Dados oficiais de Maputo confirmam a morte de oito mo챌ambicanos
Mais de quatro mil moçambicanos regressaram compulsivamente da África do Sul na quarta-feira fugindo à violência de cariz xenófoba, já considerada como "uma calamidade" pelo Governo que reactivou o Centro Nacional de Operações de Emergência em Maputo.
O êxodo ainda não tinha parado ontem de manhã. De semblantes carregados por um misto de incerteza do futuro, as dores de terem sido vítimas dos ataques e tristeza pela "crítica" situação que se vive na África do Sul, os repatriados confirmaram à Lusa que "muitos moçambicanos estão a morrer" naquele país vizinho.
Jovens e crianças foram forçados a sair da África do Sul, a maior potência económica do continente, devido às atitudes xenófobas de grupos de vigilantes contra os imigrantes, a quem acusam de prática de crimes e de contribuírem para o elevado índice de desemprego e do custo de vida.
Contudo, os números de mortos reportados pelos imigrantes s찾o contraditórios: alguns afirmam ter testemunhado a morte de "dois, tr챗s, quatro" mo챌ambicanos, mas outros apontam para "18" o número de assassinados, além de "muitos feridos" que residiam maioritariamente em bairros pobres em diferentes áreas de Joanesburgo. Os dados oficiais de Maputo confirmam a morte de oito cidad찾os mo챌ambicanos, num total de 24 vítimas da viol챗ncia.
"Vi umas quatro pessoas mortas na minha zona. Mo챌ambicanos, zimbabweanos... Aquilo é triste. Os meus planos foram todos abaixo", diz Catija Algy, jovem de 25 anos, que atravessou a fronteira sem passaporte, depois de abandonar o seu país de origem no ano passado.
"Aquilo n찾o difere do tempo da guerra aqui em Mo챌ambique. As pessoas est찾o a morrer. Basta saber que s찾o "machangane" [etnia do sul de Mo챌ambique] matam, destroem casas... nem crian챌as escapam. A polícia n찾o está a apoiar os mo챌ambicanos. Para eu continuar lá tive que pagar um valor para me protegerem", conta Francisco Abrantes, 39 anos. "No dia em que vieram a minha casa, escondi-me atrás da porta. Quando eles [o grupo de vigilantes] entraram, infiltrei-me no meio deles, daí consegui fugir... Fui militar da FRELIMO", descreve Abrantes, actualmente mec창nico de profiss찾o.
Há cinco anos a residir na África do Sul, Abrantes atravessou pela última vez a fronteira de Ressano Garcia, sul de Moçambique, em direcção à cidade da Beira, de onde é natural. "Nunca mais volto. Aqueles gajos não prestam", diz Abrantes, que confirma ter assistido a morte de pelo menos dois amigos moçambicanos.
Armindo Cuambe, de 42 anos, trabalhava num talho desde que chegou a África do Sul em 1986, mas ontem regressou apenas com as peças de roupa que trazia no corpo depois de ter fugido a morte resultante do conflito xenófobo. "A situação lá é pesada. Vi 18 moçambicanos mortos desde sexta-feira", dia em que iniciaram os ataques xenófobos contra imigrantes moçambicanos, zimbabweanos, etíopes, chineses e paquistaneses, aponta Cuambe.