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CURIOSIDADES: TRAJE À LAVRADEIRA
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De: shanti593  (Mensaje original) Enviado: 26/05/2009 20:13
Traje à Lavradeira

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A origem dos bordados de Viana do Castelo está intimamente ligada aos trabalhos realizados em trajes da região: “ O Traje à Vianesa “ ou “ Traje à Lavradeira”.
Nos nossos dias podemos encontrar muitos e variados trabalhos com bordados de Viana, como atoalhados, sacos de pão, panos de mesa e cómoda, chinelas, etc., no entanto, todos os motivos bordados tiveram origem nos trajes regionais que foram posteriormente transpostos para estes trabalhos.
O traje à lavradeira foi totalmente criado pelas camponesas de algumas freguesias próximas de Viana do Castelo, foram elas que o riscaram, teceram, trabalharam e bordaram.
Os trajes todos decorados com os bordados feitos por estas mulheres do campo, e que diferem de freguesia para freguesia, são usados em dias de festas ou feiras.
Dentro destes bordados podemos distinguir uns mais ricos do que outros, dependendo da classe social a que se referem.
Os mais ricos utilizam algodão “perlé”, por vezes, recamados de lantejoulas, missangas e vidrilhos.
Os bordados de algodão e de lã são muito antigos. Sempre foram utilizados nos trajes das mulheres do campo, nas saias, nas ombreiras, punhos, colarete das camisas, algibeiras e coletes. Estes bordados sempre foram executados com linhas de meia de algodão branco sobre tecido vermelho e, por isso, considerados “pobres”.
“ Os forros “ das saias dos trajes das mulheres são bordados com desenhos de várias silvas.
O traje destas mulheres é também composto por uma camisa que é rente ao pescoço e cobre o corpo todo até ao meio da canela. Esta camisa, tecida no melhor linho branco e puro pelas próprias camponesas, é composta por uma “ fralda” (parte postiça da camisa que da cintura para baixo é de pano diferente). Os ombros e os colarinhos são bordados geralmente com linhas de cor de faiança. As saias são decoradas na parte inferior com tiras de pano que têm uma cor que se identifica com a aldeia da camponesa. Muitas vezes estes “forros” são ainda decorados com uma silva bordada a branco. As saias antigamente não apresentavam nenhum bordado. Só muito mais tarde, a partir da Segunda Guerra Mundial, é que se encontram saias com forros bordados, primeiro com uma silva e depois com duas. As chinelas de verniz preto que constituem um bonito acessório dos trajes são bordadas com um raminho em algodão. Além do traje à lavradeira, há ainda, nas freguesias mencionadas, o traje de noiva ou de mordoma, no qual se concentra todo o luxo ornamental.
São as próprias bordadeiras que bordam a sua roupa. Fazem-no, geralmente de improviso, com toda a espontaneidade, inspirando-se na flora e na fauna e quase sempre, no sentimento de amor. O amor parece estar presente em cada ponto do bordado e inspirou grande parte dos motivos e dos símbolos mais característicos dos bordados de Viana.
Os bordados de Viana do Castelo utilizam materiais da própria região e inspiram os seus desenhos na flora e na fauna, pelo que, podem ser considerados um dos bordados tradicionais mais belos e originais do norte de Portugal. As bordadeiras conseguiram transportar para os seus bordados todo o sentimento que lhes vai na alma.
Na região de Viana de Castelo são fabricadas duas espécies de linho; um linho que é urdido com fio de algodão (teia) e tapado com fio de linho (trama) e outro que é um pouco mais fino que é urdido e tapado somente com linho.
A base para estes bordados é sempre um linho grosso caseiro, embora ultimamente as pessoas tendam a substitui-lo por tecidos mais finos.
As linhas de algodão são utilizadas nos bordados de algodão e as mais usadas são as de algodão “perlé”, vulgarmente chamadas linhas de algodão de lustro, pelo seu brilho e solidez de cor.
As cores mais utilizadas são o branco, o vermelho e o azul.
Os bordados de lã utilizam lãs compradas. As bordadeiras por vezes usam determinadas nomenclaturas que se prendem com hábitos muito antigos, por exemplo, chamam lãs de Perre às lãs que vêm do Porto, por originariamente serem utilizadas pelas bordadeiras de Perre. As bordadeiras de Cardielos também chamam frequentemente às lãs compradas, lãs de fora.
Outro material muito utilizado é um cordão de fios dourados que serve para contornar os desenhos e, portanto, dar-lhes mais realce. Nos bordados mais recentes, o fio metálico do cordão que se chama “palhete” ou “treno” (por inicialmente ser constituído por três fios), quase desapareceu, podendo encontrar-se em seu lugar um fio branco.
Em primeiro lugar, é necessário estilizar num papel os desenhos que se pretendem bordar, ao que podemos chamar molde do desenho. Em seguida, a bordadeira prende cuidadosamente o molde ao pano que vai servir de suporte e vai picando miudamente com uma agulha fina, aplicando depois por cima com uma boneca de pó de carvão bem fino, no caso do estofo ser branco ou claro; giz e pó com pós de goma se forem de cor escuros. A seguir levanta-se o molde com todo o cuidado para evitar que se desmanchem as formas.
Nas cores escuras deve cobrir-se os desenhos marcados com um pincel envolvido em goma-arábica e alvaiade e nas cores claras, um pincel molhado em tinta nankim.
Apesar desta técnica, existem muitos casos de bordadeiras que desenham directamente sobre o tecido, reproduzindo à vista os motivos.
Muito recentemente, as bordadeiras empregam técnicas menos trabalhosas como o decalque com papel químico.
A operação seguinte consta em contornar os desenhos do bordado a cheio em cor diferente com um ponto cordão, ligando os principais desenhos entre si por ramos, caracóis, silvas e ângulos.
Os bordados com fio de algodão utilizam os pontos abertos, de cadeia, caseados, cheio, cordão, crivo, cruz, engradeado, espinha de peixe dobrado, folha de feto, formiga simples, nozinho, pé de flor, pesponto, atrás, pontinha a direito, pontinhos pequenos, rede, volta, pregas da imprensa, bicos e de galo.
Nos bordados com fios de lã não se emprega o crivo. Os desenhos são cheios com pontos largos lançados na mesma direcção e contíguos. Os pontos mais utilizados são o de pé de flor, o ponto russo, de sombra do avesso, de cordão, de palhete, de formiga, de nós, de espinha, de bicos, de Bolonha, a cavalo de recorte (nos ilhós), de Margarida e outros pontos e fantasia.
O ponto aberto também é muito utilizado para unir conjuntos de fios; o ponto pé de flor é um dos pontos principais dos bordados de Viana do Castelo e consiste em imitar um cordão fininho lançando a agulha um pouco à frente do ponto anterior e fazendo-a sair a meio, ao lado deste.
A nomenclatura de ponto pé de flor ou ponto de haste é dada por ser muito utilizado em bordados que executam pés e hastes de flores. As bordadeiras dão-lhe ainda o nome de ponto de máquina por imitar o ponto que esta faz (a agulha ao mesmo tempo que lança um ponto vai atrás fazer outro dando um efeito de pontos iguais).
Nestes bordados podemos encontrar, por vezes, uma carreira deste ponto no meio de outros como os pontinhos pequenos regularmente distantes uns dos outros, ou pontinhos a direito que são lançados na vertical de uma só vez e apanhando parte do tecido.
Para prenderem melhor o cordão, palhete ou fio dourado, as bordadeiras usam o fio de nó que também, por vezes, é utilizado no enchimento dos desenhos.
O ponto formiga é constituído por duas carreiras de pequenos pontos, paralelas e alternadas, que são trespassadas por outra linha de cor diferente em ziguezague. No final obtém-se um aspecto geral de ondas.
O ponto de espinha de peixe lembra a espinha destes animais e consiste em pontos oblíquos, cruzando-se quase nas extremidades.
O ponto de espinha de peixe dobrado é o mesmo ponto de espinha executado nos intervalos deste.
O caseado chama-se assim ou de recorte porque fica junto ao corte que se faz para o remate das casas dos botões no caso de trajes, e só é usado neste caso.
O ponto nozinho é um ponto em forma de nó em que a agulha enrola várias vezes à volta de si mesma a linha, puxando a linha e dando um aspecto de nozinho.
O ponto de crivo é muito utilizado no interior dos motivos, mas trata-se de um crivo muito simples que nem sequer é tecido.
Os motivos dos bordados de Viana do Castelo são baseados em motivos da fauna e da flora da região, bem como da vida quotidiana das camponesas minhotas
São: corações (contornados com ponto pé de flor, e baseado no sentido metafórico que as camponesas dão ao “cofre amoroso” pelo que bordam junto uma chave), folhas de trevo, de hera, morango, videira e carvalho (sempre estilizadas), chaves (estilização da chave de uma fechadura), cruzes (a cruz de Cristo bordada com o ponto de cruz, já usada nos lenços da mão), passarinhos, ângulos (linhas quebradas ou curvas que unem determinados motivos), japoneiras (estilização da flor da cameleira), silvas (linha recta ou curva de onde saem pequeninas folhas), vasos (estilizações de vasos de plantas), asas (pequenas argolas que rematavam o bordado de antigas camisas), botõezinhos (pequenas golas bordadas a cordão ou a cheio), caracol (linhas em espiral feitas com ponto de cordão), furinhos (pequenos buracos caseados também chamados ilhós), molhinhos (conjunto de pontos lançados em grupo de dois, sendo cada grupo cortado a meio por um ponto lançado na horizontal), murinhos (pontos de formiga que imitam um muro), pintinhas fechadas (bolas pequenas bordadas a cheio), trinca – fios (linhas quebradas com pontos a direito), rosas, cachos de uvas (cachos de uvas estilizados por uma série de círculos.
As camponesas minhotas são mulheres com uma sensibilidade artística que lhes permite improvisar composições originais que reflectem as suas próprias vivências.
Em geral, os bordados com fio de algodão aparecem em simetria quaternária.
Nos bordados das lãs, as composições são geralmente simetrias binárias ou assimétricas.
A bordadeira, nas suas composições, não se preocupa com o rigor da verdade, isto é, podemos encontrar com frequência, por exemplo, desenhos de rosas com folhas de videira, mas o que importa é obter conjuntos que agradem e sejam harmoniosos.

 

(Retirado do meu blog pessoal)



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