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CONTOS: JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA - POR GRAZIELA VIEIRA
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De: manuelnhungue  (Mensaje original) Enviado: 13/12/2007 00:34

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA


Numa pequena cidade nortenha, o João Pirisca contemplava embevecido uma montra profusamente iluminada, onde estavam expostos muitos dos presentes e brinquedos alusivos à quadra festiva que por todo o Portugal se vivia. Com as mãos enfiadas nos bolsos das calças gastas e rotas, parecia alheio ao frio cortante que se fazia sentir.

Os pequenos flocos de neve, quais borboletas brancas que se amontoavam nas ruas, iam engrossando o gigantesco manto branco que tudo cobria. De vez em quando, tirava rapidamente a m찾o arroxeada do bolso, sacudindo alguns flocos dos cabelos negros, e com a mesma rapidez, tornava a enfiar a m찾o no bolso, onde tinha uma pontas de cigarros embrulhadas num peda챌o de jornal velho, que tinha apanhado no ch찾o do café da esquina.

Os seus olhitos negros e brilhantes, contemplavam uma pequena boneca de cabelos loiros, olhos azuis e um lindo vestido de princesa. Era a coisa mais linda, que os seus dez anos tinham visto.

Do outro bolso, tirou pela milésima vez as parcas moedas que o Ti Xico lhe ia dando, de cada vez que ele o ajudava na distribuição dos jornais. Não precisou de o contar... Demais sabia ele que, ainda faltavam 250$00, para chegar ao preço da almejada boneca: Rai de Sorte, balbuciava; quase dois meses a calcorrear as ruas da cidade a distribuir jornais nos intervalos da 'scola, ajuntar todos os tostões, e não consegui dinheiro que chegue p'ra comprar aquela maravilha. Tamén, estes gajos dos brinquedos, julgam q'um home não tem mais que fazer ao dinheiro p'ra dar 750 paus por uma boneca que nem vale 300: Rais os parta. Aproveitam esta altura p'ra incher os bolsos. 'stá decidido; não compro e pronto.

Contudo n찾o arredava pé, como se a boneca lhe implorasse para a tirar dali, pois que a sua linhagem aristocrática, n찾o se sentia bem, no meio de ursos, lobos e c찾es de peluxe, bem como comboios, tambores, pistolas e tudo o mais que enchia aquela montra, qual paraíso de sonhos infantis.

Pareceu lhe que a boneca estava muito triste: Ao pensar nisso, o João fazia um enorme esforço para reter duas lágrimas que teimavam em desprender se dos seus olhitos meigos, para dar lugar a outras.

C'um raio, (disse em voz alta), os homes num choram; quero lá saber da tristeza da boneca. Num assomo de coragem, voltou costas à montra com tal rapidez, que esbarrou num senhor já de idade, que sem ele dar por isso, o observava há algum tempo, indo estatelar se no chão. Com a mesma rapidez, levantou se e desfazendo se em desculpas, ia sacudindo a neve que se introduzia nos buracos da camisola velha, enregelando lhe mais ainda o magro corpito.

Olha lá ó miúdo, como te chamas?

Jo찾o Pirisca, senhor André, porqu챗?

João Pirisca?... Que nome tão esquisito, mas não interessa, chega te aqui para debaixo do meu guarda chuva, senão molhas ainda mais a camisola.

N찾o faz mal senhor André, ela já está habituada ao tempo.

Diz me cá: o que é que fazias há tanto tempo parado em frente da montra, querias assaltá la?

Eu? Cruzes credo senhor André, se a minha mãe soubesse que uma coisa dessas me passava pela cabeça sequer, punha me três dias a pão e água, embora em minha casa, pouco mais haja para comer.

Ent찾o!, gostavas de ter algum daqueles brinquedos, é isso?

Bem... lá isso era, mas ainda faltam 250$00 p'ra comprar.

Bom, bom; estás com sorte, tenho aqui uns trocos, que devem chegar para o que queres. E deu lhe uma nota novinha de 500$00.

0 João arregalou muito os olhos agora brilhantes de alegria, e fazendo uma vénia de agradecimento, entrou a correr na loja dos brinquedos. Chegou junto do balcão, pôs se em bicos de pés para parecer mais alto, e gritou: quero aquela boneca que está na montra, e faça um bonito embrulho com um laço cor de rosa.

ó rapaz!, tanto faz ser dessa cor como de outra qualquer, disse o empregado que o atendia.

ómessa, diz o Jo찾o indignado; um home paga, é p'ra ser bem atendido.

N찾o querem lá ve ro fedelho, resmungava o empregado, enquanto procurava a fita da cor exigida.

0 senhor André que espiava de longe ficou bastante admirado com a escolha do Jo찾o, mas n찾o disse nada.

Depois de pagara boneca, meteu a debaixo da camisola de encontro ao peito, que arfava de alegria. Depois, encaminhou se para o café.

Quero um maço de cigarros daqueles ali. No fim de ele sair, o dono do café disse entre dentes: Estes miúdos d'agora; no meu tempo não era assim. Este, quase não tem que vestir nem que comer, mas ao apanhar dinheiro, veio logo comprar cigarros. Um freguês replicou:

Também no meu tempo, n찾o se vendiam cigarros a crian챌as, e voc챗 vendeu-lhos sem querer saber de onde vinha o dinheiro.

Indiferente ao diálogo que se travava nas suas costas, o Jo찾o ia a meter os cigarros no bolso, quando notou o pacote das piriscas que lá tinha posto. Hesitou um pouco, abriu o peda챌o do jornal velho, e uma a uma, foi deitando as pontas no caixote do lixo. Quando se voltou, deu novamente de caras com o senhor André que lhe perguntou.

Onde moras Jo찾o?

Eu moro perto da sua casa senhor. A minha, é uma casa muito pequenina, com duas janelas sem vidros que fica ao fundo da rua.

Ent찾o é por isso que sabes o meu nome, já que somos vizinhos, vamos andando que se está a fazer noite.

É verdade senhor e a minha mãe ralha me se não chego a horas de rezar o Terço.

Enquanto caminhavam juntos, o senhor André perguntou:

- ó João, satisfazes me uma curiosidade?

- Tudo o que quiser senhor.

- Porque te chamas Jo찾o Pirisca?

- Ah... Isso foi alcunha que os miúdos me puseram, por causa de eu andar sempre a apanhar pontas de cigarros.

A tua m찾e sabe que tu fumas?

Mas .... mas .... balbuciava o Jo찾o corando até a raiz dos cabelos; Os cigarros s찾o para o meu av척zinho que n찾o pode trabalhar e vive com a gente, e como o dinheiro é pouco...

Ent찾o quer dizer que a boneca!...

É para a minha irmã que tem cinco anos e nunca teve nenhuma. Aqui há tempos a Ritinha, aquela menina que mora na casa grande perto da sua, que tem muitas luzes e parece um palácio com aquelas 'státuas no jardim grande q'até parece gente a sério, q'eu até tinha medo de me perder lá dentro, sabe?

Mas conta lá Jo찾o, o que é que se passou com a Ritinha?

Ah, pois; ela andava a passear com a criada elevava uma boneca muito linda ao colo; a minha irmã, pediu lhe que a deixasse pegar na boneca só um bocadinho, e quando a Ritinha lha estava a passar p'ras mãos, a criada empurrou a minha irmãzinha na pressa de a afastar, como se ela tivesse peste. Eu fiquei com tanta pena dela, que jurei comprar lhe uma igual logo que tivesse dinheiro, nem que andasse dois anos a juntá lo, mas graças à sua ajuda, ainda lha dou no Natal.

Mas ó Jo찾o, o Natal já passou. Estamos em véspera de Ano Novo.

Eu sei; mas o Natal em minha casa, festeja se no Ano Novo, porque dia de Natal, a minha mãe e o meu avô paterno, fartam se de chorar.

Mas porqu챗?

Porque foi precisamente nesse dia, há quatro anos, que o meu pai nos abandonou fugindo com outra mulher e a minha pobre mãe, farta se de trabalhar a dias, para que possamos ter que comer.

Despedíram se, pois estavam perto das respectivas moradas.

Depois de agradecer mais uma vez ao seu novo amigo, o João entrou em casa como um furacão chamando alto pela mãe, a fim de lhe contar a boa nova. Esta, levou um dedo aos lábios como que a pedir silêncio. Era a hora de rezar o Terço antes da parca refeição. Naquele humilde lar, rezava se agradecendo a Deus a saúde, os poucos alimentos, e rogava se pelos doentes e por todos os que não tinham pão nem um tecto para se abrigar., sem esquecer de pedir a paz para todo o mundo.

Parecia ao João, que as orações eram mais demoradas que o costume, tal era a pressa de contar as novidades alegres que trazia, e enquanto o avô se deleitava com um cigarro inteirinho e a irmã embalava nos seus bracitos roliços a sua primeira boneca, de pronto trocada pelo carolo de milho que fazia as mesmas vezes, ouviram se duas pancadas na porta. A mãe foi abrir, e dos seus olhos cansados, rolaram duas grossas e escaldantes lágrimas de alegria, ao deparar com um grande cesto cheinho de coisas boas, incluindo uma camisola novinha para o João.

Não foi preciso muito para adivinhar quem era esse estranho Pai Natal que se afastava a passos largos, esquivando se a agradecimentos.

A partir daí, acrescentou se ao número das orações em família, mais uma pelo senhor André.

MENÇÃO HONROSA

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA”

GRAZIELA VIEIRA


CMARA MUNICIPAL DE ALCANENA

JUNHO 1995




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