Canal Opini찾o: por Noé Nhantumbo,
Viagem do Mono ao Multipartidarismo
Dum lado a heran챌a e as sequelas do outro lado a realidade
Beira (Canal de Mo챌ambique) - As transi챌천es políticas em geral s찾o complexas, dolorosas, lentas e muitas vezes inacabadas.
O peso do fardo chamado de heran챌a do passado é uma realidade presente todos os dias.
Mesmo quando se diz o contrário, no íntimo e à superfície são visíveis as marcas deixadas pelo passado político em que se viveu.
A democracia em constru챌찾o no nosso país mostra exactamente isso em cada passo que dá. Se por um lado a adop챌찾o do modelo político democrático liberal foi uma imposi챌찾o externa e um resultado directo de um conflito armado, por outro lado os beligerantes que acabaram assinando o acordo de paz, eram por natureza, for챌as políticas de filosofia diferente, pouco animada ou disposta a democratizar a cena política nacional.
O partido governamental era uma entidade extremamente centralizada em estreita concord창ncia com os preceitos do centralismo democrático, ditadura do proletariado como também, se denominava.
Quanto ao outro beligerante, conhecia-se-lhe a sua natureza político-militar com um discurso político de direita. Mas o facto de ser um movimento militar deixava pouco campo ou espa챌o de manobra para tratamento democrático dos assuntos.
A hierarquia militar e a sua for챌a comandavam as opera챌천es mesmo se de política pura se tratasse.
No partido governamental, embora o tempo tivesse tido a sua força erosiva, no aspecto de conseguir introduzir novos elementos políticos na equação, num ambiente em que antes tudo obedecia a uma hierarquia da guerrilha, ainda se podem ver sequelas ou mesmos marcas fortes desse fenómeno. É só ver como são escolhidos os chefes ou quem são os mesmos. Isso contudo não mudou o facto de que todos os líderes do partido terem no activo ou na reserva galões de generais.
Estes condicionalismos históricos das principais for챌as políticas nacionais t챗m consequ챗ncias que sobreviveram o fim da guerra.
A democracia adoptada, o multipartidarismo instaurado, sofrem influ챗ncias profundas do tipo de políticas e sua história politica.
N찾o se muda da noite para o dia.
Afirmar-se democrata é uma coisa, s챗-lo na verdade é uma outra coisa raramente coincidente.
As dificuldades, retic챗ncias, recusas, retrocessos no processo de implanta챌찾o da democracia decorrem de toda esta carga do passado que as pessoas ainda se recusam a descarregar.
Entre a democracia com todas as suas consequ챗ncias e a manuten챌찾o no poder, a op챌찾o tem sido esta última também com todas as suas consequ챗ncias.
Por isso, combater pela democracia, diminuir as oportunidades para que a fraude eleitoral tenha sucesso, promover a toler창ncia e a aceita챌찾o da altern창ncia democrática no poder, n찾o podem parar ou ser encarados como algo que se faz somente uma vez.
Todo o desenvolvimento e progressos desejados s찾o ou ser찾o parte desta viagem do mono para o multipartidarismo.
As for챌as políticas, as pessoas que as constituem, possuem a oportunidade de antecipar ou atrasar a realiza챌찾o do projecto democracia e desenvolvimento neste país.
Lideran챌as comprometidas com estes propósitos s찾o uma necessidade permanente. Infelizmente isso rareia. Há muitos democratas de boca para fora. Mas quando chega a vez de demonstrá-lo fogem com o rabo a seringa ou como demónio que chocou com a Bíblia.
Tudo o que se refere aos políticos torna-se evidente no seu quotidiano. Como poderiam ser democratas e agir democraticamente se no seio dos seus partidos procedem de modo ditatorial, centralizador? Hierarquias estabelecidas há dezenas de anos continuam determinando o que se faz, quando e como se faz.
As apar챗ncias de democracia s찾o mesmo só apar챗ncias.
Os nomes até podem ter mudado e comunistas de ontem podem dizer que pertencem a Internacional Socialista. N찾o s찾o só nomes que definem ou que determinam o que efectivamente as pessoas fazem.
Depois, atendendo as liga챌천es externas que existem entre as for챌as políticas regionais e internacionais, há toda uma tend챗ncia activa de agir por arrastamento e por influ챗ncia desse facto.
O chamado passado comum teceu alian챌as e forjou la챌os que por vezes resultavam unicamente da fonte comum no abastecimento com material bélico e material ideológico.
No quadro de uma estratégia definida pelos protagonistas da Guerra-Fria viu-se partidos políticos africanos entrando em alian챌as que até hoje manifestam a sua presen챌a, for챌a e influ챗ncia. Mesmo com o fim da Guerra-Fria declarado e aceite pelos protagonistas, EUA e Rússia, nada mudou do lado de cá quanto ao relacionamento estabelecido naqueles dias.
N찾o é por acaso que se verifica o presente comportamento dos governos da regi찾o austral de Africa em rela챌찾o ao desfecho eleitoral no Zimbabwe. A tend챗ncia activamente perseguida e evidente em quase todos os processos eleitorais na regi찾o, de privilegiar o jogo politico sujo, as manobras fraudulentas em detrimento de uma actua챌찾o política que respeite e promova os legítimos interesses nacionais e dos cidad찾os, faz parte de uma estratégia com contornos regionais n찾o casuais.
Se a coordena챌찾o internacional entre os partidos que conduziram as lutas pelas independ챗ncias é um facto, o que também deveria já ser facto é a mesma coordena챌찾o entre aqueles que s찾o hoje os partidos da oposi챌찾o em seus países. Sem essa conjuga챌찾o só perdem os países e seus povos.
Aquele sil챗ncio cúmplice chamado de diplomacia pelos governos da SADC é uma realidade concreta que tem de ser contraposta com firmeza, seriedade e maturidade.
N찾o se pode deixar nada ao acaso quando os outros est찾o afincadamente procurando e implementando estratégias maquiavélicas visando a sua perman챗ncia no poder.
Até nem est찾o em jogo quest천es de filosofia ou de ideologia. O que prevalece em geral é a quest찾o do poder, do poder em si, por todos os meios concebíveis.
O que está em causa, aquilo que os cidad찾os jamais devem ignorar e menosprezar é que os políticos s찾o animais que devem estar sob olho o tempo todo.
S찾o os cidad찾os que com a sua crítica e o seu voto v찾o permitir que a democracia se concretize, que a altern창ncia no poder seja possível, que nenhuma minoria se considere e actue como dona e senhora dos países.
(Noé Nhantumbo)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 14.04.2008