Emo챌찾o e lágrimas no 'Circo de Inverno'
No primeiro dos seus tr챗s concertos deste fim de semana, a fadista fez "tremer as cadeiras" e encantou as mais de duas mil pessoas que enchiam a histórica sala de espectáculos da capital francesa.
"Foi um espectáculo muito especial", disse Mariza ao Expresso, ainda visivelmente comovida, no fim de um concerto excepcional, ontem à noite, em Paris. A fadista tivera de cantar quase meia hora de "encores", forçada pelo público, que não parava de a ovacionar em delírio, de pé, com um carinho indescritível. As plateias do fabuloso monumento histórico construido há 156 anos estavam repletas de franceses, portugueses e lusodescendentes.
Quando interpretou "Primavera" e "Ó gente da minha terra", a emoção subiu ao rubro e poucos resistiram às lágrimas. Na lindíssima sala circular, a artista, que cantava na arena por vezes a um palmo da cara dos espectadores, não escapou ao contágio dos sentimentos, que chegou a ser arrepiante. "Nunca vi uma coisa assim, a emoção era tanta que até as cadeiras tremiam enquanto ela cantava esses dois fados com toda a gente num silêncio religioso!", exclamava, à saída, uma jovem de origem portuguesa.
Mariza e o público formaram como que um só corpo durante todo o concerto de cerca de duas horas. Este repórter só uma vez assistiu a um fenómeno id챗ntico em Paris - há vários anos, no último concerto de Amália Rodrigues, no Olympia. A fadista - que apresenta na capital francesa "Terra", o seu mais recente trabalho - n찾o necessitou de recorrer aos "standards" do fado para conquistar a assist챗ncia. O único fado "histórico" que interpretou foi um soberbo "Barco Negro".
No espectáculo participou igualmente, como convidado especial, o músico de Cabo Verde, Tito Paris, que p척s toda a gente a cantar em c척ro "S척dade de... Portugal", numa vers찾o bastante original da célebre can챌찾o do seu país. Antes, Tito Paris interpretara com a fadista "Beijo da saudade".
"Foi um grande concerto, a Mariza entrega-se ao público de forma excepcional!", disse ao Expresso o embaixador de Portugal na OCDE, Ferro Rodrigues. Num momento de particular adesão do público, já nos "encores", Mariza dispensou o micro e cantou, como se estivesse numa pequena casa de fado, "Zanguei-me com o meu amor", acompanhada por Ãngelo Freire (guitarra portuguesa) e Diogo Clemente (viola de fado). Marino de Freitas, no baixo, Simon Wadsworth, no piano e na trompete, e João Pedro Ruela e Vicky, ambos nas percussões, completam a banda que a acompanha em Paris.
Os três concertos de Mariza no Cirque d'Hiver (sexta, sábado e domingo) estão integrados no "Festival d'Ile de France" e são patrocinados em exclusivo pela Caixa Geral de Depósitos. No espectáculo de ontem, Mariza terminou exausta a dançar e a cantar "Rosa branca" num ritmo alucinante. Em peso, a assistência acompanhou-a com palmas e a bater o pé. Depois agradeceu-lhe longamente, com uma estrondosa ovação e alguns "merci". "Gostei muito deste concerto e gosto particularmente desta sala que me permite estar muito pertinho do público", explicou Mariza ao Expresso.
Daniel Ribeiro, correspondente em Paris, Sábado, 27 de Set de 2008