Enquanto a guarda a estreia da peça escrita juntamente com Mia Couto, o escritor angolano José Eduardo Agualusa prepara um novo romance escrito "mano-a-mano" com o seu amigo das letras do Índico.
Recorde-se que enquanto jornalista do diário português "Público" Agualusa foi o responsável pelas primeiras referências e entrevistas a Mia Couto, em Portugal, no início da sua carreira.
Mas as novidades não ficavam por aqui. Dois dos seus romances mais emblemáticos estão a ser adaptados para o cinema.
A revelação foi feita pelo escritor angolano no programa "5 para a meia-noite", da RTP, numa entrevista a pretexto do lançamento do seu mais novo livro "Um Pai por Nascimento", e que reúne um conjunto de crónicas publicadas nas revistas "Pais & Filhos" e "Pública", cujo tema é a sua própria relação com os seus filhos.
“Nação Crioula” e “Vendedor de Passados, são os dois romances adaptados ao cinema - "Vendedor de Passados" em fase adiantada, segundo o escritor - e que se encontram em fase de produção. Com títulos homónimos, as longas-metragens são da responsabilidade do realizador brasileiro Lula Buarque de Hollanda, pela Conspiração Filmes.
"Vendedor de Passados" (2004, Prémio Independent, de tradução) é uma sátira política e social da Angola actual: conta a história de Félix Ventura, um albino que tem como profissão inventar passados gloriosos aos seus clientes: detentores de cargos públicos, novos ricos em ascensão social, mas a quem falta um passado histórico e digno que os legitime socialmente. Toda a história é narrada por uma osga que convive nostalgicamente com as recordações da sua condição humana.
Escritor "irrequieto"
Agualusa coordena actualmente o Pavilhão da Lusofonia na Bienal de São Paulo, colabora com o "Festival de Cultura Negra", no Rio de Janeiro, aguarda a estreia da peça de teatro escrita a quatro mãos com o moçambicano Mia Couto, prepara, também com Mia Couto, um novo romance.
Já no prelo, com data de saída prevista para Outubro, está o seu próximo livro: "É um romance sobre a língua portuguesa, sobre a construção comum da língua. Passa-se em vários territórios, do Brasil a Portugal até África, como Angola. Pode dizer-se que a personagem principal é a Língua. Mas há dois personagens (narrativos): um velho linguista angolano e uma jovem linguista portuguesa". "Tenho um título de trabalho para o romance que não sei se irá até ao fim, por isso é melhor não o revelar", junta o autor, sobre aquele que será o seu nono romance.
José Eduardo Agualusa nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Estudou Silvicultura e Agronomia em Lisboa, Portugal. Os seus livros estão traduzidos para mais de uma dezena de idiomas. Também escreveu várias peças de teatro: "Geração W", "Chovem amores na Rua do Matador", juntamente com Mia Couto, e o monólogo "Aquela Mulher".
Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira foi concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever “Nação crioula”; a segunda, concedida em 2000 pela Fundação Oriente, permitiu-lhe visitar Goa durante três meses e escrever “Um estranho em Goa”; a terceira foi concedida pela instituição alemã Deutscher Akademischer Austauschdienst, em 2001 - graças a ela viveu um ano em Berlim, onde escreveu “O Ano em que Zumbi Tomou o Rio”.
No início de 2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em Amesterdão, na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o seu último romance, “Barroco tropical”. Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fatima Otero, a editora brasileira Língua Geral, dedicada exclusivamente a autores de língua portuguesa.
SAPO MZ com Cenaberta