Falando no seminário, a Ministra da Justiça, Benvida Levy, afirmou que em Agosto de 2009 foi lançado o processo que deverá culminar com a elaboração do relatório final a ser apresentado a um dos instrumentos mais inovadores do sistema dos direitos humanos das Nações Unidas. Segundo Benvida Levy, ao garantir uma avaliação abrangente e transparente da situação de direitos humanos em todos os membros da ONU, o mecanismo tornou o sistema mais racional e mais equilibrado.
Afiançou que a República de Moçambique tem, desde a proclamação da independência, demonstrado o seu cometimento tácito aos princípios universais dos direitos humanos, reafirmados nas sucessivas constituições, sendo signatário de várias iniciativas regionais e internacionais de promoção e protecção dos direitos humanos, tornando-se, deste modo, num país plenamente inserido nos sistemas internacional e regional de promoção e protecção dos direitos humanos.
A ministra da Justiça declarou que Moçambique tem procurado cumprir com as suas obrigações, relativamente aos instrumentos por si ratificados, particularmente na apresentação de relatórios periódicos, nos termos e condições dos tratados em referência. Acrescentou que o Governo está a trabalhar activamente na produção de mais relatórios a serem presentes à Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e às Nações Unidas.
Igualmente, o Executivo continua a trabalhar com vista à ratificação dos instrumentos internacionais que ainda não passaram pelo processo e na adopção de medidas legislativas e outras sobre a matéria.
Ressalvou que a questão da promoção e protecção dos direitos humanos em Moçambique não diz respeito apenas às instituições do Estado, mas a todas as entidades que concorrem para a protecção e defesa dos direitos dos cidadãos, estando ligadas a este assunto as organizações não-governamentais, a família e a sociedade civil em geral.
“Por isso, embora se trate de um relatório que pretende transmitir a visão do Estado moçambicano sobre o cumprimento das suas obrigações em direitos humanos, temos estado a consultar ao longo do processo todas as forças da sociedade”, disse.
O relatório final a ser apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, segundo Benvida Levy, deverá assim ser o resultado de um processo de consultas aos órgãos do Governo e de todos os intervenientes, considerando que a comunidade e as organizações não-governamentais constituem uma alavanca de peso na complementaridade de acções do Governo.
Afirmou que a implementação do mecanismo constitui não somente um instrumento de análise crítica do grau de cumprimento pelos Estados das suas obrigações em matéria de direitos humanos, mas também base para a promoção de um diálogo construtivo e para o fomento da cooperação com vista à superação de desafios nesta área.
Intervindo também no encontro, a presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, Alice Mabota, considerou a consulta iniciada pelo Governo como um marco importante para os direitos humanos em Moçambique, dado que se trata da primeira vez que o país vai-se submeter à avaliação do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, com a participação da sociedade civil desde o início do processo, o que o distingue da submissão de relatórios aos comités do sistema.
Alice Mabota disse que no relatório complementar que a sociedade civil irá enviar ao Conselho assinalará os progressos na área nos últimos anos, incluindo a sua participação na elaboração do relatório do Governo. Todavia, segundo afirmou, a sociedade civil não deixará de assinalar os factos que na sua óptica constituem constrangimentos e retrocessos neste domínio, de modo a serem removidos.
Por seu turno, o alto-comissário Britânico afirmou que o Reino Unido espera que a participação de Moçambique no Mecanismo de Revisão Periódica possa apoiar e encorajar o Governo a reforçar o respeito pelos direitos humanos no país e para que a sociedade civil jogue um papel importante na promoção dos direitos humanos.
“Os direitos humanos unem-nos. O antigo secretário-geral das Nações Unidas, Boutros-Ghali disse que os direitos humanos são valores através dos quais juntos afirmamos que somos uma única comunidade humana”, disse.
Acrescentou que o Mecanismo de Revisão Periódica Universal é uma das principais inovações que o Conselho dos Direitos Humanos trouxe na monitoria do grau de implementação das convenções ratificadas pelos Estados-parte. Ele pretende ser base cooperativa, apoiando-se no diálogo interactivo com o país em avaliação.
Felicitou o país pelo esforço que tem feito na ratificação de importantes instrumentos na área dos direitos humanos.
Porém, encorajou o Governo a ratificar outros instrumentos importantes tais como o protocolo opcional à convenção contra tortura, a convenção internacional sobre protecção dos direitos dos trabalhadores migrantes e membros das suas famílias e o pacto internacional dos direitos económicos, sociais e culturais.
A ratificação daqueles instrumentos, segundo o alto-comissário britânico, permitirá que o país estabeleça um quadro legal nacional abrangente que torne possível um melhor respeito e protecção dos direitos dos cidadãos.
O alto-comissário Britânico em Moçambique afirmou que o seu país mantém excelentes relações de amizade e cooperação com Moçambique, sendo, por conseguinte, um dos parceiros de cooperação mais importante do país. Anunciou que este ano, o Ministério para o Desenvolvimento Internacional britânico contribui com o apoio directo ao Orçamento do Estado e com apoio bilateral de 78 milhões de libras esterlinas.
O programa do Reino Unido de assistência ao desenvolvimento está em linha com as prioridades nacionais de Moçambique e apoia os objectivos da estratégia nacional de redução da pobreza.
“Estamos comprometidos com o combate à pobreza em Moçambique. Ajudamos a providenciar serviços básicos, incluindo a segurança social aos mais pobres e também apoiamos os esforços de promoção da boa governação, transparência e responsabilização”, disse.
Ajuntou que o alto-comissariado britânico tem vindo a trabalhar com o Ministério da Justiça, apoiando a formação em direitos humanos nas prisões e nas celas da Polícia, bem como financiando o curso sobre a elaboração de relatórios para as comissões da ONU e União Africana.
Entretanto, os participantes do seminário avançaram algumas recomendações e propostas sobre o documento, uma das quais é a necessidade de divulgação do mecanismo para o conhecimento dos cidadãos.
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