Da hotelaria para o têxtil, de Moçambique para Portugal e para o mundo. Assim se pode contar a história de Joana Teixeira Duarte que criou a marca Kapulana e que a quer levar aos quatro cantos do globo.
Joana Teixeira Duarte é moçambicana e viveu quase toda a sua vida em África. Nasceu em Moçambique e ainda sentiu algumas privações dos tempos de guerra. “Fui da época em que se comia essencialmente carapau e repolho. As famílias tinham um cartão de abastecimento e íamos às cooperativas buscar os alimentos. Mas fui sempre muito feliz. Quando não se tem ou não se conhece não sentimos a falta”, diz sempre bem-disposta.
Viveu em Moçambique até aos 18 anos, os três primeiros em Nampula e os restantes em Maputo. Depois foi estudar para Portugal para o curso de gestão hoteleira, sentindo sempre saudades do calor dos trópicos. Talvez por isto a primeira oportunidade que teve procurou logo ir para fora. Estagiou no Brasil, em Pernambuco numa cadeia hoteleira e quase lá ficou a trabalhar caso não tivesse surgido o convite para ir para Angola. “Com 23 anos, eu e a minha mala fomos para Luanda abrir o hotel Trópico”, conta, e apesar de ser um negócio da sua família Joana Teixeira Duarte afiança que lhe custou muito. “Eram tempos duros e estava sozinha em Angola”. Ainda em Luanda participou na construção do hotel Alvalade.
Em 2002 surgiu o convite para regressar a Moçambique para ajudar a transformar o hotel Avenida, de quatro em cinco estrelas. “Fiquei radiante. Ia regressar a casa. A minha mãe vive em Maputo e senti um apoio completamente diferente.” Ao fim de dois anos começou a sentir que lhe faltava experiência numa grande cadeia de hotéis, a nível europeu, foi então que resolveu ir para Paris para o grupo Accor, mais concretamente para o hotel Sofitel, numa espécie de estágio onde ficou dois anos. “Aí concretizei o sonho de ver como funcionava uma grande cadeia hoteleira. Estive mesmo na sede. Aprendi imenso”, afiança. Paris estimulou-a a querer saber mais, por isso fez ainda um MBA e foi durante esse curso que descobriu a sua veia empreendedora, afinal a carreira na vertente da hotelaria não era o que a motivava para um futuro próximo. “O que seria, então?”, questionou-se.
Foi até Portugal de férias e o inevitável surgiu na sua vida, encontrou o João. Casou-se. Teve um filho e já vem outro a caminho. Ainda teve um convite para regressar a Luanda para gerir um hotel, mas a vida familiar não se compadece com esse voo, Joana sabe-o por experiência própria. Seria numa das suas visitas a Moçambique que nasceria a ideia de criar a marca Kapulana. As ruas de Maputo enchem-se de cor não só com as mulheres que usam estes panos típicos mas também porque já se começa a ver algum artesanato e mesmo peças do dia-a-dia à venda nos mercados, como malas, sapatos, chapéus, entre outros tipos de indumentária.
Joana Teixeira Duarte não teme essa concorrência, porque o seu objectivo é levar a cultura moçambicana a todo o mundo. “Não quero ficar confinada a Maputo. E este projecto tem por detrás uma vertente social que ainda não está em marcha. Quis primeiro testar se dá rentabilidade para depois ajudar as mulheres a terem um ofício”, desvenda.
Neste fase ainda embrionária a empreendedora criou a marca, todo o estacionário e fez vários modelos, incluindo uma linha para bébe que já está à venda numa loja em Lisboa, a Piri-Piri, depois também faz revenda através do seu site (www.Kapulana.com) e em Moçambique está presente na loja Bazart, que fica no Centro Franco Moçambicano.
“A Kapulana tem tido muito boa aceitação, apesar de já se fazerem muitos artigos em Kapulana, os nossos têm um design diferente e além disso a linha de acessórios para bebé feitos com Kapulanas é uma novidade”, garante, sempre a sorrir. O passo seguinte é exportar para vários países da Europa, EUA e Canada, Brasil e talvez Australia.
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@Teresa Cotrim