Como um navio navego muitas vezes á deriva, hoje por exemplo nem o mais forte vento, nem a mais densa neblina me emprestam um sorriso, e no entanto eu sei que é dele que eu preciso; desse sorriso que me faz bem, para que não me sinta como um navio perdido no mar por forte tempestade...
Eu sei que nunca é tarde para se sentir um pouco de felicidade, mas também sei que o tempo vai passando, e com ele muitas marcas preciosas que nos ajudam e fortalecem!
Faz quase uma semana que não calço minhas sandálias, que não olho as mostras, que não vou ao café habitual, e sinto que isso me faz mal, me deixa insegura com as lágrimas á flor da pele...
Faz tanto frio... um frio que do corpo coberto de roupas passa á alma nua, solitária.
Quando a noite cai as achas da lareira me dão aquele calor que me sobe pelo corpo, e o rosto um pouco pálido ganha uma cor rósea, como se um leve carmim me tivesse pintado.
Observo o domínio do lume que me aquece, me causando um certo fascínio, e me embalo nos sonhos do passado, e em cada sonho prateado eu sinto um beijo como um desejo de todo aquele reinado tão distante!
São caricias e faço delas meu manto com que cubro o corpo frágil, e deixo que o pensamento corra e na espuma me espreite, enquanto meu pensamento voa ao encontro do encontro que não se chegou a realizar... No entanto o mumúrio deixo nas achas do lume que me aquece, enquanto meu cabelo outrora negro de branco se veste!
Olho o coral das unhas e na boca sinto um travo amargo, como se a sal soubessem meus sonhos...
Tanho tantas saudades minhas, daquela menina sempre alegre como passarinho saltitante num procura constante, e que ferida pelas intempéries do tempo as asas feridas perdeu, porque essa menina sem duvida não sou eu...
São Percheiro