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notcias: "Não é permitido envelhecer" - Grande reportagem: casa do artista
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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 06/11/2010 11:59
 

Foi Raul Solnado que, em 1965, veio do Brasil com a ideia de criar um lar para os artistas. Em 1978 começaram as buscas por um terreno. E em 1999 foi finalmente inaugurada a Casa do Artista, em Lisboa, que recebe não só actores mas todas as pessoas ligadas ao mundo do espectáculo. São 73 os residentes, mais dez os que lá passam o dia. A lista de espera é enorme. Neste lar há doenças e rugas, como em qualquer outro, mas também há uma cabeleireira que vem todas as semanas alegrar a vida dos residentes. Há idas ao teatro e visitas a qualquer hora. Há pequenos-almoços tardios e aulas de informática. Há um centro de fisioterapia, uma capela, médicos. E sobretudo: aqui ninguém se sente um estranho. Há amigos antigos, afinidades e uma memória partilhada. Coisas de artistas

É um salão como qualquer outro. Os secadores não param de trabalhar. Cheira a laca. Há um monte de revistas cor-de-rosa que as clientes folheiam enquanto os rolinhos moldam o cabelo. É um salão como qualquer outro, mas fica dentro da Casa do Artista e só abre à quarta-feira. Logo às nove da manhã, Deolinda chega com as suas escovas e boa disposição, para "pôr ainda mais bonitas" as artistas com hora marcada.

Deolinda tem um salão no Areeiro onde, desde há mais de 20 anos, Nini Remartinez ia fazer os seus penteados. Quando a antiga cantora, hoje com 91 anos, se mudou para o lar, em Carnide, Deolinda começou a aparecer para fazer visitas e daí até se tornar a cabeleireira da casa foi só um passo. "Foi um anjo que nos caiu aqui", garante Rute Betencourt, 93 anos, enquanto lava a cabeça. Deolinda já conhece toda a gente, dá beijinhos e miminhos, pergunta pela família e pelas doenças. "Era suposto vir só por três horas, mas às vezes saio daqui já depois do almoço, não consigo dizer que não." De tal forma que começou a trazer também uma ajudante, para lavar os cabelos e arranjar as unhas. "É muito importante para a auto-estima delas. Estão a envelhecer mas gostam de se sentir bonitas, como toda a gente." Como em todos os salões, há as clientes habituais, que vêm todas as semanas, e as que vêm só de vez em quando para um corte de cabelo. Também há senhores, mas menos. Mas, aqui, muitas das clientes aparecem ainda de roupão e outras vêm de cadeira de rodas (e outras nem sequer aparecem, pedem para ser atendidas no quarto). "Isto é um luxo. Conhece mais algum lar que tenha um salão assim?", pergunta Maria Ema, a antiga voz da rádio, uma das residentes mais antigas, que mora na Casa do Artista há 11 anos.

Adelaide João não entrega os seus cabelos a Deolinda. Apesar de viver na Casa do Artista há já um ano, continua a ir à sua cabeleireira de sempre, na Estefânia, onde morou durante 40 anos. "Aguentei imenso tempo mas chegou uma altura em que tive de deixar a minha casa, não tinha dinheiro. Era a renda, o condomínio, a luz, o gás. Tive de me render. Mas continuo a ir lá à cabeleireira, à farmácia, às compras. Ali todos me conhecem. Vou de táxi ou de autocarro, não me atrapalho nada", garante.

Lailai. É assim que todos a tratam. "Não, não me trate por Adelaide, sou Lailai", pede. A actriz que conhecemos de O Bando, da televisão e de tantos outros projectos tem 83 anos e continua, como sempre, atenta ao que se faz por esses palcos. "Não tenho família, mas tenho muitos amigos e combino com eles, vêm buscar-me muitas vezes para ir ao teatro." Foi ver Miguel Guilherme no Teatro Aberto ("o Brecht é sempre bom") e já marcou na agenda o que quer ir ver a seguir. E de vez em quando ainda tem convites para participar em alguns espectáculos. "Gosto muito de estar com gente jovem", diz. Mas a verdade é que a idade já não lhe permite trabalhar como gostaria.

Esta é uma das particularidades da Casa do Artista. Como existe segurança 24 horas por dia, os residentes podem sair quando quiserem e voltar a qualquer hora. Basta que avisem na recepção. "Às vezes chegam às quatro da manhã", ri-se Manuela Maria, a actriz que está na direcção da Apoiarte - Associação de Apoio aos Artistas. Não é só Lailai, os outros residentes também vão ao teatro e até têm saídas organizadas. Os espectáculos de La Féria e as revistas no Parque Mayer, por exemplo, são programa obrigatório. "São eles que pedem para ir e nós tratamos de tudo, dos bilhetes, do transporte", conta Manuela Maria.

José Lopes Victor não é artista dos palcos, mas da palavra. Entre um parecer jurídico e outro, dedicou-se à escrita. "Sou o único poeta do fado da minha idade vivo", diz, com uma pontinha de orgulho, o autor de mais de uma centena fados cantados por Fernanda Maria, Natália dos Anjos, Manuel Fernandes, Nuno de Aguiar, entre outros. "Ainda escrevo muito." Todos os dias, entre o almoço e o lanche, faz uma cantiga ou um poema. Um deles é sobre a Casa do Artista e a Apoiarte, uma forma de agradecimento por o terem recebido num momento de fragilidade, por causa de uma infecção renal: "Esta casa foi a minha salvação." Aqui encontrou amigos, como a cantora Tonicha e o marido João Viegas, com quem conversa bastante. Às terças e quintas tem fisioterapia. Mantém-se informado. Lê. Mas não esconde o seu desgosto por já não conseguir acompanhar a vida política e cultural como antigamente: "Agora estou mais na posição horizontal, a olhar para o tecto."

A vida na Casa do Artista começa cedo, com o sol a entrar pelas enormes janelas. A maioria dos quartos, com varanda, são para duas pessoas, todos têm casa de banho e acesso a televisão por cabo. Cada quarto é um pequeno mundo, decorado por cada residente com quadros, fotografias, almofadas, bibelots. "Muitos até já têm computadores, por aqui se vê que esta não é a população normal de um lar de idosos", comenta Manuela Maria. Muito antes de a legislação do País prever o casamento homessexual, o regulamento da Casa do Artista já aceitava casais homossexuais. Há ainda um quarto para receber residentes temporários - que pedem abrigo durante a recuperação de uma doença ou de uma intervenção cirúrgica, por exemplo, mas que tencionam voltar às suas casas. O pequeno-almoço é servido até às 10.30. "Seria impossível levantar as pessoas às sete da manhã porque os artistas têm outros hábitos", explica Manuela Maria. Antes das 13.00 já há residentes sentados nos seus lugares (sempre os mesmos) no refeitório - a rotina repete-se à hora do lanche e do jantar. Por volta das 22.00, no quarto ou na sala, há leite morno e bolachas.

Nas principais refeições há sopa e a opção por um prato de peixe, de carne ou dieta. O menu está afixado num placard no átrio, ao lado do horário da fisioterapia, das consultas médicas, dos aniversários do mês, dos cartazes dos espectáculos. Embora haja sempre queixas - é impossível agradar a todos, não é? - a opinião geral é de que a comida da casa é boa. A comida e o asseio é o que sublinham os residentes sempre que se lhes pergunta como está a correr a vida por ali.

"Isto é um lar, há situações mais complicadas, como há sempre", afirma Paula Trindade, a directora do lar. Há cadeiras de rodas a deslizar pelos corredores. Há residentes doentes, ou acamados, ou paralisados, ou a perder as faculdades intelectuais. "Mas tentamos proporcionar a todos as melhores condições e cuidados personalizados."

"A Beatriz Costa morou no Hotel Tivoli, eu vivo num hotel que é a Casa do Artista", afirma António Mateus Jubilot, músico de 85 anos. Veio há três anos, à procura de ajuda para cuidar da mulher acamada. Da dificuldade em ver a pessoa com quem partilhou à sua vida a perder as suas capacidades já quase não consegue falar. "Já perdi 23 quilos desde que cá estou", diz. Uma prótese na anca, um aparelho no ouvido, os passos vagarosos. "Mas estou muito satisfeito", diz. "Foi uma felicidade enorme vir encontrar muita gente com quem trabalhei, como por exemplo o cantor Domingos Barros."

O telefone no quarto de Isabel Magro toca várias vezes. É Júlio Coutinho, o antigo transformista, a perguntar-lhe se a vai encontrar ao almoço. É Nini Remartinez para saber se está melhor da gripe. Isabel Magro tem muitos amigos na Casa do Artista. "Nunca imaginei que vivesse tanto e nunca pensei que fosse assim, que com esta idade ia vestir calças de ganga e ter tanta energia. Sempre pensei que ia morrer mais cedo." Foi modista de alta-costura e companheira de Albano Santos, actor do Teatro Nacional. Quando já não tinha atelier nem pensava voltar a trabalhar, o marido morreu. E Isabel teve de procurar uma forma de ganhar a vida. Foi assim que também ela foi parar ao teatro, como mestre de guarda-roupa. Trabalhou no Teatro Maria Vitória e no Teatro Aberto, vestiu os actores da série de televisão A Tragédia da Rua das Flores. "Tenho muito boas recordações desse tempo", diz. Guarda os programas das revistas, assinados por Ivone Silva, Marina Mota e todas as outras estrelas. Trouxe para as paredes do seu quarto os desenhos de alguns dos fatos que mais gostou de fazer. Com uma energia contagiante, apesar dos seus 79 anos, Isabel recusa-se a parar. Na Casa do Artista todos sabem que é a ela que devem pedir para subir bainhas, coser botões, apertar casacos, fazer pequenos e grandes arranjos. E Isabel não sabe dizer que não. "Ontem fiquei a costurar até às três da manhã." Não se queixa. Só lamenta ficar com menos tempo para outra das suas paixões, a escrita: "Gostaria de me dedicar só à escrita, sobretudo contos." Escreve à mão, por enquanto, mas não por muito tempo. Depois de ter frequentando durante um ano as aulas de informática, Isabel já arranjou um computador e está só à espera de ter um bocadinho mais de tempo para se pôr a praticar.

Às segundas de manhã, o professor Gouveia de Carvalho vem até à Casa do Artista para as aulas de informática, com alunos entre os 65 e os 93 anos. "Muitos deles nem sabiam o que era um computador nem como mexer no rato", conta. No final do ano lectivo, já todos tinham aprendido a escrever em Word, e, este ano, vão descobrir as maravilhas da Internet. As aulas decorrem lentamente, ao sabor das conversas e das histórias de uns e de outros: "São pessoas muito interessadas mas o mais importante nestas aulas não é a matéria, é elas sentirem que não estão paradas no tempo."

Pequenas comodidades, que não encontram em muitos lares para a terceira idade: as visitas são bem-vindas a partir das 11.00 da manhã, e, ao longo de todo o dia, elevadores facilitam as deslocações, uma das salas de convívio é destinada aos fumadores e há até uma capela, sempre iluminada, para quem queira retirar-se em oração. Na "sala azul" - a sala de visitas, com sofás e cortinados e com as paredes repletas de quadros e fotografias de Maria Matos, Fernando Gusmão, Henrique Santana, Armando Cortês, Ivone Silva, muitos outros - o actor Silva Heitor recorda a noite da sua estreia em palco, em 1964: "Quando o pano se abriu, ouvi aquele 'oh' do público, e foi uma sensação incrível", recorda. Foi então que percebeu que, apesar de continuar a ter o seu emprego na Companhia Nacional de Navegação, só seria verdadeiramente feliz no teatro.

Com 89 anos, Silva Heitor - o actor que foi o Administrador na estreia da peça A Noite, de José Saramago, em 1979 - está desde Fevereiro do ano passado na Casa do Artista. "Estou, mas não vivo aqui. Percebe a diferença?" Ainda mantém a sua casa, arrendada, mas sabe que muito dificilmente voltará para lá. "Estava sozinho, é muito complicado. Mas também não é fácil deixarmos as nossas coisas." A timidez impede-o de se sentir completamente à vontade. "Quando cheguei, estava cá o Couto Viana, que foi o primeiro encenador com quem trabalhei. Ficávamos na mesma mesa e era sempre muito divertido. Mas agora só estão senhoras na minha mesa, são boas pessoas mas não é a mesma coisa."

Não foi só Couto Viana. Foram Morais e Castro, Badaró, Jacinto Ramos. Raul Solnado e Armando Cortez, que não moravam lá mas eram da casa. Outros menos famosos. De cada vez que morre alguém na Casa do Artista, é como se morresse uma pessoa da família. "Não se consegue ficar indiferente. Desde que cá estou vi muita gente chegar, mas também vi muitos partir. Faz muita impressão", diz Maria Ema. "E faz-nos pensar na nossa própria morte", acrescenta Silva Heitor. Na parede, logo à entrada, lê-se, em letras grandes, a frase: "É proibido envelhecer." Para que ninguém ali se esqueça. E esse é o desafio diário de todos os que vivem e trabalham nesta casa de artistas.

 

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1704327



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Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 2 de 5 en el tema 
De: helenamarinho Enviado: 06/11/2010 23:47
Isabelinha, Deus quer, o homem sonha e a obra nasce. Um belo sonho realizado, e coisa estranha cá neste País, e funciona, funciona mesmo e muito bem! Bem hajas Raul Solnado!! Fico feliz quando vejo coisas bonitas como esta.... Bjos Lena

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 3 de 5 en el tema 
De: helenamarinho Enviado: 06/11/2010 23:47
Isabelinha, Deus quer, o homem sonha e a obra nasce. Um belo sonho realizado, e coisa estranha cá neste País, e funciona, funciona mesmo e muito bem! Bem hajas Raul Solnado!! Fico feliz quando vejo coisas bonitas como esta.... Bjos Lena

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De: mayrameireles Enviado: 08/11/2010 01:36
Uma pequena demonstração do nosso
Beijinhos às duas, Mayra

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De: isaantunes Enviado: 17/11/2010 11:09
Gostei! Isabel


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