A informalidade. É disso que José Sérgio mais sente falta. Da informalidade de Moçambique. Do sorriso fácil, do fácil tratamento por "tu", da conversa na rua.
Com 41 anos, nascido e criado em Maputo, chegou a Portugal quase como quem não tem nada a perder e vem só ver as vistas. Não lhe custou a adaptação porque nunca imaginou que a estadia em Lisboa chegasse aos
12 anos. José Sérgio é fotografo e, embora nunca tenha imaginado vir a enveredar profissionalmente por este caminho, admite que a foto sempre o atraiu, desde menino e moço.
Tudo começou na associação moçambicana Casa Velha, onde José fez teatro durante três anos. "Havia lá um laboratório de fotografia que eu usava informalmente, e assim começou o bichinho". O moçambicano Manuel Roberto - hoje um dos editores do Público, um dos jornais diários mais importantes de Moçambique - também estava na Casa Velha e, ao ver o talento de Sérgio acabou por convidá-lo a fazer um Estágio na Editora escolar que, na altura, fazia os manuais escolares em Moçambique. O estágio acabou por levar a um trabalho de cinco anos ao serviço da editora.
Ao mesmo tempo, Caldeira - que, na altura, era director do jornal moçambicano Desafio - convidou-o para fazer a contra-capa do jornal todas as semanas. José Sérgio percebeu rapidamente que, em vez do gosto, a fotografia podia tornar-se sustento, e acabou por fazer um curso no Centro de Formação Fotográfica, dirigido por Ricardo Rangel.
Ao fim de cinco anos com a Editora Escolar, José Sérgio entendeu que poderia fazer render mais o tempo como free-lancer, e não se arrependeu de pedir a demissão.
Durante oito anos trabalhou para Organizações Não Governamentais, jornais e empresas, e trabalho nunca lhe faltou.
"Eu nunca quis sair de Moçambique, mas foi uma coincidência de factores", recorda. José Sérgio namorava uma portuguesa, sua mulher hoje em dia, e mão dos seus dois filhos. Vieram a Portugal passar férias, e os pais dela, que preferiam tê-la por perto, perguntaram-lhes se não gostavam de se mudar para terras lusas. Ela respondeu que se arranjasse emprego, talvez se pensasse nisso. Ele aceito o desafio. No último dia de férias, o telefone tocou e ela foi convidada para um emprego que, mais do que um simples sustento, era quase uma proposta irrecusável. José Sérgio regressou a Moçambique para fechar a casa e preparar-se para uma nova vida. Pensava que só ficaria um ano em Portugal. Estavamos em 1999.
No lugar certo à hora certa
Em menos de quinze dias, José Sérgio encontrou trabalho. E, mais uma vez, foi por estar no local certo, à hora certa.
Foi mostrar o portfolio ao jornal Expresso. Mas enganou-se e acabou por mostrá-lo ao Blitz - um jornal cultural, especializado em música, do mesmo grupo que o semanário de referência Expresso.
No Blitz, disseram-lhe que não estavam à procura de ninguém. Mas, no dia seguinte, ligaram-lhe a pedir que fosse cobrir uma manifestação estudantil na assembleia da república. "Eu nem sabia onde era a assembleia, mas apanhei um taxi e lá fui". Quando terminou o trabalho, apanhou o metro - "o que foi nova aventura, nunca tinha apanhado o metro" - e foi revelar as fotografias para a redacção do jornal. Este foi o primeiro trabalho de uma série deles. José Sérgio trabalhou no Blitz durante sete anos. Hoje, está nos quadros do semanário Sol, desde o seu início, há cerca de seis anos.
"Sinto-me moçambicano sem sombra de dúvidas, e gosto muito de Moçambique. Mas, em Portugal, sinto-me mais realizado profissionalmente, aqui o mercado é mais exigente, e temos de dar tudo de nós para não perdermos o lugar". Para o futuro, José não tem planos. Só sabe que há de querer morrer em Moçambique. "E não quero ir para lá velhinho. Ainda quero ter idade suficiente poder curtir o meu país".
Marta Curto
SAPO MZ
Com 41 anos, nascido e criado em Maputo, chegou a Portugal quase como quem não tem nada a perder e vem só ver as vistas. Não lhe custou a adaptação porque nunca imaginou que a estadia em Lisboa chegasse aos
12 anos. José Sérgio é fotografo e, embora nunca tenha imaginado vir a enveredar profissionalmente por este caminho, admite que a foto sempre o atraiu, desde menino e moço.
Tudo começou na associação moçambicana Casa Velha, onde José fez teatro durante três anos. "Havia lá um laboratório de fotografia que eu usava informalmente, e assim começou o bichinho". O moçambicano Manuel Roberto - hoje um dos editores do Público, um dos jornais diários mais importantes de Moçambique - também estava na Casa Velha e, ao ver o talento de Sérgio acabou por convidá-lo a fazer um Estágio na Editora escolar que, na altura, fazia os manuais escolares em Moçambique. O estágio acabou por levar a um trabalho de cinco anos ao serviço da editora.
Ao mesmo tempo, Caldeira - que, na altura, era director do jornal moçambicano Desafio - convidou-o para fazer a contra-capa do jornal todas as semanas. José Sérgio percebeu rapidamente que, em vez do gosto, a fotografia podia tornar-se sustento, e acabou por fazer um curso no Centro de Formação Fotográfica, dirigido por Ricardo Rangel.
Ao fim de cinco anos com a Editora Escolar, José Sérgio entendeu que poderia fazer render mais o tempo como free-lancer, e não se arrependeu de pedir a demissão.
Durante oito anos trabalhou para Organizações Não Governamentais, jornais e empresas, e trabalho nunca lhe faltou.
"Eu nunca quis sair de Moçambique, mas foi uma coincidência de factores", recorda. José Sérgio namorava uma portuguesa, sua mulher hoje em dia, e mão dos seus dois filhos. Vieram a Portugal passar férias, e os pais dela, que preferiam tê-la por perto, perguntaram-lhes se não gostavam de se mudar para terras lusas. Ela respondeu que se arranjasse emprego, talvez se pensasse nisso. Ele aceito o desafio. No último dia de férias, o telefone tocou e ela foi convidada para um emprego que, mais do que um simples sustento, era quase uma proposta irrecusável. José Sérgio regressou a Moçambique para fechar a casa e preparar-se para uma nova vida. Pensava que só ficaria um ano em Portugal. Estavamos em 1999.
No lugar certo à hora certa
Em menos de quinze dias, José Sérgio encontrou trabalho. E, mais uma vez, foi por estar no local certo, à hora certa.
Foi mostrar o portfolio ao jornal Expresso. Mas enganou-se e acabou por mostrá-lo ao Blitz - um jornal cultural, especializado em música, do mesmo grupo que o semanário de referência Expresso.
No Blitz, disseram-lhe que não estavam à procura de ninguém. Mas, no dia seguinte, ligaram-lhe a pedir que fosse cobrir uma manifestação estudantil na assembleia da república. "Eu nem sabia onde era a assembleia, mas apanhei um taxi e lá fui". Quando terminou o trabalho, apanhou o metro - "o que foi nova aventura, nunca tinha apanhado o metro" - e foi revelar as fotografias para a redacção do jornal. Este foi o primeiro trabalho de uma série deles. José Sérgio trabalhou no Blitz durante sete anos. Hoje, está nos quadros do semanário Sol, desde o seu início, há cerca de seis anos.
"Sinto-me moçambicano sem sombra de dúvidas, e gosto muito de Moçambique. Mas, em Portugal, sinto-me mais realizado profissionalmente, aqui o mercado é mais exigente, e temos de dar tudo de nós para não perdermos o lugar". Para o futuro, José não tem planos. Só sabe que há de querer morrer em Moçambique. "E não quero ir para lá velhinho. Ainda quero ter idade suficiente poder curtir o meu país".
Marta Curto
SAPO MZ