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General: O MONSTRO DA INDIFERENÇA
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De: mayra1950  (Mensaje original) Enviado: 04/08/2008 06:03

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta.

Um poeta é só isso: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar.

V챗, n찾o vendo.

Experimente ver pela primeira vez o que voc챗 v챗 todo dia sem ver.

Parece fácil, mas n찾o é.

O que nos é familiar já n찾o desperta curiosidade.

O campo visual da nossa rotina é como um vazio. Voc챗 sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.

Se alguém lhe perguntar o que é que voc챗 v챗 no seu caminho, voc챗 n찾o sabe.

De tanto ver, voc챗 n찾o v챗.

Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo porteiro.

Dava-lhe "bom dia" e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência.

Um dia, o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara, sua voz, como se vestia? N찾o fazia a mínima idéia. Em 32 anos,nunca o viu.

Para ser notado, o porteiro teve que morrer.

Se um dia, no seu lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode ser que ninguém desse por sua aus챗ncia.

O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem.

Mas, há sempre o que ver: gente, coisas, bichos.

E vemos? N찾o, n찾o vemos. Uma crian챌a v챗 o que um adulto n찾o v챗, pois tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo.

O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de t찾o visto, ninguém v챗. Há pai que nunca viu o próprio filho, marido que nunca viu a própria mulher.

Isso exige muito. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia.

É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

Texto de Otto Lara Resende

Nascimento:
01/05/1922

Natural:
S찾o Jo찾o del Rei - MG

Morte:
28/12/1992

Beijinho,

Mayra



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