Para a semana (30 de Novembro) será o lançamento deste “El Dorado Tete: os Mega Projectos de Mineração“, de João Mosca e Tomás Selemane, publicado pelo Centro de Integridade Pública. Fica o anúncio, mais do livro a ler do que do próprio lançamento (a experiência avisa-me que o lançamento de livros produzidos pela investigação social são muito parcos em chamussas, o que é filosoficamente interessante, uma sequela do dualismo platónico-cristão que aparta mente e corpo, mas enfim, há sempre obstáculos à reflexão). Aqui deixo um excerto da divulgação do livro, sobre o qual estou cheio de curiosidade:
Não existem em Tete, Moatize e suas redondezas sinais evidentes da redução da pobreza como resultado da implantação dos mega projectos de mineração da Vale e da Riversdale. … Esta é uma das constatações de uma pesquisa … levado a cabo em Tete e Moatize no decurso do ano de 2011. … analisa os efeitos locais da implantação dos dois principais mega projectos de carvão mineral (Vale e Riversdale) naquele ponto do país. A análise recai sobre o período que vai de 2007 ao primeiro semestre de 2011. … A pesquisa visava dois objectivos centrais: primeiro, contribuir para o debate da economia política e da política económica moçambicana através da compreensão e análise dos efeitos da concentração das mineradoras internacionais em Tete. E, segundo, sugerir boas práticas de implantação de mega projectos para o benefício do meio rural moçambicano e da economia nacional.
As conclusões da pesquisa podem ser resumidas nos seguintes termos: no período estudado, houve dinamização da economia local provocada pelo incremento de novas demandas, sobretudo nos sectores de serviços e na construção civil (habitação e infra-estruturas).
Não existem em Tete, Moatize e suas redondezas sinais evidentes da redução da pobreza como resultado da implantação dos mega projectos estudados. Pelo contrário, a imigração para Tete e Moatize em busca de emprego e oportunidades de pequenos negócios tem avolumado a população desempregada.
Os reassentamentos têm provocado redução de oportunidades de obtenção de rendimentos das famílias, obstaculizam a produção agrícola, dificultam a mobilidade das pessoas e bens e reduzem o acesso aos mercados.
Há no terreno evidências do enfraquecimento relativo das instituições públicas por não ajustamento na capacitação técnica e de poder de decisão face às novas exigências e comparativamente com as capacidades das empresas mineiras. Isso tem resultado em organizações centralizadas, concentradas, hierarquizadas e com relacionamentos e tipos de disciplina para-militarizados.
O crescimento das actividades económicas é socialmente discriminatório, não inclusivo e com sinais de aprofundamento da pobreza (pelo menos nas populações mais directamente envolvidas nos reassentamentos) e das desigualdades sociais. Há sinais, até ao momento, de efeitos ambientais negativos sobre o solo, as pastagens e as florestas nos locais de reassentamento e sobre o ambiente urbano (ar, solo, ruído, etc.).
jpt