Este é o «material nobre» entre os vidros, como o apresenta o mestre António, responsável pela unidade. «O cristal é um material que exige muita perícia: se tocamos, estragamos. Dos 130 executantes que aqui temos, apenas dois ou três por cento são capazes de estar em qualquer fase do processo». A unidade funciona como um puzzle, invisível numa primeira vista. Cada vidreiro está responsável por uma pequena parte do que será a peça final.
É um homem de sorriso grande, o mestre António. Todo ele é orgulho, enquanto nos guia pela zona quente e pela sua história. Orgulho pelos 37 anos de trabalho na fábrica, pelos workshops que lecciona a convite de escolas de arte de todo o país, pelas peças que criou. As páginas da sua vida confundem-se com as da história do cristal em Portugal. Estava lá quando a antiga fábrica de vidro Crisal, de Alcobaça, se atreveu na fabricação do cristal, nos anos 70, tornando-se a única a fazê-lo no país; depois, quando a já chamada Atlantis se tornou sinónimo de excelência na fabricação do material nobre e deu nome à empresa; e, mais tarde, quando foi agregada ao grupo Vista Alegre e lançada no mundo inteiro.
Apesar do frio de congelar ossos que faz na rua, na oficina, os vidreiros estão 'aconchegados'. Areia, óxido de chumbo e saber transformam-se, perante os nossos olhos, em peças literalmente únicas de cristal.
No forno eléctrico, que funciona a 1.450 graus, entram diariamente 12 toneladas de areia e óxido de chumbo e sai uma massa líquida, que ganha forma a uma temperatura, digamos, mais amena, de mil graus. José Manuel está responsável pelos copos de colha, «marmeando», em linguagem de vidreiro, o cristal. Ou seja, 'cortando' o excesso, da forma que recebe o líquido - que depende do tamanho da peça que se pretende. Para arrefecer a bola incandescente a temperaturas 'trabalháveis', é usado ar comprimido «senão perdia a forma», explica o mestre António. Depois, o sopro: pode ser rodado ou parado, consoante a temperatura e o tamanho da peça. No ferro de tornear, o cristal, até então massa maleável, ganha forma interior e exterior. Homens esculpem com todo o cuidado as peças, que saem daqui quase prontas a serem vendidas. Entre 3.400 e 4.700 por dia. Pesadas, brilhantes, únicas.
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