07/12/2010
Os utilizadores do Porto da Beira, um dos maiores de Moçambique, localizado na província central de Sofala, estão agastados com os gestores desta infra-estrutura por causa dos prejuízos registados em consequência da morosidade na atracagem de navios.
O período de espera para a atracagem de navios chega a ser de 20 dias devido a problemas de vária ordem, com destaque para as marés, mau tempo, assoreamento do canal de acesso ao porto, insuficiência de equipamento de manuseamento de carga no recinto portuário, entre outros.
“É preciso que os gestores invistam urgentemente para a renovação e aumento do equipamento para acompanhar o incremento de cargas no porto”, disse o presidente da Associação Nacional dos Agentes de Navegação, Trânsito e Operadores Portuários (ASANTROP), Carlos Bessa, citado pelo “Diário de Moçambique”.
Segundo explicou Bessa, as empresas de navegação e outros operadores portuários somam prejuízos pelos dias que ficam a espera pela sua vez de manusear a carga, uma vez que, por exemplo, um navio tem um custo de facturação de mil dólares/dia para as empresas de navegação.
Por outro lado, os operadores podem também ser penalizados pela demora de retirada de contentores, chegando mesmo a pagar uma multa de entre 10 a 15 dólares por dia.
“Portanto, é só fazer as contas do quanto dinheiro tem de se pagar quando a embarcação demora atracar e as operações no porto não forem céleres”, frisou Bessa.
Para os operadores, este problema resulta do grande aumento de mercadorias importadas e exportadas através do porto da Beira nos últimos anos, que, no entanto, não foi acompanhado pela melhoria das capacidades de manuseamento instaladas nesta infra-estrutura portuária.
Por exemplo, só o número de contentores manuseados este ano duplicou em relação ao de 2009, mas o Porto da Beira continua a usar dois guindastes adquiridos há 20 anos.
Entretanto, a empresa gestora do Porto da Beira, a Colnelder, diz ter um plano de investimentos em equipamentos cuja primeira fase está avaliada em 30 milhões de dólares americanos. Este projecto, com planos a curto e médio prazos, ainda carece da aprovação do Conselho de Administração da empresa.
O chefe de Marketing e Vendas da Colnelder, Félix Machado, disse que ainda este ano a empresa prevê adquirir seis empilhadeiras para contentores cheios, duas para contentores cheios, além de 15 camiões de reboque com atrelado e 16 empilhadeiras de três toneladas, entre outros investimentos.
Machado reconheceu o problema de longo tempo de permanência nos terminais de contentores de carga que, segundo ele, deve-se a demora do seu escoamento, facto que também tem influenciado negativamente a actividade portuária.
Um dos factores na origem deste problema é o mau funcionamento do sistema ferroviário, situação que obriga a todos os importadores e exportadores a optarem pelo transporte rodoviário, que também não tem conseguido responder a procura existente.
Aliás, sobre esse problema, Cândido Jone, director executivo da empresa proprietária do Porto da Beira, Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM)- Centro, acusou a concessionária CCFB de ter 'morto' o sistema ferroviário da Beira.
“A tradição dos Caminhos de Ferro aqui em Moçambique era de que 80 por cento da carga manuseada no Porto deve ser escoada via ferroviária para descongestionar o porto… mas, infelizmente, o que está a acontecer é que a nossa concessionária CCFB matou o sistema ferroviário da Beira. As cargas tradicionais que eram tipicamente ferroviárias, como sejam o granito e outros minerais do Zimbabwe, hoje vêm de camião”, disse Jone.
No entanto, Jone falou também dos planos de investimentos existentes com vista a responder esta grande procura, incluindo a expansão da área destinada a acomodação de contentores e a importação de equipamentos usados no recinto portuário.
(RM/AIM)
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