Viúva de Samora Machel indignada com a classe dirigente
Samora Machel Júnior critica o Governo por estar a fazer pouco para a preservação e divulgação da vida e obra do primeiro presidente de Moçambique independente. A viúva do primeiro presidente de Moçambique independente, Graça Machel, diz que os dirigentes de hoje não conseguem dar exemplo de transparência, honestidade e simplicidade, tal como era no tempo de Samora.
Esta ideia foi defendida ontem, durante as cerimónias de passagem dos 24 anos do fatídico acidente de Mbuzini, que vitimou mortalmente o primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, e a sua comitiva constituída por mais 33 pessoas.
De acordo com a antiga primeira-dama de Moçambique, os valores que eram característicos dos governantes na época de Samora, em particular do presidente Machel, foram desaparecendo e hoje tornaram-se um problema que suja o nome do país pelo mundo.
Aliás, Graça afirmou que os governantes de hoje já não respeitam mais a coisa pública. “Naquela época, não se falava de corrupção em Moçambique, porque Samora era um homem muito transparente a servir o povo e respeitava a coisa pública, e transparecia sobretudo a sua simplicidade”, referiu Machel, acrescentando que “hoje, o problema é que os dirigentes não dão exemplo de honestidade nem respeitam os bens públicos”.
Um dos exemplos que Graça citou para sustentar a sua tese é o facto de, em nenhum momento, Samora ter beneficiado de coisas públicas. “Só para ver, a casa onde ele viveu em Chilembene durante os 11 anos como presidente é toda simples. e todas as coisas que ele tinha demonstravam a transparência e rectidão com a coisa do povo”, disse.
No seu discurso, Graça Machel disse que o país perdeu todos estes valores que, durante os 11 anos da presidência de Samora Machel, caracterizaram o país. Porém, na óptica de Graça, estes valores foram perdidos durante a guerra dos 16 anos.
“Governo deve fazer mais para divulgar o legado do meu pai”
Samora Machel Júnior criticou o Governo, alegadamente, por este fazer pouco para a divulgação dos feitos de Samora Machel, o que faz com que os jovens não conheçam as obras deste herói.
“Acho que o Governo deve fazer mais para preservar e divulgar a imagem de Samora. Samora pertence à parte mais importante da história deste país”, disse Machel Jr., acrescentando que “os mais jovens não sabem quem é Samora Machel, nem o que fez, mas acho que esta é tarefa do Governo e do povo”.
Para o filho do primeiro presidente de Moçambique independente, se Samora fosse vivo, o país não seria o que é hoje e teria tomado um outro rumo. “Obviamente que não seria este o rumo. Não é este o país que meu pai tinha idealizado. Mas todos sabemos que cada presidente tem a sua maneira de ver o país e de governar”, explicou.
24 anos depois: morte sem esclarecimento
As reais circunstâncias do acidente de Mbuzini ainda estão por esclarecer, mas acredita-se que o mesmo tenha tido um cunho criminal, mesmo sem rosto dos seus autores.
De acordo com a tese do Governo, cuja comissão de inquérito foi dirigida pelo actual Presidente da República, Armando Guebuza, o referido acidente foi orquestrado pelo “regime sul-africano”, porém, observadores independentes assumem que a queda do avião presidencial foi um acidente aéreo “normal” na aviação.
Aliás, a dado momento, a viúva de Samora, Graça Machel, aventou a possibilidade de estar envolvida uma “mão moçambicana” na suposta conspiração que pôs termo à vida de Samora e sua delegação.
O acidente foi atribuído a erros do piloto russo, mas ficou provado que este tinha seguido um rádio-farol, cuja origem não foi determinada.
Falando ontem ao “O País”, Samora Machel Júnior disse acreditar que a verdade será conhecida, cedo ou tarde. “A verdade nunca se esconde (…), pode demorar mas há-de chegar, nós acreditamos nisso”.
Esta posição foi, igualmente, defendida pela viúva de Machel, Graça Machel, que diz ter esperança da chegada da verdade. “Se não for no meu tempo, será no tempo dos meus netos. O que eu sei é que a verdade vai chegar e todos vão conhecê-la”, referiu.
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»