Maputo (Canal de Moçambique) - Os actos de xenofobia protagonizados por "tsotsis" sul-africanos contra estrangeiros a residirem naquele país vizinho e que fez mais de cinquenta vítimas provocou um fenómeno que não era esperado em Moçambique. Os “refugiados da chacina”, segundo dados oficiais são cerca de trinta mil. Além desse universo de trinta mil pessoas que chegara até terça-feira, espera-se nos próximos dias a vinda de mais de dez mil moçambicanos. A já deplorável situação de falta infra-estruturas para albergar tão grande moldura humana e a enorme falta de emprego que já afecta o tecido social em Moçambique ficará desta forma num estado ainda mais grave. José Manuel, da província de Cabo Delgado e Luís Wilson de Sofala, contaram-nos que o que os fez ir para a África do Sul foi a falta de emprego em Moçambique. Agora voltam escorraçados e encontram-se de novo desempregados. Na conversa com eles desenvolvida no centro de acomoda챌찾o erguido em Beleluane, na província de Maputo, contaram-nos que o episódio que suscitou o seu regresso ao país come챌ou como se fosse brincadeira. Os sul-africanos já há um m챗s advertiam aos mo챌ambicanos de que a qualquer momento iria eclodir uma viol챗ncia como forma de os expulsar da sua terra, alegando que os estrangeiros estavam a usurpar os seus empregos. “São sul-africanos alguns até amigos nossos que conviviam connosco todos os dias, conheciam as nossas casas, que fizeram isto”, explicam. Um do ramo de constru챌찾o civil e o outro da agricultura, respectivamente, contam-nos que recebiam valores que iam até aos 100 randes por dia (cerca de 300,00 MT), valor que acumulava e era-lhes pago quinzenalmente. Referem os nossos interlocutores que para os sul-africanos o que para os moçambicanos era aceitável para eles er insignificante para fazer face ao custo de vida. “Saiam do nosso país seus pobres, voltem para a vossa terra, vocês não sabem negociar salários, preferem receber migalhas impostas pelos patrões, por isso somos preteridos, vão embora do nosso país”. Era este o teor das canções que os sul-africanos entoavam quando atacaram os estrangeiros, no caso vertente os moçambicanos, dizem-nos os nossos interlocutores completamente consternados. Ambiente de ressaca na Baixa de Maputo Na baixa da cidade de Maputo, na terminal de onde partem normalmente os autocarros de passageiros com destino a África do Sul o ambiente é hoje totalmente diferente. Não há praticamente movimento. Embora existam pessoas que ainda rumam à África do Sul, o movimento de procura de transporte reduziu consideravelmente. Artur Congolo, motorista que tem feito a rota Maputo-Johannesburg explica que a procura de carros por parte dos passageiros declinou. “Já não temos muitos passageiros para levar devido aos problemas que se vivem na África do Sul, e isso tem afectado bastante o nosso negócio”. Madalena de Jesus, negociante, tem diz ir com regularidade à África do Sul diz que está ciente do perigo que corre viajando para a terra do rand nesta altura, mas justifica que prefere arriscar, porque não tem outra alternativa para a sua sobrevivência: “se não viajar, o meu negócio morre e não terei dinheiro para sobreviver. Tenho filhos a estudar e muita coisa para movimentar que dependem do meu negócio. Por isso prefiro arriscar mesmo sabendo que a situação está má”. Na fronteira de Ressano Garcia o cenário é praticamente o mesmo. Enquanto as autoridades da Migração se concentram a receber os autocarros vindos do país vizinho, há pessoas mesmo assim ávidas em fazer o sentido inverso. Orlando Cossa, responsável da Migração naquela fronteira disse-nos que existem muitos moçambicanos a regressar, mas que por outro lado, há os que continuam a ir à RSA mesmo sabendo que a situação do outro lado não é boa. “Nós não podemos fazer nada, somente lamentamos”, refere o funcionário. Entretanto abordamos três senhoras que se encontravam no local a tratar dos procedimentos migratórios para se dirigirem à África do Sul. Aceitaram falar na condição de anonimato. Explicaram que tem muitos interesses económicos naquele país, e caso deixem de viajar muita coisa paralisa, complicando bastante a sua situação sócio-económica. Quanto a sul-africanos a entrarem em Moçambique, de acordo com o chefe do posto migratório na fronteira de Ressano Garcia, Orlando Cossa, apenas uma senhora passou. É casada com um moçambicano. (Ilídio Jossai)
|