Beira, Moçambique, 17 nov (Lusa) - Doze marinheiros moçambicanos do "Vega 5", sobreviventes do sequestro da embarcação por piratas somalis em 2010, ameaçam com greve para reclamar indemnizações por danos morais e psicológicos, disse hoje à Lusa um tripulante.
José Mandava, porta-voz do grupo, disse que os tripulantes vão partir para uma greve nas próximas duas semanas por verem esgotadas as possibilidades de uma negociação pacífica com a Pescamar, que operava o "Vega 5", depois de vários "pedidos de socorro" ao Governo e à procuradoria provincial, "mas infrutíferos".
Ainda segundo a fonte, o grupo vai paralisar as atividades da Pescamar, encerrando os portões de acesso ao recinto da empresa com correntes e cadeados, até que a empresa deixe de os "marginalizar" e atenda os seus "direitos".
"Passam oito meses (desde que regressaram ao país) de negociações sem solução. Não estamos a pedir um tratamento especial, mas que cumpram a reintegração efetiva prometida e exigimos o pagamento de uma indemnização de 150 mil meticais (4.054 euros) pelos danos decorrentes do sequestro", explicou José Mandava.
O grupo reuniu-se com o governador de Sofala, Calvário Muaria, com os representantes das direções de Trabalho, através do centro de conflitos laborais, das pescas e da administração marítima e com o procurador provincial, para resolver o impasse "mas sem resultados palpáveis".
"O governador só fez papel quando foi receber-nos no aeroporto (quando regressaram da Índia, país que liderou a operação de resgate) e agora não dá apoio que precisamos. Todas as direções arquivam o nosso 'dossier' e a empresa (Pescamar) remete-nos ao Governo, alegando que tal como o resgate dos espanhóis foi pago pelo seu governo, assim deve ser com os sobreviventes", considerou Mandava.
Os 12 tripulantes ameaçaram em maio não regressar à faina e boicotaram várias reuniões, mas um acordo entre a empresa e o grupo resolveu o diferendo. Mas dos três que foram para o mar, na primeira viagem, um regressou de emergência com perturbações psicológicas, supondo-se que sejam "sequelas do sequestro".
Os tripulantes foram sequestrados por piratas somalis armados, a 27 de dezembro de 2010, na ilha de Bazaruto, Inhambane (sul), tendo sido mantido reféns, até que foram resgatados pela marinha de guerra indiana em fevereiro de 2011.
Sete moçambicanos foram dados como desaparecidos, possivelmente por terem caído ao mar durante a operação de resgate.
Os sobreviventes regressaram ao país em abril, depois de testemunharem contra piratas na justiça indiana.
AYAC.
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