Graça Machel
“Esta dor vive, permanentemente, connosco. A dor recusa-se a morrer." A família Machel aproveitou as comemorações dos 25 anos da tragédia de Mbuzini, que vitimou Samora Machel e outros 33 membros da sua comitiva, para pedir maior empenhamento ao Governo na investigação das circunstâncias da morte do primeiro Presidente da República Popular de Moçambique.
O Presidente da República, Armando Guebuza, esforçou-se, em todos os seus discursos, esta semana, em garantir que ia fazer tudo para reabrir o dossier Mbuzini. Mas, pelos vistos, a mensagem não passou no clã Machel. Primeiro foi Graca Machel, num discurso acutilante, na Praça da Independência, exigir o esclarecimento cabal das circunstâncias que ditaram a morte do seu marido. “Esta dor vive, permanentemente, connosco. A dor recusa-se a morrer. Em grande parte porque só conhecemos uma parte das circunstâncias da morte (...) e nós, 25 anos depois, só queremos a verdade”, disse, para depois acrescentar que “se os governos de moçambique e África do Sul dedicarem toda a atenção para trazer a verdade à luz do dia, acredito que ela pode ser conhecida ainda no meu tempo de vida. É um direito que assiste a nós como família e ao povo moçambicano”, disse Graça Machel, que solicitou ajuda ao presidente zimbabweano Robert Mugabe, presente no pódio, para pressionar os seus homólogos de Moçambique e África do Sul no assunto. Aliás, Graca virou-se para Guebuza e Zuma e pediu-lhes para darem prioridade ao dossier Mbuzini. Um dia mais tarde, no programa “Debate da Nação”, Olívia, filha do segundo casamento de Machel, foi mais cáustica: “o Governo não se está a empenhar o suficiente para investigar o acidente de Mbuzini”. Olívia deu ainda a entender que foram os companheiros do pai que ajudaram à sua liquidação. E foi ainda mais longe: a Frelimo, o partido que Samora ajudou a fundar e liderou rumo à Independência Nacional, está a erguer estátuas de Samora Machel com fins eminentemente eleitoralistas. “Estão a fazer o seu dever ao homenagear Samora. Esperamos que não parem por aí. Moçambique tem de ser para todos. Esperamos partilhar os recursos deste país de igual forma”, atirou em jeito de provocação.
Os 25 anos de Samora serviram de pretexto para uma semana cheia de eventos e, sobretudo, para reabrir as discussões em torno da morte de Samora. A UEM organizou um simpósio e juntou no Centro de Conferências intelectuais, camaradas de armas de Samora, Robert Mugabe, presidente do Zimbabwe, Kenneth Kaunda, primeiro presidente da Zâmbia e homem que facilitou as negociações entre a Frelimo de Samora Machel e o Governo colonial, que culminaram com a assinatura dos Acordos de Lusaka, entre outros.
Na quarta-feira, deposição de coroa de flores, na Praca dos Heróis, inauguração de estátua, na Praça da Independência, banquete de Estado, na Ponta Vermelha, e uma gala cultural, no Centro Cultural Universitário. E para abrilhantar a festa, os presidentes da África do Sul, do Brasil, do Botswana, do Zimbabwe. Da Tanzania veio o vice-presidente. Faltou...José Eduardo dos Santos. Nada que seja novidade.
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