07/02/2011
(Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, preside a União Africana)
O secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), Tomaz Salomão, considera uma inevitabilidade que a União Africana seja por vezes dirigida por ditadores e diz que quem lidera a organização são países e não pessoas.
No passado fim-de-semana, a União Africana nomeou para a presidência a Guiné Equatorial, cujo chefe de Estado, Teodoro Obiang, está no poder há mais de 30 anos, onde chegou através de um golpe de Estado.
Em entrevista à Agência Lusa em Maputo, na qual fez um balanço dos 30 anos da SADC, o moçambicano Tomaz Salomão lembrou que também outro ditador, Muammar Kadafi, que está no poder há 40 anos, foi recentemente presidente da União Africana.
"O importante é que enquanto não se alterarem as regras de eleição da presidência o que se está a eleger não é a pessoa, é a Guiné Equatorial. Sucede que hoje o Presidente (da Guiné) é aquele cidadão", diz.
"São ditadores, mas pronto, paciência... são as pessoas que estão lá", afirmou, lembrando que os critérios da liderança da organização não obrigam à realização de eleições democráticas.
Para África defende também a consolidação e o reforço da capacidade do Parlamento Pan-Africano, mantendo o Fórum da SADC com as funções atuais, e garante que as metas de integração traçadas pela organização que representa estão a decorrer na normalidade.
No ano passado devia ter entrado em funcionamento na SADC a União Aduaneira mas os Estados membros adiaram a decisão e só em dezembro deste ano será apresentado um relatório sobre quando é que deve avançar.
São, diz Tomaz Salomão, "processos complexos", nos quais é preciso integrar todos os países, pelo que se concluiu que era melhor consolidar a zona de comércio livre e "dar algum tempo para terminar as negociações relativas ao modelo, parâmetros, condições e tarifa externa comum, sobre a União Aduaneira".
De acordo com o responsável, o atraso não coloca em causa as metas traçadas pela SADC, de em 2015 avançar para o mercado comum, em 2016 para a união monetária e em 2018 para a moeda única. Até porque, frisa, "são datas indicativas todas elas".
Sobre os 30 anos da organização, comemorados em 2010, Tomaz Salomão afirma que a grande meta, que esteve na origem da criação da SADC, foi cumprida: "A África Austral é hoje politicamente livre".
"Agora põe-se o segundo desafio: o desenvolvimento socioeconómico, e para isso é preciso que se mantenha a paz, estabilidade política e a segurança. Se isso acontecer seguramente que os 50 por cento de pobres dentro de 10, 15 ou 20 anos vão reduzir-se", afiança.
E prova de que o bloco de 15 países está no bom caminho são os crescentes problemas de imigração ilegal, "o preço da paz". Milhares de ilegais tentam diariamente chegar a países da África Austral, em fuga de situações de guerra, instabilidade e miséria noutros pontos do continente.
Tomáz Salomão, 56 anos, cumpre o segundo mandato como secretário executivo da SADC, uma comunidade que junta entre outros países a África do Sul, Angola e Moçambique.
É doutorado em economia pela Universidade de Baltimore, Estados Unidos. Em Moçambique já foi ministro dos Transportes, Educação e Finanças.
(RM/Lusa)
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