Quinta, 30 Setembro 2010 00:00 Tiago Valoi
Conclui um estudo de avaliação do ar feito pela Ground Work em parceria com a Justiça Ambiental
Uma avaliação feita ao ar que se respira no Parque Industrial da Matola, ou seja, onde estão localizadas as principais indústrias da Matola, com particular destaque para a Mozal e Cimentos de Moçambique, apresenta uma conclusão assustadora: as populações que vivem naquela zona respiram um ar altamente poluído, com uma concentração de poeiras muito acima do nível estabelecido pela Organização Mundial da Saúde ,OMS.
É que a Organização Mundial da Saúde estabelece que o nível de poeiras que se deve concentrar no ar (ambiente), respirável, não pode ultrapassar 25 miligramas por metros cúbicos dentro de 24 horas.
Entretanto, da referida avaliação, feita em três locais diferentes o nível do município da Matola e arredores, concluiu-se o seguinte:
Na primeira semana, por exemplo, na zona do parque industrial de Beluluane, os investigadores da Ground Work constataram que a concentração de poeiras no ar era de 31.61 miligramas por metros cúbicos, dentro de 24 horas, e que as partículas mais abundantes no ar daquela zona eram de alumínio, ferro, zinco e cálcio.
Na segunda semana, os mesmos investigadores analisaram o ar da cidade da Matola e constataram que o mesmo continha nível de concentração de partículas venenosas de 110.61 miligramas por metros cúbicos, dentro de 24 horas, quer dizer, quatro vezes mais do que o recomendado. Essa é a mais alta concentração de poeiras na história do país.
Naquela zona, as partículas mais abundantes são de ferro, alumínio, zinco e de cálcio.
Na terceira semana, aqueles especialistas viriam a efectuar uma avaliação ao ar na zona da IMA (Indústria Moçambicana de Aço), na qual concluíram que a concentração de poeiras era de 31.61 miligramas por metros cúbicos dentro de 24 horas.
Estes dados mostram uma poluição do ar acima do normal, mesmo antes da Mozal iniciar a emissão de gases para a atmosfera sem filtro, num processo que deverá durar seis meses, conhecido por bypass.
Recorde-se que esta multinacional dissera, há meses, que os gases e fumos poluentes emitidos durante as suas actividades estão dentro dos standards estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. E será assim mesmo com o início do bypass.
Essa informação foi corroborado pelo governo de Moçambique, através do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental, MICOA que, nessa altura, afirmou ter encomendado um estudo sobre o impacto ambiental do bypass na Mozal. O mesmo, segundo o MICOA, foi efectuado pelos estudantes da Universidade Eduardo Mondlane e outros especialistas não identificados, e concluira que não haveria nenhum risco de saúde pública muito menos ambientais. Foi com base no tal estudo que o MICOA autorizou o bypass.
Entretanto, a Justiça Ambiental não estabelece uma relação directa das poluições da Matola com as actividades exclusivas da Mozal, dado que existem, lá, outras e várias indústrias.
“Mas está tem, também, a sua contribuição. Isso pode ser testemunhado pela presença de maior concentração de partículas de alumínio no ar recolhido”, disse Vanessa Cabanelas, da Justiça Ambiental, acrescentando depois que, para que se saiba com detalhes as indústrias que provocam maior nível de poluição seria necessário um estudo mais aprofundado.
As referidas poeiras são denominadas PM 2.5 e são partículas originadas, exclusivamente, pelas actividades industriais. As mesmas são quatro vezes menores que a poeira normal causada, por exemplo, pelo vento ou outra actividade normal – a chamada PM 10.
Rico Euripidou, um especialista ambiental sul-africano ligado à Groud Work, explicou ao nosso jornal que, devido às suas características, estas poeiras (PM2.5) têm a capacidade de penetrar até ao ponto mais recôndito dos pulmões humanos.
Riscos de saúde
Estas partículas, tal como explicou Rico, causam sérios problemas de saúde no sistema respiratório, provocando doenças pulmonares, entre outras, sobretudo nos asmáticos e nas crianças.
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»