Página principal  |  Contacto  

Correo electrónico:

Contraseña:

Registrarse ahora!

¿Has olvidado tu contraseña?

CAFEZAMBEZE
 
Novedades
  Únete ahora
  Panel de mensajes 
  Galería de imágenes 
 Archivos y documentos 
 Encuestas y Test 
  Lista de Participantes
 INICIO 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 
 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 
 
  Herramientas
 
CONTOS: UM RECADO PARA OS PAIS - POR GRAZIELA VIEIRA
Elegir otro panel de mensajes
Tema anterior  Tema siguiente
Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 1 de 1 en el tema 
De: manuelnhungue  (Mensaje original) Enviado: 20/03/2008 00:28

UM SUPORTE PARA CHAVES


-M찾ezinha, já posso ir para casa do Jo찾o? E antes que a m찾e fizesse a repetida pergunta de todos os dias, o Pedrito foi logo acrescentando: Já fiz os trabalhos escolares.

-Pois sim filho, mas n찾o venhas tarde porque hoje é sábado.

-Eu sei m찾e, até logo. Acto contínuo, atirou um beijo na ponta dos dedos enquanto dizia:

- Hoje vou preparar uma surpresa para o meu pai. Será que ele vai gostar da surpresa? Interrogava-se o Pedrito, enquanto se encaminhava por um atalho que ia dar a casa do seu amigo Jo찾o.

Estava-se a 19 de Mar챌o; era o dia do Pai.

As primeiras andorinhas cruzavam os céus com os seus melodiosos gorjeios, anunciando a estação de que o Pedrito mais gostava. – Como é linda a Primavera! Ia pensando, enquanto os seus olhos azuis verrumavam as copas das árvores, ás quais o rigoroso Inverno havia roubado as vestes doiradas, mas que agora se alindavam nos seus mais belos trajes verdes matizados. Por fim, conseguiu vislumbrar o que tanto procurava.

No entrela챌ado caprichoso de dois ramos de madressilva, divisou um ninho de melro.

Tenho que contar ao Jo찾o, e viremos v챗-lo amanh찾. Hoje n찾o temos tempo, pensou.

Por sua vez, o Jo찾o já tinha encontrado um de pintassilgo, quase acabado de fazer. Todos os anos, o Pedrito e o Jo찾o, gostavam daquele despique. Era ver quem achava mais ninhos. N찾o para os destruir, como outros faziam, eles apreciavam demais as melodias das aves em liberdade, o que os tornava incapazes de lhes destruir os ninhos; mas aquela espécie de jogo, a ver quem achava mais, divertia-os muito.

Desviou a vista para contemplar as abelhas, que, numa espécie de dan챌a louca, iam de flor em flor, com que a grande amendoeira se vestia todas as Primaveras a lembrar flocos de neve.

Veio-lhe á lembrança o ano anterior, quando cheio de alegria, cortara uns ramitos à amendoeira florida, para oferecer ao pai no dia de S. José. Quando esperava um sorriso de agradecimento, apenas obtivera uma resposta seca:

-Julgas que sou alguma senhora para me ofereceres flores? – Além disso, deste-te conta de quantas amêndoas estragas-te? Se a amendoeira fosse minha, punha-te de castigo.

Quanto tempo, e lágrimas, gastara, a tentar contar as flores na solid찾o do seu quarto, a fim de saber quantas am챗ndoas se tinham perdido. Valera-lhe o consolo da m찾e tempos depois, que, além de lhe elogiar e inten챌찾o, lhe assegurara, que nem todas as flores correspondiam a outras tantas am챗ndoas, aproveitando para lhe dar uma li챌찾o de Bot창nica.

Tinha gostado da li챌찾o da m찾e mas, sentir-se-ia muito mais feliz se fosse o pai a faz챗-lo. Apesar de tudo, ele tinha apanhado as flores para ele; mas parecia que o pai, nunca tinha tempo de lhe dar qualquer tipo de explica챌천es. Os seus nove anos, n찾o atinavam com as raz천es que seu pai invocava para repelir as suas mais inocentes perguntas. Adiava sempre as respostas quando lhe perguntava porque só vinha a casa aos sábados e nunca tomava as refei챌천es em casa; argumentava que os seus inúmeros negócios n찾o lhe deixavam tempo livre para passear com ele, ou ajudá-lo nos trabalhos escolares. Raramente lhe fazia um afago carinhoso.

Como um cronómetro, o “Mercedes” que o transportava parava em frente da sua moradia todos os sábados às dezassete horas. Depois de um beijo rápido e de um presente caro, ia para a sala com sua mãe, onde quase sempre discutiam. Mais ou menos uma hora depois, saia batendo com a porta, muitas vezes sem se despedir dele.

Quase sempre, depois de o pai sair, via sua m찾e com os olhos vermelhos e marejados de lágrimas que tentava disfar챌ar.

-Porque chora m찾ezinha?

- Um dia te contarei meu filho, quando tiveres idade para compreender.

Tantas vezes ouvira a repetida resposta, que deixara de fazer perguntas, embora lhe doesse a alma ao contemplar a permanente tristeza do rosto, ainda jovem, de sua m찾e.

Na sua inocência, pensava que o pai ainda estava zangado com ele por causa das flores da amendoeira. A partir de hoje, tudo vai mudar com a surpresa que lhe estou a preparar. Ao lembrar-se disso, recomeçou a caminhada em direcção à casa do João pois não queria que o pai desse pela sua falta, às cinco horas da tarde.

Entrou em casa do Jo찾o, e depois de dar as boas tardes, os dois amigos, de imediato, se lan챌aram ao trabalho. Deitaram m찾os aos pregos, martelos, serras pequenas e um peda챌o de madeira, a fim de fazer um suporte para chaves, com o desenho do Pato Donald, que o Pedrito pretendia oferecer ao pai. Depois de muito trabalho a serrar, pregar e pintar, come챌aram a admirar a obra já pronta. Estava bonita no entender das duas crian챌as. Tinha grampos para dependurar tr챗s chaves, embora o Pato Donald, fosse mais parecido a um peixe com orelhas.

-O teu pai vai ficar muito contente com a tua prenda, disse o Jo찾o. O Pedrito acreditou. O seu amigo, sempre tinha mais experi챗ncia pois já tinha feito dez anos; e se ele dizia que estava bonito, é porque estava. Embrulhou o presente num peda챌o de papel, que a m찾e do Jo찾o lhe dera, e na falta de um la챌o bonito, atou-o com o cordel com que o Jo찾o fazia girar com perícia o pi찾o, que o pai lhe fizera, prometendo devolv챗-lo no dia seguinte.

Quando se aproximava de casa, viu que o carro do pai já lá estava. Alinhavando mentalmente uma desculpa plausível, dirigiu-se para a sala onde sabia que encontraria o pai.

A costumada discuss찾o, geralmente proferida em voz baixa, estava no auge; só que desta vez, ouvia-se por toda a casa.

Estarrecido, o Pedrito aquietou-se perto da porta, ouvindo atónito a discuss찾o dos pais.

-Já te disse Madalena: O Pedrito vai para a Capital para casa de minha irm찾, para ver se aprende a ser homem já que tu n찾o tens capacidade de o educar.

-N찾o me tires o meu filho. N찾o tens esse direito.

-Esqueces que também é meu filho e que eu quero que ele se torne num homem de verdade? Ao pé de ti, nunca o será.

-Mas n찾o o será porqu챗? Em que tenho eu errado na sua educa챌찾o? Gritava a D. Madalena:

-Nos concelhos que lhe dás, por exemplo. Enquanto eu lhe digo que se ele tiver dois escudos, fa챌a de tudo para conseguir outros dois, tu dizes-lhe que se tiver dois, d챗 um a quem n찾o tem nenhum. Julgas que é assim que ele consegue ser alguém na vida? E n찾o é só isso; em vez de lhe escolheres os amigos, do nosso meio social, deixa-lo sempre ir brincar para aquela choupana imunda do Jo찾o. Julgas que eu n찾o tenho quem me conte as coisas?

-Estás a ser injusto, Antunes. Os pais do Jo찾o podem ser pobres, mas a casa deles brilha de asseio. Além disso, sobeja-lhe a paz e a alegria que falta na nossa, onde o dinheiro nem tudo compra, ao invés do que tu pensas. Que direito tens tu de interferir nas amizades do nosso filho se nem lhe dás aquilo que ele mais precisa?

Entre atónito e indignado, pois nunca a esposa se atrevera a falar-lhe naqueles termos, o marido replicou:

-Ora essa; alguma vez lhe faltou mesa farta, as melhores roupas ou os brinquedos mais caro?

Qual leoa que se apressa a defender os filhotes dum inimigo, a D. Madalena gritou.

-Onde estás nos momentos em que ele precisa de um amigo? Onde estás nas horas das refei챌천es que deviam ser sagradas em todas as famílias dignas desse nome? Onde estás quando ele tem pesadelos e chama por ti de noite? Depressa se dará conta, de que n찾o s찾o os teus negócios os culpados da falta de tempo que n찾o tens para ele.

A paci챗ncia do Sr. Antunes, atingiu o limite e vociferou:

É por essas e por outras, que ele vai para casa da minha irmã, até o nosso divórcio estar resolvido, o que espero seja ainda este mês. Não suporto mais as tuas lamúrias, nem as ideias que incutes na cabeça do pequeno que só servem para fazer dele um falhado para a vida, em vez do grande homem que eu quero que ele seja para me suceder nas empresas e ponto final na conversa.

A D. Madalena deixou-se cair no sofá desanimada; demais conhecia ela o marido, para saber que os seus argumentos mais válidos o n찾o demoveriam da sua inflexível prepot챗ncia.

O Pedrito entrou na sala, sem bater, e rojou-se aos pés do pai implorando: Para casa da tia não, paizinho! Deixe-me ficar com a mãe e eu prometo que não vou mais para casa do João. Vou estudar muito, não saio mais de casa, não dou nada aos pobres e fico sempre à sua espera.

Abra챌ava as pernas do pai com um bra챌o, enquanto o outro estava atrás das costas, escondendo o seu delito, ou seja, o suporte para chaves, que fizera com tanto empenho para lhe oferecer nesse dia.

-Levanta-te; és um homem ou um mariquinhas? Limpa já essas lágrimas indignas de um homem.

Ao procurar um len챌o para limpar as lágrimas, o Pedrito deixou cair o embrulho que tentava agora, em v찾o, esconder do pai.

Vendo o cordel um tanto desfiado que atava o papel devotado, o pai perguntou:

-Que porcaria é essa?

Por mais que tentasse estancar as lágrimas, as mesmas teimavam escorrer como cascatas dos lagos azuis, que eram os lindos olhos do Pedrito.

-Pára já com a choradeira e responde. Que porcaria é essa?

-É…era…é, balbuciava o Pedrito, cada vez mais atrapalhado, era uma prenda que eu fiz para si por ser o dia do pai, mas não se zangue mais que eu vou já deitá-la ao lixo.

-Se é para mim, dá cá; respondeu o pai agora um pouco mais calmo. Ao abrir o presente, reparou que tinha caído no ch찾o um pequeno peda챌o de papel que se apressou a apanhar pois reconhecera nele a infantil letra do filho.

-Foste tu que fizeste?

-Fui sim paizinho, com a ajuda do Jo찾o.

Contra todas as expectativas, o pai guardou o papel no bolso, meteu o embrulho no carro e foi-se embora sem se despedir.

-O que tinhas escrito no papel? Perguntou a m찾e mal o marido saíra.

-Como a m찾e do Jo찾o tem muito jeito para inventar cantigas, pedi-lhe para me ajudar a fazer uma quadra para oferecer ao pai, junto com o presente. Ela o ano passado, inventou uma para o Jo찾o dar ao pai dele que dizia assim:


Toda a tristeza e cansa챌o

Dos olhos meigos se esvai

Quando sento no rega챌o

Do meu adorado pai.


O pai dele ficou tão contente, que até andou com ele às cavalitas. Mostrava a quadra a toda a gente, cheio de orgulho, dizendo que o seu João havia de ser um grande poeta. Eu pedi-lhe que inventasse uma para o meu pai, a ver se ele também ficava contente, mas, como a mãezinha viu, não valeu de nada.

-Nunca se sabe o que Deus nos reserva filho. Não devemos perder a esperança. Lembras-te da quadra que escreveste? És capaz de ma recitar?

-É claro que sou: recitei-a tantas vezes que a decorei. É assim:


Ó meu paizinho adorado

Aquilo que eu mais queria

Era estar sempre a teu lado

Seres a minha companhia.


-Muito bonito e a propósito, elogiou a D. Madalena.

O jantar, decorreu silencioso e triste como já vinha sendo usual, ficando mãe e filho entregues às suas reflexões.

Na manhã do dia seguinte, surpreendeu-se o Pedrito ao ver o carro do pai parado junto ao portão, de onde retirava duas enormes malas. Correu à cozinha e chamou a mãe.

-M찾ezinha!... O pai já me vem buscar para casa da tia, mas n찾o se preocupe que eu fujo de lá. Meto-me no comboio e venho ter consigo.

Ouvia-se já a voz do Sr. Antunes ordenando à empregada.

-Leva as malas para o quarto.

Na m찾o, trazia o suporte para chaves que dependurou em local de destaque na sala. Deu ao Pedrito, atónito, um grande ramo de flores de amendoeira, enquanto lia pela milésima vez, no pedacito de papel, a quadra que o filho escrevera inventada pela m찾e do Jo찾o, que n찾o conhecendo uma letra do tamanho de um boi, no dizer do povo, inventava quadras na cabe챌a de um alfinete.

M찾e e filho, contemplavam mudamente a cena, até que o Sr. Antunes disse para o filho.

-De hoje em diante, vou tentar arranjar tempo para te fazer companhia. Piscando o olho à esposa, disse baixinho: -Já não há divórcio.

O Pedrito, N찾o sabia se tinha sido p천e causa do suporte para as chaves, se da quadra, se dos argumentos da m찾e. Só sabia que o pai voltava para casa e sentia-se o mais feliz dos rapazes do mundo.



Graziela Vieira



Primer  Anterior  Sin respuesta  Siguiente   Último  

 
©2025 - Gabitos - Todos los derechos reservados