A história de Moçambique é muito anterior à chegada dos portugueses em fins do século XV. Na altura que aí aportarem existiam no norte de Moçambique, duas comunidades relativamente bem organizadas: o Reino do Monomotapa e os Centros Suailis. Os primeiros haviam entrado numa fase de desintegração, com constantes guerras internas. Os segundos, ligados ao comércio marítimo, tinham localmente uma presença reduzida.
Foi Pêro da Covilhã o primeiro português a contactar com os povos desta região, quando em 1489 procedia à recolha de informações sobre o tráfico e a navegação para a Indía, conforme mandado de D. João II.
No século XVI os portugueses estabelecem-se nesta região, que foi sempre considerada estratégica na rota do caminho marítimo para a India. A sua presença confinou-se à faixa do litoral, em especial a dois pontos estratégicos: Sofala e a Ilha de Moçambique, tendo em ambos criado feitorias e fortalezas. Ao longo século foram construídas outras feitorias-fortalezas de menores dimensões, como a de Sena (1531),Tete, Quelimane e Inhambane. Mas entre todas, a da Ilha de Moçambique, criada por Vasco da Gama na sua segunda viagem à India foi sem dúvida a mais importante. Nesta Ilha surgiu uma verdadeira cidade cosmopolita.A administração das possessões portuguesas em Moçambique estiveram até meados do século XVIII sob a administração do governador da Índia.
A exploração do interior de Moçambique pelos portugueses foi muito lenta, e limitou-se quase sempre à procura de Ouro, no reino do Monomotapa. Os principais produtos de comércio eram o marfim, o cobre e os escravos. Em finais do século XVI e princípios do século XVII foram para este efeito fundadas novas feitorias.
Várias ordens religiosas cristãs (jesuítas, dominicanos, etc) iniciam neste século a cristianização das populações, mas com resultados muitíssimo limitados.
No século XVII, tendo em vista controlar o comércio e os territórios, a Coroa Portuguesa estabeleceu um regime de concessões de terras: os prazos. Este sistema que adquiriu alguma importncia na fértil Zambézia, conhecida por Rios de Sena, tendo inclusivé sobrevivido até ao século XX.
Durante o século XVII, as possessões portuguesas na Costa Oriental de África são atacadas a norte pelos árabes e a sul pelos holandeses. O resultado foi o fim das feitorias portuguesas nesta região. A última a terminar foi a de Mombaça que resistiu até 1688, caindo com ela as feitorias de Pate e Zamzibar suas dependentes.
No século seguinte, os portugueses centram-se na região de Moçambique onde procuram reocupar as suas possessões. Tarefa que não se apresenta fácil. As populações indigenas resistem à ocupação, e outras potências europeias procuram aí também se estabelecerem. Nas décadas de 1720 e 1730 os holandeses e ingleses tentam fixarem-se na Ilha de Moçambique. Na década de 1740 é a vez dos franceses.
Em 1752, Moçambique passa a ter estatuto administrativo separado da India, com o nome de "Governo e capitania geral de Moçambique, Sofala e Rios de Sena". A ilha de Moçambique é reconquista, fortifica-se Tete, Inhambene e Mossuril. Desenvolve-se a pesca da baleia, introduz-se a cultura do café. O tráfico de escravos atinge então valores impressionantes, sobretudo a partir de finais do século. Calcula-se que entre 1780-1800 tenham sido exportados de Moçambique e em média anual, entre 10 a 15 mil pessoas e, em 1800-1850 a média anual tenha atingido cerca de 25.000. Trata-se de um comércio extremamente lucrativo para negreiros árabes, suailis e europeus (portugueses, franceses, ingleses, holandeses, austriacos, etc). Moçambique é por diversas vezes alvo de ataques de piratas.
No final do século os portugueses procuram avançar para o interior de Moçambique de uma forma sistemática.
A primeira metade do século XIX é ainda dominada pelo negócio da escravatura, destacando-se neste tráfico, os negreiros suailis, o sanguinário Império de Gaza, os negreiros franceses e portugueses. No caso dos franceses, o próprio Estado francês intervém activamente em seu apoio. Clandestinamente, os negreiros suailis, macuas e outras étnias continuarão a traficar escravos até ao século XX. Tráfico que a todo o custo procurarão manter.
Ao longo deste século sucedem-se as expedições comerciais, científicas e militares pelo interior de Moçambique, permitindo o seu conhecimento mais exacto, assim como estabelecer uma ligação entre Moçambique a Angola.
A produção agrícola para exportação, inicia-se em meados do século, com as culturas oleaginosas (amendoim, gergelim, etc).
A colonização efectiva de Moçambique só se inicia verdadeiramente sob o impulso da Conferência de Berlim, em 1885, quando as principais potências europeias procedem à partilha de África.
Moçambique, à semelhança do que acontecia em outras colónias europeias, começa a ser administrada por grandes companhias a quem o Estado português concede vastos territórios.
Entre as mais importantes, contam-se a Companhia de Moçambique (1888), a Companhia do Niassa (1893), a Companhia do Zambézia (1892-1910). Para além destas, destacam-se, nas margens do Zambézia, a Empresa Agrícola de Lugela, Cª.do Boror, Cª. de Madale, Cª. do Luabo, etc. Estas companhias, sobretudo as duas primeiras, comportam-se como verdadeiros Estados dentro do Estado. Têm a seu cargo a gestão do território, construção de vias de comunicação, a educação, exploração da mão-de-obra e até a cobrança de impostos. Entre os seus negócios muito lucrativos estava a exportação de mão-de-obra forçada para as plantações e minas da África do Sul, Rodésia (Zimbabwe) e São Tomé.
Os prazos, profundamente envolvidos no comércio de escravos e de trabalhadores forçados, sofrem um grande impulso em finais do século XIX. Novos regulamentos foram publicados em 1890 e em 1896, tentando limitar a exploração da mão-de-obra pelos(as) prazeiros (as).
Moçambique torna-se a partir do último quartel do século XIX, num verdadeiro reservatório de mão-de-obra para as explorações das colónias vizinhas. Facto que acaba por deslocar o centro político de Moçambique para sul, onde se começam a estabelecer relações de tipo capitalista. O Estado acabou por chamar o controlo deste negócio retirando lucros por cada trabalhador exportado, na maioria das vezes à força. O trabalho forçado só terminou, em Moçambique, nos anos 60.
Uma dos factores que impulsionou o desenvolvimento de Moçambique, a partir de finais do século XIX, foi a sua posição estratégica. Os seus portos de Maputo (Lourenço Marques) e da Beira eram as portas de entrada e de saída para os produtos do Transval e da Rodésia.
A enorme resistência do povo moçambicano à ocupação colonial portuguesa só foi temporariamente eliminada por volta de 1913. É preciso dizer que muitas desta resistência era feita por tribos africanas de negreiros, que se sentiam ameaçadas neste comércio pelos portugueses.
Durante a 1ª.Guerra Mundial (1914-1918), travam-se combates entre portugueses e alemães pelo controlo do território.
Nesta altura assiste-se à expansão das vias de comunicação (estradas e caminhos de ferro). As duas principais vias férras, a de que liga o porto de Maputo à África do Sul e a que liga o da Beira a Salisbury, começaram a ser construídas em finais do século XIX no mbito de acordos internacionais. A linha férrea não ultrapassava em 1910 mais que 500Km, atingindo só em 1925 os 2000 km e, em 1935 os 2500 km.
A partir de 1929 o Estado Português, começa a limitar o poder arbitrário das grandes companhias, centralizando a política de colonização. Incrementam-se grandes plantações de produtos destinadas à exportação, tais como:
Algodão
Açúcar
Castanha de Caju
Copra
Chá
Sisal
A cultura do algodão foi imposta como obrigatória uma boa parte da população local, o que fez disparar a produção. Em 1931-1935 a produção média anual foi de 4.000 toneladas. Entre 1936 e 1940 foi de 19 mil ton. A partir de 1940 ultrapassava as 50 mil ton., atingindo em 1960 as 130 mil. O número de produtores atingiu os 791 mil em 1944.
1961 a 1974
Após a 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), a questão da descolonização rapidamente entra na ordem do dia. As colónias da Grã-Bretanha são as primeiras a iniciarem o processo de Independência. Em Portugal, a ditadura que governava o pais desde 1926, está ciente dos novos rumos da humanidade, mas à semelhança de outras potências coloniais, como a ( França, Espanha, Bélgica, etc) opõe-se a este movimento. A partir dos anos 50 inicia-se um rápido processo de desenvolvimento nas colónias tendo em vista a integração das respectivas populações.
Em consequência desta estratégia, nos 50 e 60 regista-se um aumento do número de imigrantes portugueses (163 mil em 1970). Na sua maioria eram recrutados nas zonas rurais de Portugal. O Regime acreditava que estes emigrantes estariam em melhores condições para se sujeitarem ndo-se com maior facilidade às duras condições de vida de muitas regiões de Moçambique.
A partir de finais dos anos 50, a economia moçambicana atravessa uma fase de plena expansão e crescimento, mantendo-se muito embora as enormes clivagens sociais que separavam por exemplo, os brancos dos negros "não assimilados".
Nos anos 60, Moçambique obtinha a maior parte das suas receitas da actividade transportadora, que permitia ligar os territórios do interior da África do Sul, Rodésia (actual Zimbabwe) e Malawi ao mar através das linhas de caminho de ferro de Lourenço Marques, da Beira e Nacala, e dos respectivos portos.
A agricultura fornecia cerca de 80 por cento das exportações, através de produtos como a noz de caju, cana-de-açúcar, algodão, etc.
A exploração mineira ainda estava a dar os primeiros passos no início da década de 70, com a exploração de carvão na zona de Moatize, perto de Tete.
Entre os empreendimentos que então foram lançados destaca-se pelo seu gigantismo, a barragem de Cabora Bassa (1968), destinada à produção de energia hidroeléctrica. Na altura existiam já outras barragens no Tevué, em Chicamba e em Mavuzi.
Nos últimos anos da administração portuguesa, as importações eram aproximadamente o dobro das exportações. Por exemplo, em 1970, aquelas totalizaram cerca de 9,4 milhões de contos, enquanto estas foram de 4,5 milhões de contos
Os principais mercados de exportação e importação eram, por ordem de grandeza, Portugal, África do Sul, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha.
O défice da balança comercial era compensado com as receitas do turismo da África do Sul e, principalmente, com as remessas dos moçambicanos que trabalhavam nas minas sul-africanas.
A Guerra de Libertação
Nos anos cinquenta começa a surgir diversos movimentos que defendem a independência de Moçambique. A questão da luta armada ainda não se coloca todavia. O facto que terá precipitado todo o processo, foi os acontecimentos de Mueda, em Cabo Delgado, no dia 16 de Junho de 1960, quando as forças policiais matam cerca de 17 pessoas.
Em 1964 começa uma guerra de libertação, conduzida pela Frelimo, que termina dez anos depois. A independência foi proclamada em 1975.
República de Moçambique
A queda da ditadura em Portugal (25 de Abril de 1974), precipita o processo de Independência das colónias portuguesas: cinco em África e uma na Oceania (Timor). A situação é extremamente complexa. Em todas as colónias existem movimentos políticos que reclamam a Independência imediata destas colónias, e outros que lutam pela continuidade da sua ligação a Portugal, onde a situação é idêntica. Os militares portugueses recusam-se a combater ou a embarcarem para as colónias, reclamando o fim imediato as hostilidades, acelerando desta forma o processo de Independência das várias colónias. A Frelimo intensifica neste período as suas acções militares registando-se então um número mais elevados de baixas portuguesas em relação à média de 1973.
O processo de Independência em Moçambique é todavia relativamente rápido e pacífico. Nem seis meses demorou. A 24 de Julho de 1974 (Lei 6/74), é aprovada em Portugal uma lei que estabelece um regime transitório para Angola e Moçambique, tendo em vista a autodeterminação ou independência destes territórios. A 4 de Agosto deste ano, Portugal compromete-se perante a ONU a proceder à Independência destes territórios. A 7 de Setembro, em Lusaca, é solenemente assinado pela delegação portuguesa e pela Frelimo um acordo conducente à Independência de Moçambique, cuja data é marcada para 25 de Junho do ano seguinte. A 21 de Setembro de 1974, Joaquim Chissano (pela Frelimo), em conformidade com o estabelecido nos Acordos de Lusaca, toma posse como chefe de um governo de transição, apoiado pelo governo português.
O período que se segue à Independência, a 25 de Junho de 1975, ao contrário do que seria de esperar é de profunda crise interna, devido a três factores fundamentais:
Construção de um Estado Socialista. Um outro dos factores que contribuiu para agravar a situação do país foi quando a Frelimo pretendeu construir um Estado Socialista em Moçambique, contando para o efeito com o apoio da ex-União Soviética, ex-RDA, China, Cuba (entre outros). Os brancos, sobretudo os portugueses são hostilizados (cerca de 250 mil), os quais não tardam a abandonar o país, contribuindo deste modo para iniciar um processo de paralisia do sistema económico. Os principais sectores económicos foram nacionalizados (industria, banca, agricultura, etc); As estruturas tradicionais são desarticuladas ou secundarizadas; as populações dos campos são obrigadas a viverem em aldeias padronizadas; a Igreja católica combatida, sendo os seus bens nacionalizados; etc.
Conflitos com os Regimes Racistas na Região. Moçambique assumiu desde a primeira hora a linha da frente no combate aos regimes racistas que governavam a África do Sul e a Rodésia (Zimbabué), o que acabou por deixar o país praticamente isolado no contexto da África Austral. As retaliações efectuadas por estes regimes (fim da emigração, fecho de fronteiras, diminuição do tráfego ferro-portuário, etc), contribuem também para a destruição da economia moçambicana.
Guerra Civil. Em 1976 forma-se um movimento de resistência (Renamo), com o apoio da África do Sul e da Rodésia (Zimbabué) que combate a Frelimo. Este movimento reclama-se defensor de um regime democrático. A partir de 1977 a guerra civil alastra por todo o país.
Em 1984, face à extrema pobreza a que a guerra estava a conduzir o país, o governo moçambicano compromete-se face ao governo da África do Sul a não o hostilizar (apoiando o ANC), em troca do compromisso que este não apoiaria a Renamo.A Frelimo inicia então um processo de liberalização económica do país e abandono do marxismo-leninismo.
A paz é alcançada em 1992. Calcula-se que durante a guerra tenham morrido cerca de um milhão de pessoas. O número deslocados e refugiados estima-se que fosse superior a 4 milhões. Nos anos oitenta, cerca de 3 milhões de moçambicanos, por exemplo, estavam refugiados no exterior (Malawi, Zimbabué, Suazilndia e Zambia).
As primeiras eleições democráticas ocorreram em 1994, saindo vencedor o partido do poder (Frelimo). Ao longo dos anos 90 acentua-se a progressiva dependência económica de Moçambique da África do Sul, sendo cada vez menor a sua autonomia.
Desde 1974 Moçambique empobreceu de tal forma, que hoje carece de ajuda internacional para atender às necessidades básicas da sua população. Apesar de tudo, e malgrado as devastadoras secas, cheias e ciclones, nos últimos anos tem revelado um grande dinamismo auguram dias mais promissores.
|
|
|