A maior parte dos grandes projectos começa com uma grande ideia. Há coisas que começam por motivos pessoais outras por motivos empresariais. Há coisas que começam por motivos bons, outras por motivos maus. The Big Hand começou porque David Fernandes rumou a Moçambique à procura de respostas. Um exemplo a seguir?
A grande missão da Big Hand? Nas palavras do seu fundador, ‘[The Big Hand] tem como missão construir escolas amigas da criança. A ambição The Big Hand é garantir que as crianças possam crescer num ambiente saudável e seguro de modo a que possam ser melhores seres humanos e a partir daí mudar o mundo. A nossa ambição é que todas as crianças possam ir à escola, tenho acesso à água potável, saneamento básico, que tenham acesso a condições estruturais e seguras e ao mesmo tempo, tenham acesso a professores motivados e com condições de trabalho.
No segundo ano em que estava no projecto, David teve a oportunidade de participar num projecto na Guiné-Bissau e na altura coincidiu com um conflito armado que estava a decorrer com as tropas da Guiné e os rebeldes de Casa Mansa. Nesta altura, o trabalho do professor era lidar com as famílias deslocadas pelo conflito. Se por um lado, esta foi uma experiência muito enriquecedora a nível humitário, por outro lado, a nível emocional, ‘foi duro e difícil porque ver aquelas crianças numa situação de tristeza profunda e de situação de risco e vulnerabilidade foi algo que nos marcou’.
Num tom raro de ouvir, David fala sobre a necessidade de agir, mais do que isso, sobre a necessidade de mudar. ‘As crianças são por natureza felizes e a criança africana é ainda mais feliz e para que uma criança perca a alegria de ser criança em África tem que ter mesmo que ter passado por muito’ conta o fundador da organização. Em termos práticos, existe um sistema de apadrinhamento em que ‘os padrinhos com 25€ por mês possam garantir que aquela criança tenha acesso às condições básicas precisas para integrar a escola, para não sofrer de abandono escolar’. Além disso, o dinheiro que sobra de cada criança vai para um bolo comunitário de forma a que horas os necessitados usufruam daquela ajuda.
Na opinião de David Fernandes, ‘esta lógica remarca a diferença entre assistencialismo puro – ou seja, ajudar por ajudar – ou resolver o problema e nós queremos mesmo resolver o problema. Ao actuar sob a escola, The Big Hand está a actuar perante todas as outras crianças incluindo as nossas crianças órfãs em simultâneo com a comunidade.’
Porque trabalha directamente com a comunidade The Big Hand ‘Foi muito bem recebido porque as pessoas têm necessidades e quem lá está a viver sem acesso à água, sabe o desconforto que é não ter esse bem precioso, por isso qualquer ajuda que venha é sempre bem-vinda’, justifica David.
Contudo, exactamente porque a maior parte destas crianças está vulnerável, há cuidados a serem tidos em conta para evitar que se criem expectativas. ‘Os padrinhos que poderão visitar as crianças são devidamente acompanhados pela equipa do terreno e naturalmente quando nós identificamos alguma situação de perigo para a criança – algum padrinho que não está preparado, que poderá fazer promessas - o padrinho é afastado até estar preparado para dar à criança aquilo que ela precisa.'
Grande parte do trabalho na The Big Hand é feito por voluntários em diferentes áreas. Enquanto em Moçambique a organização apoia-se nos parceiros locais para agir no terreno – um dos parceiros é uma missão católica, as Irmãs Salvaturianas, a ATM (Associação Tios de Moçambique) e neste momento estão a conversar com o Município de Chimoio que também apoia numa das escolas. Em Setembro, David vai legalizar The Big Hand em Moçambique para que tenham também pessoas no terreno.
Meio em jeito de confissão, David Fernandes fala sobre as ambições deste seu ‘menino’. ‘A ambição The Big Hand, tal como a ambição do David é fazer deste um mundo melhor. Como? Através das crianças. Crianças educadas e informação.'
Eliana Silva@SAPO