PADRE ANTÓNIO VIEIRA
(1608—1697)
Fluíam-lhe dos lábios as palavras,
Qual lira de mil cordas que empola
Os corações das gentes de então, ávaras
De ouvirem o discípulo de Loiola.
Palavras belas, opulentas, majestosas,
Ardentes do clarividente indúbito;
Espargidas sobre as almas ansiosas
Dos célebres Sermões vindos do Púlpito.
Presos da sua palavra colorida,
Andavam os plebeus e a nobreza:
Os sábios, os pontífices, e era tida
Como ouvinte a própria realeza.
Exortava os ateus à conversão,
O Jesuíta ilustre mas fogoso.
Denunciava a grande corrupção
Que grassava no Governo escandaloso.
Foi de D. João 1V, Embaixador
Em Roma, em Paris e Amesterdão:
Missões que desempenhou com o valor
Dum político de grande jurisdição.
Fundou várias Missões Jesuíticas
No Maranhão, onde era muito querido.
Depois, com as mudanças políticas,
Por novos revoltosos foi detido.
Logrou evadir-se para Lisboa,
A terra que o tinha visto nascer.
A fuga, não teria sido à toa:
Pois voltou ao Brasil com mais poder.
Nos seus Sermões impressos, há tal garra;
Há muito classicismo, muita crítica.
Há o crer nas profecias do (Bandarra)
A base d’acusação Jesuítica.
Para além dos Sermões encomendados,
Por toda a Europa difundidos,
Escreveu livros tão qualificados
E eruditos, que não serão esquecidos.
Foram uma avalanche, um vendaval;
Um deles, O Quinto Império do Mundo;
O outro, Esperanças de Portugal:
E outros mais, desse orador tão jucundo.
Tal fama o precedia em todo o lado,
Na esperança de ouvirem o comentício;
Que caiu invejoso, e algo irado,
Sobre a sua pessoa, o Santo Ofício.
O medíocre é o pai da prepotência
Sobre aqueles que têm mais valia.
Esconde a falta de competência
Por entre a denúncia e cobardia.
Tanto se encarniçaram os delatores,
Que por fim, deu entrada na prisão.
Doente, e sofrendo mil horrores
Nos cárceres da “Santa Inquisição”.
Algum tempo penou encarcerado
Este notável Padre; já com crises
De sangue, pela boca derramado,
Às quais os Doutos chamam hemoptises.
Valeu-se dum engenhoso artífice,
O homem duma vontade altaneira:
E se não fora o “Breve” do Pontífice,
Seria condenado à fogueira.
Assim, isento da jurisdição
Do Santo Ofício, que sem querer lhe deu
A liberdade sem qualquer caução,
Inda alguns anos no Brasil Viveu.
Graziela Vieira
Ourém 1997