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notcias: Moçambique - Medicina Tradicional - Grande entrevista
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De: isaantunes  (Mensaje original) Enviado: 31/08/2011 09:05

 

Medicina Tradicional - Grande entrevista

Salvaguardar detentores do conhecimento

A protecção do que é considerado conhecimento ou propriedade intelectual na área da medicina tradicional em Moçambique é algo novo e, quiçá, pertinente no Plano Estratégico do Instituto de Medicina Tradicional. Este instrumento inovador irá salvaguardar não só os interesses dos detentores do conhecimento em medicina tradicional, como também procurar criar mecanismos de beneficiar as comunidades onde as plantas são extraídas e/ou inseridos os conhecedores das mesmas. O facto acontece numa altura em que o país assiste ao fenómeno da devastação descontrolada das matas e, em muitos casos, a favor de interesses alheios à sociedade moçambicana. No campo da pesquisa científica, também se nota um vazio, com os praticantes a reivindicar não só a patente por terem comparticipado de forma determinante para o sucesso de uma certa investigação, como também por falta de dividendos dos resultados da mesma. É no contexto deste e de outros aspectos que conhecedores da medicina tradicional têm sonegado informação que possuem sobre muitas plantas determinantes para a cura noutras medicinas, com destaque para a moderna. No quadro da apresentação, recentemente em Maputo, do Plano Estratégico do Instituto de Medicina Tradicional entrevistamos Felisbela Gaspar, directora desta instituição, que nos falou dos passos dados rumo à harmonização do uso e conservação de plantas medicinais nos locais de venda e de processamento, da observância do fenómeno biodiversidade, bem como da articulação entre aquela estrutura e os praticantes, espalhados em todas as províncias do país.
 

De seguida passamos as partes mais significativas da conversa mantida com Felisbela Gaspar

NOTÍCIAS (NOT) - Tendo em conta o previsto no plano estratégico do Instituto de Medicina Tradicional, de que forma se pretende salvaguardar o direito de propriedade intelectual dos fazedores da medicina tradicional?

Felisbela Gaspar (FG) - No âmbito do plano estratégico, o que temos que fazer é definir quais são as linhas-mestras que nós - praticantes de medicina tradicional, o Instituto de Medicina Tradicional e Sociedade no geral - queremos, para proteger aquilo que é o direito do conhecimento tradicional. Este direito passa por definirmos o que queremos proteger em primeiro lugar, como conhecimento tradicional e de que forma faremos essa protecção, por se tratar de uma situação complexa, uma vez que o conhecimento nem sempre é individual. É difícil termos alguém que diga, por exemplo, que trata diarreia com Nkonola (cientificamente designada de terminália sirícia) por se tratar de uma planta conhecida por muitas outras pessoas. A pessoa que afirma isso, provávelmente, aprendeu de uma outra que também existe. Para termos alguém que diga: Eu é que preparei esta poção e é exclusiva minha, temos que definir o que fazer para certificar se na íntegra aquela poção é exclusiva daquela pessoa que nos está a apresentar e podermos registar como patente, como direito de propriedade desse mesmo indivíduo.

NOT - Numa situação em que se tem dúvida da autoria, como é que se procede?~

FG - Nesses casos, o direito do conhecimento tradicional tem que ser entregue a uma comunidade ou a um grupo de pessoas. Normalmente, funciona nestes moldes quando estamos a falar do conhecimento tradicional. Quando estamos a falar da timbila como património cultural por conseguinte com direitos, a patente de timbila não pode ser uma detenção de alguém mas sim de uma comunidade, razão pela qual a comunidade de Zavala é detentora desta patente internacional sobre este instrumento musical tradicional. A decisão tem que ser feita nestes moldes, sem querer dizer com isso que não haja espaço para conhecimentos individuais. Agora, quando estamos a falar de pesquisa na área de medicina tradicional, temos que saber primeiro de onde trouxéssemos esta informação, quem  nos cedeu? Quem são as entidades na comunidade que dominam este tipo de informação para depois definirmos acordos de parceria e memorandos de entendimento no sentido de que, depois de obtermos a informação desejada, a qual estamos a estudar esta planta, o que vamos fazer com os benefícios que forem a advir dessa pesquisa. É por isso, quando falamos da intervenção comunitária, olhamos sempre para grupos, olhamos sempre para uma comunidade. É como no desenvolvimento dos parques transfronteiriços, onde há turismo lá dentro, insumos e lucros e estes lucros revertem a favor de uma determinada comunidade e não pessoas porque estes direitos tradicionais são complicados.

NOT - Nesta complexidade, há alguns praticantes de medicina que reivindicam a falta de estímulo e, por conseguinte, sonegam a informação determinante para fins de pesquisa científica. Como é que o Instituto lida com isso?

FG - É um problema, sim. Como vê, a medicina tradicional está desprovida de meios e normalmente quem tem meios são pessoas de outras medicinas ou de outros níveis superiores. É uma verdade quando eles dizem que esta falta de incentivo não estimula a colaboração dos praticantes no sentido de darem uma informação completa. O problema é que há pessoas que não sabem quais são os trâmites que regem este tipo de investigação. Qualquer tipo de investigação sobre o conhecimento tradicional – plantas ou outra coisa parecida - deveria passar por acordos primários. O praticante de medicina tradicional deve saber que, quem quer que seja, primeiro deve justificar o que pretende com uma dada informação. Segundo, o que vai fazer com ela e em terceiro lugar, depois de obter resultados como é que ele vai dividir esses resultados, se voltará a esse lugar para apresentá-los e se tiver que usar isso para benefícios comerciais qual é a parte de cada um. Isso tem que ser claro desde o início, o que não está a acontecer. Também o que acontece muitas vezes é que os colegas da medicina tradicional têm se deixado levar por muito pouco, em certos casos. Quando se fala de benefícios, não é um benefício imediato. Tem que ser um benefício de longo prazo. Não me interessa chegar lá e dizer o seguinte: olha! vou te dar mil meticais pela informação que me estás a dar. Mas nós não sabemos quando esta pessoa vai ganhar ou vai perder. O importante não é receber os mil meticais do momento, mas sim firmar acordos e memorandos de entendimento que nos valerão no futuro, naquelas situações em que viermos a descobrir que esta pessoa depois pegou numa informação e está a fazer dela um bem pessoal, em termos económicos e acções que possam render. Essa pessoa tem que saber que uma parte dos rendimentos deve reverter a favor da fonte da informação ou para aquela comunidade detentora da mesma. Se isso não acontecer, mediante aqueles documentos, o lesado tem todo o direito de submeter a queixa. Mas o mal é que estas pessoas estão desprovidas deste conhecimento, de meios que os possam ajudar a reivindicar os seus direitos.
O prazo e a conservação: elementos a ter em conta
  Muitas plantas medicinais, desde raízes, folhas, tronco e/ou mesmo poções e xaropes são submetidas a temperaturas variadas e por longo tempo, sem se saber ao certo se as propriedades curativas estão ou não dentro do prazo e se o seu consumo produzirá efeitos desejados no organismo do paciente.

NOT - A conservação de medicamentos muitas vezes expostos nos mercados é nalgum momento questionada. Como Instituto, de que forma reagem a esta situação que pode perigar o utente, no lugar de ajudar?  

FG - A questão da conservação dos medicamentos está prevista neste plano estratégico, mesmo porque discutimos como uma das nossas actividades, fazer uma vistoria regular daquilo que é o aspecto da conservação, o nível de contaminação não só nos mercados onde se vende as plantas como também nos locais usados pelos praticantes da medicina tradicional. Muitas vezes nós vemos as nossas raízes e plantas a secarem no chão, em casa do praticante. Ele quando tem um cliente, vai buscar aquela raiz ou planta que estava ao sol, à chuva, no chão e aos factores higiénicos, adiciona-se o problema do prazo. Quanto tempo estas plantas ficam no quintal, no mercado, expostas ao sol, à poeira ao vento, etc? e não há uma preocupação da parte de quem as usa de dizer isto já deu o que tinha a dar, então esse prazo é ou não do conhecimento do praticante e se é observado ou não. Os frascos dos líquidos usados para os xaropes ficam muito tempo expostos e muito tempo preparados. Gostaríamos de sentar com os praticantes da medicina tradicional no seu todo, incluindo os vendedores e discutir sobre este assunto para capacitá-los, discutir com eles formas de conservação destas plantas para que não constituam perigo.

NOT - De que forma o Instituto articula com os praticantes, tendo em conta o elevado número de pessoas envolvidas?

FG - A maior parte dos praticantes têm associações e estas são as que nós contactamos. Em cada distrito temos um ponto focal do Instituto de Medicina Tradicional, o que facilita a articulação entre a Saúde e as diversas associações ou programas de medicina tradicional nas comunidades rurais. É fácil, por via de um representante, pedirmos participantes para um determinado trabalho, isso em todas as províncias.

NOT - Tendo em conta que os medicamentos resultam de abate de árvores e espécies nalguns casos protegidas, estará a questão da biodiversidade salvaguardada no vosso plano estratégico?

FG - É um fenómeno preocupante e com espaço no nosso plano estratégico. Estamos a discutir a nível das associações sobre como um problema que se está a verificar, não só por se tirar a planta mas também pelo facto de se estar a retirar plantas para fora do país e sem nenhum controlo. Estamos a trabalhar no sentido de estancarmos esse fenómeno. Quando estamos a falar do direito de propriedade intelectual, referimo-nos ao mesmo tempo à conservação da biodiversidade, o que passa por nós legislarmos ou regulamentarmos, tomando em consideração esta situação. Esta é uma componente e a outra é a própria conservação que passa pela verificação do que já existe a nível do país como programas de conservação da biodiversidade e tentarmos integrar para fazer com que as plantas medicinais, também passem por estes programas. Vou dar o exemplo da iniciativa do Presidente da República, “um líder uma floresta”. Estão a integrar-se plantas dentro de florestas e nós queremos em conjunto com os intervenientes nestas iniciativas fazer com que as plantas, que estão a ser integradas nessas florestas, sejam também medicinais. Já estamos a trabalhar nisso. Temos um grupo multissectorial muito vasto que tem trabalhado connosco no Instituto de Medicina Tradicional, com encontros bastante regulares neste momento que estamos a definir termos de referência. Estamos também a definir o protocolo com que vamos trabalhar a nível nacional para ouvirmos contribuições da população sobre o que vamos fazer para defender as nossas plantas medicinais, sabermos quem são as pessoas autorizadas e as formas para conservar essas plantas medicinais e que entidades podem trabalhar connosco e na comunidade para fazer a conservação. O grupo é constituído pelos Ministérios para Coordenação Ambiental MICOA, da Agricultura, Instituto de Investigação Agronómica, WWF, associações de medicina tradicional, organizações nacionais e internacionais ligadas à conservação das plantas de uma maneira geral, a ORAM entre outras. É realmente importante e ao mesmo tempo preocupante o que está a acontecer com as nossas matas. Há uma sobrexploração, há uma devastação. Outro aspecto é que não temos o problema somente da devastação da planta como medicinal, mas por outros motivos. Nós encontramos uma luta de interesses. A mesma planta é medicinal mas também carvoeira, é para lenha, madeireira e por ai adiante. Nós temos que nos sentar com os sectores que lidam com estas áreas e procurarmos pesar o que é que vale mais numa planta. Se é mais a parte medicinal, a parte madeireira ou carvoeira e tomarmos algumas decisões nesse aspecto. Não é fácil mas nós vamos tentar fazer. Pelo menos vamos começar de algum lado.

Planta útil hoje, amanhã e sempre
No processo de extracção de plantas medicinais fala-se de concorrência desleal, envolvendo nacionais e estrangeiros, havendo espaço para a devastação à semelhança do que acontece na área da madeira. Há relatos de que uma vez achada a planta abatem-na toda.

NOT - Na vossa percepção, existirá algum plano de reposição no seio dos praticantes de medicina tradicional ou só se limitam à extracção dos remédios?

FG - Os praticantes da medicina tradicional propriamente ditos, quando vão ao mato não devastam porque eles têm a noção de que depois voltarão a precisar da mesma planta. Agora, há aqueles que têm negócios ilícitos de venda para fora do país, por exemplo, de revendedores, esses sim. Não se preocupam com a qualidade mas sim a quantidade e interessa-lhes tirar tudo o que estiver perto naquele momento sem se preocupar com o amanhã. Praticante que é verdadeiramente praticante, ele sabe como tirar uma planta. Quando vai ao mato e apanha uma planta pequena opta por não tirá-la, preferindo uma maior e mesmo nas maiores ele sabe qual é a parte que vai tirar para fazer com que aquela planta volte a desenvolver-se. Os outros grupos é que são problema para nós.

NOT - Existirá um banco de dados com as principais espécies medicinais existentes em Moçambique e daquelas que correm perigo de extinção?  

FG - Nós temos alguns livros, totalizando cinco tomos (colecções) sobre plantas medicinais e seu uso tradicional em Moçambique, uma monografia que começou nos anos 80. Parámos no tomo cinco. As plantas são traduzidas em famílias e espécies e estamos longe porque estamos ainda na família “C” e temos que ir até Z e pode imaginar o que falta pela frente. Se a memória não me falha, a família “C” ainda não está completa. Os cinco já existentes não espelham tudo, apesar de serem um trabalho muito vasto. Mas achamos que devemos continuar porque é necessário. Fora isso, temos dentro do nosso plano estratégico a abertura de base de dados que consistirá em tirarmos do livro para o computador onde pegaremos a informação de forma a ser usada a nível nacional, não só pelo Instituto como por outras instituições, incluindo universidades, individualidades que pretendam fazer pesquisas sobre estas plantas que terão uma informação mais detalhada. Isso não pára por ai. Temos que entrar em coordenação com outras bibliotecas internacionais que já têm informação daquelas plantas que temos catalogadas de forma a enriquecermos o que está contido porque a que temos é realmente bibliográfica, apesar de ser também de campo. Foi-se ao campo, colheu-se informação em vários pontos do país. Temos um herbário (que é espécie de um Museu), onde temos amostras de todas estas plantas que compõem os cinco tomos aqui no Instituto de Medicina Tradicional e outras inclusive que foram tiradas e herbarizadas que não fazem parte dos tomos mas que ainda não estão dentro dos livros. Este herbário existe também como uma amostra de base de dados.

NOT - Quando se fala da integração da medicina tradicional no Sistema Nacional de Saúde, o que se pretende dizer concretamente?

FG - Esta integração é uma definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) e eles vincam também que quando falamos de integração queremos dizer parcerias e colaboração entre as duas medicinas. Igualmente pretendemos falar do desenvolvimento de actividades conjuntas entre medicina tradicional e moderna, tomando em conta os problemas de saúde mais candentes no país.

NOT - Mas essa integração já é efectiva entre nós?

FG - Já é efectiva um pouco por todo o país e a integração não começou agora com a criação do Instituto de Medicina Tradicional, pois existia antes o Departamento de Estudos de Plantas Medicinais e Medicina Tradicional, no Ministério da Saúde. Esse Departamento trabalhava nos aspectos de melhoramento da colaboração entre as duas medicinas. Agora viemos mais para fortalecer e aumentar o número das nossas actividades como Instituto da Medicina Tradicional. O que estava a acontecer é que algumas intervenções eram feitas de forma ad-hoc, de certa forma, dependendo da província ou do distrito, uma vez que não havia representações do instituto a nível provincial. Então, a coisa era mais do controlo nacional e não era efectivo. Agora, com o instituto, o que fizemos foi criar representações em cada uma das províncias e em cada um dos distritos, o que faz com que a orientação dessas actividades seja obrigatória e faça parte das actividades do Ministério da Saúde. Assim, há uma obrigatoriedade do cumprimento. Por isso é que nós queremos definir metas e estratégias para que o plano de actividade resulte em melhoramento das condições de cuidados primários na comunidade. Neste momento, como Instituto de Medicina Tradicional, estamos dentro do plano quinquenal do Governo na área da Saúde. Portanto, há mais do que nunca, a obrigatoriedade em cumprirmos a todos os níveis com estas actividades e por isso a colaboração tem que ser efectiva.

 

 

 

 

@Jornal Notícias

 

http://saude.sapo.mz/abc-saude/m/medicina-alternativa/medicina-tradicional-35911-0.html

 



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Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 2 de 3 en el tema 
De: nhungue Enviado: 31/08/2011 11:03
CURIOSIDADE: MEU SOGRO, EM UM POSTO DO ENTÃO DISTRITO DE TETE, DEPAROU-SE COM UM HOMEM QUE AMAMENTAVA UM FILHO. SEGUNDO O DITO HOMEM, A ESPOSA MORRERA NO PARTO. ISOLADO, E SEM TER COMO RECORRER A UMA AMA DE LEITE, FEZ UM PREPARADO DE RAIZES QUE LHE PROVOCAVAM O APARECIMENTO DO LEITE COM O QUAL AMAMENTAVA O GAROTO. MEU SOGRO MANDOU O RELATO DO FACTO, E AS RAIZES PARA LISBOA, MAS NUNCA TEVE NOTICÍAS DO ASSUNTO.

Respuesta Eliminar Mensaje  Mensaje 3 de 3 en el tema 
De: isaantunes Enviado: 01/09/2011 07:34
João, Este é, quanto a mim, um assunto, muito sério. Sei que há, em Moçambique um conhecimento da medicina tradicional, considerável e acho muito bem que, seja aproveitado em benefício da população moçambicana e não só. Não me surpreendeu o caso que contas; conheço, outros de perto. Recordo-me, também, de um médico, em Vila Coutinho, ter investigado o motivo pelo qual, não apareciam, no hospital, doentes de cancro e ter chegado à conclusão que, encontrariam tratamento tradicional. Contudo, dado o secretismo dessa prática, sobretudo, naquela época, nunca conseguiu provas. Não me espanta que o relato do teu sogro não tenha tido resposta; era assim, naquele tempo...


 
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