de Setembro, no rés-do-ch찾o de um prédio velho, há que atravessar um corredor estreito e escuro e enfrentar o olhar hostil dos cinco homens e mulheres, sentados em cadeiras de plástico, que bebem cerveja no exíguo bar de paredes sujas em que se desagua.

É a partir desta última fronteira que se concentram mulheres
zimbabwianas à procura em Moçambique do sustento que lhes foi roubado pela crise no seu país natal. Mulheres que vendem no mercado local de dia e se prostituem à noite, numa dicotomia que se vulgariza nestas paragens.

Memory Chitima, 22 anos, natural de Mutare, fala em voz baixa, em
dialecto shawna, enquanto folheia com os dedos finos e unhas de verniz estalado um manual de telemóvel em línguas que n찾o conhece.

Veste cal챌as jeans e casaco preto de camur챌a, com p챗lo cinzento na
gola - está frio em Chimoio. "Vendo temperos e Cerelac", come챌a por
afirmar. "Uma amiga disse-me que em Mo챌ambique a vida estava mais
facilitada."

Memory Chitima percorre agora mais depressa as páginas do manual. Os olhos, de uma tristeza funda, fixam-se, do princípio ao fim da
conversa, no pequeno livro branco. Com o que ganhou na cidade
mo챌ambicana, onde, assegura, está há uma semana, mandou sab찾o e sal
para os pais, que vivem em Mutare, a quarta maior cidade do Zimbabwe, a cerca de oito quilómetros da fronteira.

"Sim, sei que neste lugar ocupam os quartos para prostitui챌찾o",
declara. Por detrás da cortina que separa o seu "quarto" da divis찾o
vizinha ouvem-se gemidos e uma cama a ranger. "Sei que cobram 30
meticais (cerca de um euro) sem preservativo e um pouco menos com
preservativo." Os gemidos aumentam de intensidade. "Sim, fui deitar-me com alguns homens, que pagaram 50 meticais (1,3 euros), mas sempre com preservativo e só porque insistiram muito", acaba por dizer. "N찾o optaria por este caminho", assegura. "Quando come챌ar a sentir as dificuldades em Mo챌ambique, se calhar regresso ao Zimbabwe."|

*Jornalista da ag챗ncia Lusa


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Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 2 de 5 en el tema 
De: espadinha1940 Enviado: 10/12/2007 04:14
Depois de ler isto tive vontade de dizer coisas terríveis desse senhor Mugabe! Às vezes temos de nos conter, porque somos educados...
Espadinha

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 3 de 5 en el tema 
De: espadinha1940 Enviado: 10/12/2007 04:14
Depois de ler isto tive vontade de dizer coisas terríveis desse senhor Mugabe! Às vezes temos de nos conter, porque somos educados...
Espadinha

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 4 de 5 en el tema 
De: espadinha1940 Enviado: 10/12/2007 04:14
Depois de ler isto tive vontade de dizer coisas terríveis desse senhor Mugabe! Às vezes temos de nos conter, porque somos educados...
Espadinha

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 5 de 5 en el tema 
De: mariaisabelribeiro1 Enviado: 10/12/2007 12:43
COMO É TRISTE VER IMPOTENTE A LOURA QUE PROVOCA O PODER AQUI OU ALI SE REPETE.



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