20/05/2011
O filme é uma das várias estreias que irão ocorrer este fim de semana nas salas de cinema do Brasil. Tal como acontece quando uma nova produção cinematográfica vai a exibição pela primeira vez, os críticos fazem as suas observações em torno das propostas. “O Último Voo do Flamingo”, do realizador moçambicano João Ribeiro, também passou pelo crivo de dois críticos: Rodrigo Zavala e Daniel Schenker, que com a devida vénia aqui disponibilizamos. Duas curiosidades chamam a atenção em "O Último Voo do Flamingo": a rara oportunidade de se assistir a uma produção de Moçambique e o facto de ser baseada numa das obras do celebrado autor Mia Couto. Dirigido pelo politizado João Ribeiro, que estudou cinema em Cuba e teve como mestre o escritor Gabriel Garcia Márquez, o filme procura não apenas mostrar um país com conflitos históricos, mas também a riqueza da sua cultura e misticismo. Tudo isso, narrado com a destreza do discurso literário de Couto, que elegantemente oscila entre o fantástico e o poético. Tal como no livro, o palco é a pequena vila de Tizangara (esta fictícia), no período seguinte à guerra civil em que o país esteve mergulhado até o início da década de 1990. Na época, tropas da missão de paz da ONU foram enviadas para garantir uma tranquila transição política. Já no inicio do romance, um facto insólito: um pênis é encontrado no meio da rua de Tizangara, pertencente a um dos soldados estrangeiros. A aparição, precedida de uma explosão, faz com que as autoridades da ONU enviem o italiano Massimo Risi (Carlo D'Ursi) para investigar o caso. A estranheza do protagonista com o seu entorno, acompanhada também pela do espectador, só aumenta com o desenrolar da investigação. A começar pela identificação da vítima, realizada pela prostituta Ana Deusqueira (a brasileira Adriana Alves, da novela "Duas Caras") com base na sua, por assim dizer, expertise. Quanto mais se aprofunda na sua missão, o oficial precisa enfrentar a sua própria resistência ao mundo fantástico em que mergulhou, povoado por administradores corruptos, feiticeiros e fenômenos sobrenaturais inexplicáveis para o italiano. Cada um dos personagem apresenta uma versão dos factos, que evocam sonhos, memórias e magia. Com um texto difícil de se transpor para as telas, o projecto de João Ribeiro mostrou-se ambicioso demais para a sua estreia em longas-metragens. Embora preserve alguns trechos do livro, a narrativa mostra-se pouco fluida, mesmo irregular no equilíbrio entre o poesia e prosa. Com excepção de Carlo D'Ursi e Adriana Alves, o elenco mostra-se amador frente à densidade que deveriam ter os personagens nas cenas planeadas pelo director. Embora corajoso em levar Mia Couto às telas, o resultado do projecto de Ribeiro mostra-se menor, mas nem por isso menos curioso. (Por Rodrigo Zavala, do Cineweb) http://www.radiomocambique.com/rm/noticias/anmviewer.asp?a=8385&z=106 |