Maputo (Canalmoz) - Correm nos últimos dias, debates informais sobre a questão da nomeação ou não de um Provedor de Justiça – aquele que, por regra, é responsável por defender o cidadão comum caso este seja vítima de abuso de poder ou de uma instituição pública (escrevo nomeação porque o nosso parlamento não elege, apenas um partido aponta a dedo, independentemente da competência do proposto). Os vaticinadores já adiantavam o nome de Eduardo Mulémbwè como provável Provedor. Em mim, a notícia foi tão desarmónica e desprovida de sentido, porque Mulémbwè é da Frelimo, o que não faz sentido nenhum, que o mesmo ocupe um cargo que por tarefa tem de se confrontar com o Poder. Aliás, com a Frelimo, o seu partido. Como não gostei da ideia, decidi contactar o próprio Mulémbwè em pessoa, para melhor explicar-me como aquilo seria possível, e aproveitar para lhe informar que não era de bom-tom que um indivíduo da Frelimo ocupasse aquele cargo, devido à já calculável esteira de promiscuidades. Mulémbwè sossegou-me e disse-me que não seria o Provedor de Justiça. Acreditei nele, com base em argumentos por ele alistados. Espero que o ilustre não me passe a perna. Mas, depois fui pensando sobre a questão do Provedor no geral, e cheguei à conclusão de que como não temos condições orgânicas e estruturais, para através da AR arranjarmos um Provedor de Justiça, num País basicamente de injustiças como o nosso, talvez arranjássemos um outro Provedor, que de facto nos faz falta – O Provedor da Miséria ou de Pobreza. Arranjávamos para esse Profissional ou órgão, um bom escritório, carro e casa protocolar, salário chorudo e outros acessórios tranquilizantes. O Provedor da Miséria ou de Pobreza seria um órgão ou instituição que teria por função receber críticas, sugestões, reclamações dos pobres, vítimas da distribuição desigual da riqueza comum e do esquecimento político. Seguindo à risca o plasmado em regimentos dos demais provedores legais, este órgão teria o dever de agir em defesa imparcial da comunidade pobre. Este, em jeito de informe e balanço, depois tinha que aparecer na TV e na rádio públicas para nos desagregar sobre os níveis comportamentais do quadro numérico de pessoas que forçosamente vivem e viverão em situação de necessidade extrema. Em seguida, o mesmo Provedor apresentava-nos gráficos comparados, com respectivos desvios padrão, e frequências relativas sobre a forma idiota como a riqueza tem aumentado para indivíduos, diga-se, sempre os mesmos, e ligados ao poder político nacional. Os gráficos deviam ter nos seus rodapés ou legendas a descrição exacta dos negócios movimentados por tal gente, e obviamente relacionados com a TFAE (a Taxa de Facilidades Adquiridas no Aparelho do Estado). Aí ficávamos a saber também quantos dirigentes são empresários à custa dos impostos, e quantos dirigentes montam seus negócios nas empresas do Estado, através das subfacturações e outras tramóias de aquisição dolosa de capital. Paralelamente ficávamos a conhecer, as previsões pobre-comportamentais para os próximos tempos: Isto é qual será o próximo indicador numérico de pobres, relacionado com número de empresas de dirigentes políticos que poderão advir da referida pobreza do povo. (Matias Guente)
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