O escritor cabo-verdiano Arménio Vieira recebe hoje, em Lisboa, pelas 18h00, no Museu dos Coches, o Prémio Camões 2009. O prémio, no valor de 100 mil euros, será entregue pela Ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas, e o Presidente do Brasil, Lula da Silva, como é habitual, sendo o valor repartido pelos dois países.
Irá Arménio Vieira vestir um casaco para receber o prémio? Essa foi a primeira preocupação confessa na hora da notícia de ter sido o escolhido pelo júri.
Arménio Vieira, 68 anos, viu a sua pacata rotina alterada no último ano. As chamadas telefónicas e os pedidos de entrevistas dos jornalistas choveram de todos os lados. Para um homem pouco dado a entrevistas a situação poderia anunciar-se, no mínimo, catastrófica. Mas não foi. Enganaram-se aqueles que pensaram que Arménio se iria refugir-se no seu “Castelo”, o andar misterioso que o poeta habita, no Plateau, a zona histórica da Cidade da Praia.
Entretanto, houve várias viagens a Portugal, entrevistas, sim, e sessões de autógrafos, como nunca conheceu em toda a sua vida. Foi convidado para estar na edição deste ano das Correntes d’ Escritas, mas não veio.
A vida vivida uma manhã, uma tarde de cada vez. Sessenta e oito anos de idade, numa face jovial de poeta sem tempo.
Para os seus admiradores, o Prémio só confirmou a qualidade literária e a eloquência do Mestre. Continuaram a rodeá-lo na sua segunda casa: a esplanada do Café Sofia, na Praça do Liceu, na Praia. Passado o fresim dos primeiros dias, voltou para junto dos amigos , colegas, literatos, populares, que ali se sentam, atraídos por aquele olhar rebelde de eterno “Rimbeau das ilhas”.
Apesar dos 100 mil euros embolsados com o Prémio, Arménio Vieira continua a surgir pela rua, quando o sol é mais clemente, de SG entre os dedos, sandálias ou chinelos, calças arregaçadas como um pescador de Raul Brandão (confesso admirador do escritor português).
Para Arménio, como ele próprio confessou, a principal preocupação, no momento de receber o prémio, era de ordem formal:” O único problema é ter que usar fato e gravata, nessa coisa da cerimónia. E se eu levar só o casaco? Podia vesti-lo sem enfiar os braços, como o Jaime Figueiredo. Mas estou a pensar em antecipar a minha ida. Ando muito cansado com esta coisa do Prémio Camões, sabes? Estou só a leite, desde ontem... e já fumei mais de quatro maços de cigarros.”
Criado em 1988 pelos governos português e brasileiro, o Prémio Camões distingue todos os anos escritores dos países lusófonos, e é considerado o mais importante prémio literário da lusofonia.
Miguel Torga foi o primeiro consagrado a recebê-lo, sendo Portugal, estatisticamente o país com o maior número de autores galardoados – nove – logo seguido pelo Brasil. Luandino Vieira, natural de Angola, foi o único escritor que recusou o galardão, "por razões pessoais", segundo disse.
Arménio Vieira é autor de quatro livros, três de poemas e dois romances, respectivamente, “Poemas” e “Mitografias, “O Poema, a Viagem e o Sonho”, “O Eleito do Sol” e “No Inferno”.
O escritor cabo-verdiano junta-se aos vencedores africanos José Craveirinha (Moçambique, 1991) e a Pepetela (Angola, 1997).
Vídeo de Arménio Vieira declamando dois poemas novos