Integrado no XXII Curso de Literaturas em Língua Portuguesa e aproveitando o centenário da República Portuguesa, decorreu no Instituto Camões, em Maputo, durante toda a semana finda, palestras subordinadas a vários temas que de certo modo estiveram ligados à implantação da República em Portugal.
Na quinta-feira o tema foi: “Mitos e misticismos na literatura colonial – As dimensões do Império”. O orador foi o professor de Literatura da UEM Francisco Noa. Este começou por dizer que quando decidiu estudar a literatura colonial foi muito criticado. “As pessoas não compreendiam porque é que eu ia remexer em coisas do colonialismo distante.” Depois adiantou: “A literatura colonial desenvolveu-se muito por impulso do Estado Novo. Em Portugal, nos anos 20’, havia uma certa frustração por não haver uma literatura colonial, à semelhança do que acontecia em Inglaterra e em França.”
Para colmatar essa pecha surge então a Agência Geral das Colónias (AGC). Esta organiza saraus, encontros e concursos literários com prémios para os vencedores. “Há uma grande dinâmica da literatura colonial a partir dos anos 30’. Dar visibilidade ao império era o objectivo número 1, muito concorrendo para isso também as exposições Colonial do Porto, em 1934 e a do Mundo Português, em Lisboa, em 1940. Nessas mostras são expostas pessoas (nativos das colónias) como se de coisas se tratasse.”
Depois Noa destacou os mitos do império, “em que o outro (nativo) é sempre visto como uma falha. “A evangelização, a colonização, surgem para corrigir essa falha. O colono tem de ser diferente do outro.” Entre esses mitos Noa destacou o do império propriamente dito, que ter que ver com a nação colónia; o da ocupação; o da ruralidade; e o do povo eleito.
Em relação à evolução da literatura colonial, Noa, socorrendo de trechos de obras várias para exemplificar, destacou três fases, indissociáveis da própria evolução da História: “nas primeiras décadas 20 e 30 há claramente um deslumbramento com o desconhecido, com o exótico; numa segunda fase, nas décadas de 40 e 50, reproduz-se exactamente a visão do Estado Novo; numa terceira fase, ocorrida nas décadas de 60 e 70, assiste-se a uma complexidade muito maior, há uma maior integração com o espaço, encontrando-se já algumas semelhanças com a literatura moçambicana.”
Francisco Noa disse ainda que quando decidiu fazer um mestrado sobre o poeta Rui Knopfli não teve a menor dúvida que este, apesar de ter sido visto por muitos, sobretudo pelo poder político, como um poeta não-moçambicano, não teve dúvidas que se tratava de um poeta moçambicano. “A única diferença é que Craveirinha era um poeta da Mafalala e Knopfli era da Polana.”
Cristóvão Araújo