11/12/2011
O nomadismo e os ritos de iniciação, fenómenos culturais que acontecem com alguma normalidade no distrito de Mecula, na província nortenha de Niassa, estão “minar” os esforços levados a cabo pelas autoridades governamentais de garantir escolaridade para as crianças.
Os ritos de iniciação obrigam as raparigas adolescentes a permanecerem fora da escola durante um período que varia de um a dois meses para participarem neste ritual.
O facto foi dado a conhecer a Esposa do Presidente da República, Maria da Luz Guebuza, na última quinta-feira, durante um encontro popular que orientou naquele distrito, no âmbito da visita de trabalho que realiza a esta parcela do país.
A agravar ainda mais o cenário, devido a sobrevalorização da religião muçulmana por parte das comunidades Yao que povoam o distrito de Mecula, localizado no interior da Reserva Nacional de Niassa, as crianças são obrigadas pelos seus progenitores a absterem-se do sistema educativo nacional para aprenderem o alcorão nas Mesquitas.
Confrontada com estes factos, a Primeira Dama de Moçambique apelou as comunidades locais para abandonarem o nomadismo porque não ajuda em nada na construção do bem-estar social que se pretende alcançar no país, tendo em conta que o Governo investe na construção de infra-estruturas sociais como escolas e fontes de agua que depois ficam abandonadas.
O movimento constante das comunidades, segundo Maria Guebuza, só prejudica as crianças.
Sendo assim, aconselhou os presentes a se fixarem num único lugar que seja favorável a agricultura, já que a justificação apresentada foi de que as mudanças constantes estão relacionadas com a procura de melhores terras para a produção agrícola.
O nomadismo, segundo Maria da Luz Guebuza, não permite a construção de casas melhoradas e resistentes para que se tenha uma vida estável.
“Ao longo da estrada notamos que zonas que outrora foram habitadas agora estão abandonadas com escolas e fontes de água e as comunidades que lá habitavam decidiram avançar para se fixar numa mata sem nada” disse.
Maria da Luz Guebuza explicou que, por causa do nomadismo, as pessoas acabam se fixando nos corredores de elefantes e outros animais agudizando o conflito Homem/Fauna Bravia.
“Temos que tomar outra atitude em relação ao nosso modo de vida”, apelou.
Em relação aos ritos de iniciação, Maria da Luz Guebuza disse que não se pretende proibir este ritual, mas que seja cumprido no memento de férias escolares para não prejudicar a escolaridade das crianças.
“Também não estamos a proibir que as crianças aprendam o alcorão, mas o que pretendemos é que a educação formal nacional seja prioritária”, explicou.
Um outro fenómeno que emperra a escolaridade das crianças, em particular a da rapariga, são os casamentos prematuros pelo que a esposa do Presidente da República insistiu que não pode haver pressa para o casamento e que a prioridade deve ser a formação.
Em relação ao nomadismo, Vicente Mulumba, funcionário da secretaria distrital, disse que este fenómeno pode ter algo a ver com a procura de terras férteis, mas também existe outro factor que tem sido maior causador do nomadismo como, por exemplo, os conflitos internos por causa de disputas de liderança entre linhagens.
Pelo facto de as comunidades Yao que habitam o distrito serem de linhagem matrilinear, os conflitos de liderança são constantes e, depois de tantas guerrinhas internas e quando nao se chega a consenso entre as partes desavindas, as comunidades dividem-se e cada líder com sua gente procura um outro lugar para se fixar.
Com uma superfície de 18.153 quilómetros quadrados e 14.524 habitantes, o distrito de Mecula está situado no oriente da província de Niassa, exactamente no interior da Reserva Nacional do Niassa, com uma diversidade de espécies florestais e faunisticas (elefantes, búfalos, leões, leopardos, hienas, macacos e outros).
(RM/AIM)
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