Chore… pela sua saúde
Em média, as mulheres choram 47 vezes por ano; os homens apenas sete. Quererá isto dizer que as mulheres são seres mais tristes? Ou apenas mais saudáveis?
Nove em cada dez pessoas dizem sentir-se psicologicamente mais aliviadas depois de uma crise de choro, revela um estudo. Tal como o riso, as lágrimas parecem ter um efeito benéfico na saúde, reduzindo o stresse e induzindo uma sensação de alívio emocional. Todos choramos: uns mais outros menos. Mas qual o objectivo desta forma de expressão, única à espécie humana, e o que se passa quando choramos?
Sobrevivência
Um dos principais mistérios é a existência de dois tipos de lágrimas: as que compõem o fluido que protege o olho, e as chamadas “lágrimas emocionais”. Pois é: os cientistas concluíram que as lágrimas que derramamos ao descascar uma cebola ou a tentar remover um corpo estranho do olho são quimicamente diferentes das que resultam de um choque ou situação dolorosa. Estas últimas têm mais proteínas, manganês, potássio e hormonas como a prolactina. Curiosamente, esta hormona é mais abundante nas mulheres do que nos homens, especialmente durante a gravidez, o que pode explicar porque as mulheres choram mais durante este período. A diferença justifica, para cientistas como William Frey, da Universidade de Minnesota, uma “teoria do restabelecimento” – hipótese segundo a qual as lágrimas têm um papel activo na sobrevivência humana, ao ajudar a recuperação do organismo. Os químicos que se formam durante uma situação de tensão emocional são assim libertados e literalmente “derramados” pela cara. “Ao chorar, o corpo alivia o stresse, que acumulado pode aumentar o risco de ataque cardíaco e danificar certas áreas do cérebro”.
Agir sobre o outro
Um estudo recente da Universidade da Florida, nos Estados Unidos, levanta outra hipótese: as lágrimas aumentam um estado de excitação que possibilita o desaparecimento da “ameaça” que as despoletou. As lágrimas ditas “emocionais” aumentam, por exemplo, a cooperação social e podem dissuadir o comportamento agressivo. As lágrimas são como um “grito de ajuda”: uma investigação holandesa concluiu que tanto os homens como as mulheres mais facilmente dão apoio emocional se virem alguém com lágrimas na cara. No Japão, os cientistas ainda estão a tentar perceber porque razão 58% dos participantes num estudo se sentiram mais tristes quando o choro foi simulado (deitando 0,2 ml de água junto ao canal lacrimal). Apenas cerca de 28% conseguiu manter-se bem-disposto à medida que as lágrimas iam escorrendo pela face.
Seja como for, os cientistas não têm dúvida de que chorar é uma actividade biológica com uma função definida e importante. “Não terá sido por acidente que as lágrimas resistiram ao fenómeno da evolução. Os humanos são os únicos animais que deitam lágrimas em resposta ao stresse emocional, e é muito provável que elas tenham um valor qualquer no processo de sobrevivência”, conclui Frey, autor de “Crying – the Mistery of Tears”.
Anatomia do choro
- 20% das crises de choro duram mais de 30 minutos;
- 8% duram mais de uma hora;
- 70% das pessoas que choram tentam escondê-lo;
- 77% das pessoas choram em casa;
- 15% choram no trabalho ou no carro;
- 40% choram sozinhos;
- 39% das crises de choro acontecem ao final da tarde (18-20h);
- 88,8% das pessoas sentem-se melhor depois de chorar;
- As mulheres choram, em média, 47 vezes por ano;
- Os homens choram, em média, 7 vezes por ano.