Pediu desculpa pelo atraso, assumiu que estava rouca e actuou apenas durante 50 minutos. Amy Winehouse foi mesmo assim a estrela da primeira noite do Rock in Rio
"Ela deve estar a dar o último risco de coca", comentava-se junto ao palco, 40 minutos após a hora marcada da entrada Amy Winehouse no palco. A ansiedade pairava no ar; a incerteza também, e muita.
Durante a última semana, não faltaram os boatos que davam conta do cancelamento do concerto da cantora mais desejada no festival. Mas, às 22.37 horas desta sexta-feira, os ecrãs gigantes sossegavam o público: a cantora era filmada a caminhar para o palco, um braço apoiado num dos músicos, o cigarro aceso numa das mãos. Ei-la, enfim. Afinal, ela veio. E canta, mesmo quando pede desculpa pelas suas falhas vocais, como aconteceu várias vezes.
"Diz ao teu namorado que, para a próxima vez, compre a própria erva e que n찾o use a minha...". Amy, a m찾o inquieta a desdobrar a saia acima do joelho, um cora챌찾o com o nome do seu amor cravado no cabelo, os dedos a co챌ar o nariz.
A extensa concha verdejante em frente ao palco já tinha sido literalmente invadida por um impressionante oceano de cabe챌as - imaginem-se mais de 90 mil pessoas concentradas no mesmo local.
A lotação esgotara três dias antes e, durante o dia de ontem, não faltava gente desesperada à procura de ingresso no mercado negro. Como tal, resta apurar se terão havido mais habilidosos a tentar aquilo que ocorreu numa das anteriores edições - recorde-se que o sub-intendente da PSP, Costa Ramos, assegurou, à Agência Lusa, que chegou a haver um destemido que tentou entrar no recinto montado num cavalo.
Antes da explosiva Amy Winehouse, a acção no palco no Palco Mundo começou numa altura em que o sol ainda brilhava no céu. Paulo Gonzo, camisa verde alface a exibir o peito, cantou sobre jardins proibidos e leves beijos tristes para, mais à frente, encerrar um repertório de uma dezena de canções com aquela que a malta esperava: "Dei-te quase tudo". O cantor português conseguiu dominar a plateia e foi feliz ao solicitar - e conseguir - a participação do público.
Momentos volvidos, a brasileira Ivete Sangalo surpreendeu os f찾s ao surgir em vestes negras justíssimas ao corpo, qual Batwoman dos trópicos. N찾o tardou em optar por um vestido branco, é certo, mas debitou aquilo que o povo queria: um punhado de can챌천es com din창mica suficiente para desencadear a dan챌a generalizada entre cachecóis da selec챌찾o portuguesa e bandeiras do Brasil a dar com um pau.
Todavia, o primeiro concerto do festival acontecera horas antes, no extremo oposto do recinto. O Palco Sunset abriu com a sugest찾o reggae dos Phillarmonic Weed coadjuvados por Prince Wadada, agigantado rastafari hábil nas vocaliza챌천es ragga. Entre um ou outro apontamento de afrobeat, arrecadaram aplausos generosos no momento em que cantaram uma can챌찾o soalheira sobre uma temática curiosa: apanhar um táxi daqui para Luanda.
Era música de sol, pois era, e afigurava-se oportuna - afinal, ao contrário dos piores receios, a chuva n찾o se abateu sobre o Parque da Bela Vista.
Apesar da festa, uma parte significativa do público na zona do Palco Sunset optou por permanecer pacientemente na longa fila para o "Segura-te ao rock", espécie de aracnídeo que desenha curvas no ar enquanto gira sobre si próprio e desencadeia uma espiral crescente de adrenalina nos destemidos que lá ousam viajar.
Outros, por seu turno, aguardavam, resignados, nas filas para as caixas Multibanco, algo capaz de desafiar a paci챗ncia ao mais tolerante e sereno festivaleiro. Um conselho para quem cá pensem vir: venham prevenidos com dinheiro para evitar secas monumentais.