por Francesco Alberoni, Publicado em 12 de Janeiro de 2010
Cada nova fase é um renascimento, uma renovação. Miguel ngelo não queria pintar a Capela Sistina, mas quando percebeu que podia representar a criação foi como um Big Bang
HOJE EM DIA SABEMOS QUE TODOS temos células estaminais, células indiferenciadas e todo-poderosas, capazes de se transformarem em qualquer tecido ou órgão. No plano psíquico, mental, o homem adquiriu a capacidade de se modificar, de renascer, quase até de gerar um novo ser. As forças que permitem essa renovação podem ser consideradas as células estaminais da alma. Alguns utilizam-nas pouco, outros é como se voltassem a nascer. A renovação criativa nunca é apenas intelectual, envolve a pessoa no seu todo e traduz-se sempre num furacão de emoções, de paixões. Podemos mudar de cidade e fazer um novo trabalho sem que isso nos afecte interiormente. Adaptamo-nos ao ambiente e até podemos fazer coisas agradáveis. Mas tudo é diferente quando a mudança vem de dentro.
É como se um novo ser emergisse e tomasse a palavra, um ser saído das células estaminais da alma. Miguel ngelo não queria pintar a Capela Sistina. Fê- -lo por obrigação, sem convicção, e o resultado era medíocre. Depois, um dia, percebeu que podia representar a história da humanidade desde a criação: foi como um Big Bang, um fluxo de energia criativa do qual nasceu um novo mundo. Todos os grandes artistas têm fases ou períodos, como Picasso e o período azul, o rosa, o africano, o cubista, etc.
Cada nova fase é um renascimento, um recomeço. Pode acontecer que a renovação seja muito profunda (como no namoro ou na conversão religiosa), que a personagem pareça tornar-se francamente diferente e mais jovem, não só pela frescura intelectual e emocional, mas também pela aparência e pelos gestos. Alguns escritores, como Lawrence e Nabokov, escreveram as suas obras mais inovadoras e revolucionárias ("O Amante de Lady Chatterley" e "Lolita") em adultos, surpreendendo amigos e familiares. Mas os grandes artistas não são os únicos a conhecer a renovação. Todos nós conhecemos pessoas que, depois de terem trabalhado durante muito tempo como empregados ou professores, a certa altura da sua vida quebraram as rotinas e libertaram novas potencialidades. Há quem tenha aberto um restaurante, uma loja, uma empresa; quem tenha escrito livros de contos, inventado brinquedos ou feito bonecas lindíssimas. Alguns já descobriram tarde a vocação literária e tornaram-se escritores famosos de policiais. Immanuel Kant já não era nada novo quando revolucionou a filosofia.
Sociólogo, escritor e jornalista
In:http://www.ionline.pt/conteudo/41425-as-forcas-da-alma-que-nos-ajudam-mudar