06/10/2010
Moçambique é um "exemplo" a seguir no que diz respeito ao crescimento económico e à redução da pobreza entre os países que atravessaram longos períodos de penúria alimentar, destaca um relatório da ONU hoje divulgado em Roma.
O novo relatório da Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO), que analisa a situação da insegurança alimentar no mundo, destaca que desde a assinatura dos acordos de paz, em 1992, Moçambique "gozou de um período de notável estabilidade e converteu-se num caso de êxito em termos de crescimento económico e redução da pobreza".
Referindo o exemplo de Moçambique, o documento aponta que os países "podem sair de situações de crise prolongada", desde que tenham "uma governação melhorada", compreendam "as causas estruturais da crise" e as abordem com "medidas normativas sólidas".
"A participação das comunidades locais e a melhoria da coordenação entre doadores são também fundamentais", acrescenta a FAO.
O documento, lembra que Moçambique alcançou um "crescimento médio de oito por cento por ano entre 1996 e 2008", e que a produção agrícola moçambicana registou, a partir de 1992, "um aumento anual de 5,6 por cento, sobretudo graças à expansão da área de cultivo e ao aumento da mão de obra e produtividade agrícolas".
"A pobreza diminuiu 15 por cento entre 1997 e 2003, e registou-se um melhoria notável dos indicadores de desenvolvimento humano nas áreas da educação, mortalidade infantil e no acesso à água potável", refere a FAO, que destaca ainda que a incidência da fome no país "continua a diminuir de maneira constante".
Apesar destes avanços, o organismo da ONU lembra que o país "continua a ocupar a 172º posição no Índice de Desenvolvimento Humano" e ainda "tem muito trabalho a fazer para alcançar o primeiro dos Objectivos do Milénio", a erradicação da pobreza extrema e da fome.
A FAO salienta que o "caso bem sucedido de recuperação" de Moçambique deveu-se a diversos factores como a "estabilidade macro-económica, a reforma normativa, o investimento governamental em favor da população pobre e uma ajuda massiva de apoio ao desenvolvimento socio-económico".
Outro "aspecto fundamental" para a recuperação pós conflito, segundo o documento, foi o "esforço realizado para resolver as questões relativas ao acesso à terra", bem como a "solidez da coordenação e harmonização dos doadores no apoio aos programas governamentais".
A política agrária moçambicana, que entrou em vigor em 1997 e "conseguiu manter a ordem e a segurança alimentar e fomentar novos investimentos", é também apontada pela FAO como uma "peça chave" para os progressos alcançados.
"Este marco ajudou, em grande medida, a promover uma via mais equitativa e sustentável face ao crescimento económico e desenvolvimento social num país com uma população predominantemente rural", refere o relatório.
No início de Setembro, uma manifestação popular contra o aumento do custo de vida em Moçambique resultou em confrontos entre populares e a polícia, que se saldaram em 18 mortes (segundo fontes clínicas, o Governo só reconhece 14) e centenas de feridos e detidos. http://www.radiomocambique.com/rm/noticias/anmviewer.asp?a=5415&z=100 |