Maputo (Canal de Moçambique) – A presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), Graça Machel, disse, na capital do País, em discurso num encontro de análise do impacto dos ataques xenófobos que se verificam na vizinha África do Sul, realizado pela sua instituição em conjunto com a «Southen Africa Trust» que “na África Austral, os sistemas de desenvolvimento adoptados pelos nossos governos facilitam para que os cidadãos se marginalizem”. Graça Machel, para defender a sua posição, referiu que o que acontece na África do Sul “vimos também há 10 anos no Ruanda. No Kenya o ano passado e as causas são profundas e sempre as mesmas”. Entretanto, face aos actos de violência que se têm verificado em diferentes países da Região Austral, resultando em mortes, Graça Machel disse ainda que “África Austral está a sangrar. Todos estamos em choque e confusos devido à violência que se regista na África do Sul contra os estrangeiros”. “Não sabemos como agir perante a onda de tolerância, brutalidade e rejeição contra os estrangeiros que se encontram na África do Sul. Pessoas que viviam juntas como amigos e vizinhos já estão umas contra as outras”, disse para de seguida avançar que “a onda de violência que se verifica naquele deve-se ao facto de as pessoas estarem a repudiar as condições desumanas em que sobrevivem nas zonas onde estão instaladas”. Por outro lado, Graça Machel disse ainda que “só em menos de um ano as autoridades sul-africanas receberam 3 a 4 milhões imigrantes zimbabweanos, sem contar com os de outros países da região austral”. De acordo Graça Machel qualquer país que recebe estes números de imigrantes em menos de um ano e pertencentes a um país apenas “está preparado para registar uma convulsão como a que se verifica na África do Sul”. Segundo o presidente adjunto da Comissão de Relações Internacionais, na Assembleia da República de Moçambique, deputado Manuel de Araújo, na região austral “temos Estados com políticas que não respondem muito aos anseios da população e o resultado tem sido actos de violência como acontece na África do Sul”. Manuel de Araújo, que falava em exclusivo para o «Canal de Moçambique» acrescentou ainda que “não é só na África Sul que se verificam actos de violência devido a políticas que de certa forma excluem a população. Aqui em Moçambique isso acontece e o 5 de Fevereiro foi um exemplo disso embora tenha acontecido apenas entre moçambicanos”. “Em Moçambique temos políticas económicas que não respondem às preocupações deste País. São modelos importados e nós nem tivemos tempos de repensar no nosso Estado e analisar os impactos que isso nos pode trazer. E nem nos damos tempo para essa análise. Simplesmente copiamos os modelos dos outros que nem se adequam à nossa realidade e como consequência surgem conflitos de social, económica e política”, disse. Manuel Araújo considerou ainda que “que é imperioso que se tenha uma reflexão em volta desses modelos copiados e que estão sendo aplicados nos vários países da África Austral sem que respondam aos anseios da população”. “A questão do desemprego é um outro problema sério que está relacionada com estes actos de violência que actualmente se registam na África do Sul e isso tem, de alguma forma, a ver com a incapacidade das redes sociais nos vários países da SADC, responderem às solicitações das sociedades nos respectivos países”. Para Manuel de Araújo face aos ataques de xenofobia que se verificam na vizinha sul-africana “nenhum governo nesta região tomou em atenção os sinais que nós temos vindo a alertar há bastante tempo. A não tomada de uma posição firme quanto à questão do Zimbabwe, que é um sinal claro de que o governo da África do Sul não está a levar a sério as preocupações das populações”. Entretanto, na óptica de Araújo o Governo da África do Sul “reagiu com muita lentidão, sem proteger da forma como nós esperávamos, sem defender os imigrantes que são uma força extremamente preponderante para a economia da África do Sul”. “Temos que nos preparar para momentos piores. Quer em Moçambique quer na própria região da África Austral. Estamos numa situação extremamente caótica. Alguns vão se rebelar contra todos devido à falta de meios de sobrevivência”, disse o deputado pela Bancada da Renamo, Manuel Araújo (Emildo Sambo)
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