Lisboa (Canal de Mo챌ambique) - Há que chegar a Mo챌ambique com uma perspectiva de longo prazo. Esta foi a opini찾o dos empresários reunidos no observatório em Maputo do Diário Económico (um jornal portugu챗s do qual extraímos com a devida vénia esta pe챌a). O desenvolvimento de Moçambique passa pelos grandes projectos como a Ponte sobre o Zambeze, a maior obra desde a independência do país, mas isso não chega. Um investimento - são 66 milhões de euros - que mobiliza investidores, cria emprego, dá um impulso à economia, mas não é suficiente para arrancar Moçambique do estado de pobreza onde falta quase tudo menos recursos naturais. O antigo ministro das Finanças moçambicano e ex-presidente do BCI Fomento deixou a sua ideia sobre o que seria do país daqui a 10 anos se se deixasse o crescimento entregue apenas aos mega-projectos. “As empresas crescerão, os bancos também, mas as pessoas não ficarão necessariamente mais ricas”, alertou Abdul Magid Osman durante o Observatório que o Diário Económico realizou em Maputo, na terça-feira, e que serviu para juntar empresários e gestores de Portugal e de Moçambique num debate sobre os investimentos e as relações comerciais entre os dois países. O verdadeiro projecto que falta também a Moçambique é o da criação de uma rede sólida de pequenas e médias empresas. Só assim será possível “tornar mais abrangente e distribuir a riqueza que se for criando”, sublinhou Prakash Ratilal, antigo governador do Banco de Moçambique e actual presidente do Moza Banco, um investimento do empresário macaense Stanley Ho. Na sua opinião, “as grandes empresas deveriam arrastar as PME porque, se não, Moçambique terá apenas picos de desenvolvimento”. E isso, sublinha, não conseguirá acabar de vez com os tumultos sociais como o que se viveu no início de Março, com a guerra dos “chapas” que acabaram por obrigar o Governo moçambicano a recuar no aumento do preço dos combustíveis. Segundo estes economistas moçambicanos, Portugal tem um bom sistema de PME, que deveria ser exportado para Moçambique. “É aqui que Portugal e a União Europeia podem colaborar, ajudar à criação de uma classe média moçambicana. Os empresários portugueses deveriam aproximar-se, o país deve ser olhado como uma espécie de plataforma para um mercado de 200 milhões de pessoas que vivem no espaço da Southern African Development Community (SADC)”, frisou Prakash Ratilal. Uma ideia enfatizada por outro empresário moçambicano. Joaquim de Carvalho, presidente da TDM – Telecomunicações de Moçambique, para quem “os grandes projectos bastam-se a si próprios, andam sozinhos”. Segundo defende, Moçambique irá continuar a crescer – “é um país de oportunidades”, como bem referiu Abdool Vakil, presidente do Banco Efisa -, mas, sobretudo, à custa dos grandes projectos, e “isso preocupa, preocupa verificar que actualmente a produtividade no sector agrícola, sustentáculo da economia, se mantém praticamente aos níveis de 1975”. O investimento estrangeiro é, por isso, vital para o desenvolvimento de Moçambique. Mas, conforme alertaram vários dos participantes no Observatório do Diário Económico, não se pode tratar de um investimento qualquer. Há que chegar ao país com uma perspectiva de longo prazo, e não de procura do lucro rápido e fácil, alertou João Figueiredo, CEO do Millennium bim, bem como dar importância às parcerias com empresários locais, alertou Jorge Armindo, o presidente da Amorim Turismo. Afinal, “há que dar longevidade aos projectos”, sintetizou Basílio Horta, o presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). O antigo ministro da Agricultura do Governo de Pinto Balsemão alertou, aliás, para o facto de Portugal ainda continuar a viver muitos dos problemas de Moçambique e sublinhou a importância para os dois países da realização de parcerias. “A AICEP está disponível para apoiar, mas não o fará com qualquer projecto. Os empresários que participaram no Observatório do Diário Económico, que decorreu no Hotel Avenida em Maputo, não hesitam em considerar Moçambique um mercado atraente e um destino a perseguir na sua estratégia de internacionalização. Como apoiar o investimento? E como é que os bancos podem apoiar o investimento em Moçambique? A pergunta foi lançada por Fernando Faria de Oliveira, presidente da Caixa Geral de Depósitos, na abertura do Observatório que o Diário Económico realizou nesta terça-feira em Maputo. Na opinião do banqueiro do Estado, o financiamento, como suporte dos empreendedores, é um instrumento crucial. “É importante que as empresas nasçam, cresçam e tenham rentabilidades adequadas. O empreendedorismo não pode nascer sem o sector financeiro”, defendeu Faria de Oliveira. Uma opinião partilhada por João Figueiredo, CEO do Millennium bim e por Abdul Magid Osman, que até há três meses foi presidente do BCI Fomento, uma instituição que tem como accionistas a CGD e o BPI. A grande incógnita é a de saber até onde podem ou devem ir os grupos financeiros, qual a fronteira entre o financiamento, o crédito e o subsídio. Por exemplo, alertou este ex-banqueiro moçambicano, “os bancos têm uma relutância muito grande em financiar projectos agrícolas”. O debate à volta da função dos bancos no processo de desenvolvimento de Moçambique ficou, assim, marcado pela necessidade de serem criados instrumentos, eventualmente um fundo de capitação, ou a dinamização de outras ferramentas, como o capital de risco. Segundo Basílio Horta, presidente da AICEP, que também esteve presente no Observatório, o ideal é existir uma conjugação entre as duas coisas, entre crédito e capital de risco. Certo é que o sector financeiro em Moçambique vive um momento de excesso de liquidez. Se o dinheiro existe, qual será o problema? Será que é o crédito que é caro, ou serão os projectos empresariais que não são “bancáveis”? (in Diário Económico, Lisboa, com a devida vénia)
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