Um romance sobre Moçambique ou sobre portugueses em África
Uma história de Portugal em Moçambique retratada por um jornalista e escritor luso-moçambicano, José Rodrigues dos Santos, que nasceu em Sofala. Inspirado na vida do pai, “Anjo Branco” não é uma homenagem, é um olhar à África e ao massacre de Wiriyamu.“Anjo Branco”, o novo livro do jornalista e escritor luso-moçambicano, José Rodrigues dos Santos, leva-o de volta à África que o viu nascer e onde o pai, como médico, assistiu à dolorosa tristeza das vítimas do massacre de Wiriyamu.
Depois de sete romances - como escreve Pedro Justino Alves na entrevista que faz ao escritor para o “Diário Digital” de 15 deste mês – José Rodrigues dos Santos finalmente virou-se para dentro, para à sua família, uma vez que “Anjo Branco” é inspirado na história do seu pai.
Contudo, Rodrigues dos Santos, apesar de reconhecer essa inspiração paterna, nega ser este um romance sobre a vida do seu pai, preferindo abrir o espaço para abranger a presença de Portugal em África, com as suas grandezas e misérias.
“[Anjo Branco] não é nenhuma homenagem, é uma história. Nesta história procuro reconstituir um tempo e um lugar: a África portuguesa da década de 1960.”
Mas, também o livro vai se estender por outros episódios como o da guerra colonial. José Rodrigues dos Santos diz ter procurado, com este livro, trazer um grande romance sobre os portugueses em África. Uma espécie de “auto-análise” da vida dos portugueses no continente africano.
“É verdade que sempre achei que faltava, na literatura portuguesa, o grande romance sobre os portugueses em África. Havia o ‘Equador’, claro, mas apresentava uma outra época. De modo que procurei preencher essa lacuna com ‘O Anjo Branco’. Se fui ou não bem sucedido, os leitores dirão”, explica Rodrigues a DD.pt.
Mas, uma das manchas negras da ocupação portuguesa em África foi o massacre de Wiriyamu, que Pedro Alves o caracteriza como “um dos momentos mais tristes da história recente”.
O morticínio, como o chama o blog group.xiconhoca.com, foi perpetrado pelas tropas portuguesas a 16 de Dezembro de 1972, em Wiriyamu, Chawola e Juwau. De acordo com este blog, as autoridades coloniais começam por negar até a existência de Wiriyamu. Mas, os relatórios chegam à Europa e são amplamente divulgados pelo padre Luís Afonso da Costa, que tinha sido expulso de Moçambique, pelo padre branco Cesare Bertulli e, depois, com mais sucesso, pelo padre Adrian Hastings, no “The Times”.
Pela amplitude desse massacre, segundo José Rodrigues dos Santos não “é possível concordar com o que foi feito. E Wiryiamu, embora o maior massacre, não foi o único”. No entanto, teve que retractar esse momento, aproveitando-se também da sua experiência como jornalista em cenários de guerra.
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