Êxodo devido às chuvas ameaça vale do Zambeze
PEDRO FIGUEIREDO, Maputo
As duas cheias consecutivas que assolaram o centro de Moçambique em 2007 e 2008 poderão culminar no êxodo de mais de 250 mil pessoas ao longo de todo o vale do Zambeze e à reconfiguração da própria região. No ano passado, a subida das águas do rio Zambeze tinha já levado à deslocação de cerca de 160 mil pessoas na região. Este ano, a contagem oficial já superou as 90 mil. Estima-se que habitem no vale do Zambeze cerca de 260 mil pessoas.
Na maioria, os deslocados das cheias, habitantes das zonas baixas do vale, foram acolhidos em "centros de reassentamento" (o termo "acomoda챌찾o", usado em 2007, foi abandonado por sugerir transi챌찾o).
O objectivo do Governo, disse João Ribeiro, director-adjunto do Instituto Nacional de Gestão das Calamidades de Moçambique, é "motivar as pessoas" a "fixarem-se" nesses locais e "não voltarem às zonas de risco". Para tal têm dado aos recém-chegados "talhões" de terra. Está a ser equacionada a substituição das construções de madeira e caniço por casas de tijolo, bem como o fomento da agricultura e artesanato.
Tal como em 2007, o maior desafio às autoridades moçambicanas será contrariar o regresso de milhares de pessoas, na maioria pequenos agricultores, às zonas baixas, às quais estão ligados há gerações e que garantem terras mais férteis.
Uma tens찾o que Jo찾o Jonas, chefe do posto administrativo de Chupanga - que em 2007 albergou um dos maiores centros de acomoda챌찾o -, descreve de forma eloquente: "As pessoas gostam de viver onde se faz machamba (terra de cultivo). Depois a cabana que fizeram, a própria machamba, tudo está cercado de água".
E há quem considere, como o padre espanhol Fernandez Prieto, responsável pela miss찾o de Murra챌a, que o 챗xodo era evitável através da melhor gest찾o das descargas da barragem de Cahora Bassa. "Eles é que deviam pagar as casas destruídas", diz o religioso. Em Murra챌a desde 1967, este padre de Córdoba vai mais longe: "Há uma inten챌찾o do Governo de tirar aquela gente dali."
"Isso n찾o é verdade", refuta Jo찾o Ribeiro, elogiando a hidroeléctrica de Cahora Bassa pela gest찾o que tem feito das descargas em direc챌찾o ao vale do Zambeze.|LUSA