09/12/2011
Carta aberta a Afonso Dhlakama Exmo Sr. Afonso Dhlakama Presidente da RENAMO Com insistência escutamos os seus apelos para o recurso à violência como forma de tomada do poder. Estes apelos evocam o retorno a um tempo triste e sombrio por que a nossa nação passou. Não fizemos ainda o luto desse tempo de guerra. Ainda choramos os milhares de inocentes que foram assassinados, as escolas e os hospitais que foram queimados, as ruínas e as cinzas onde deveria haver semente e esperança. Nenhum de nós se recompôs totalmente desse pesadelo. Ninguém que ame Moçambique e respeite o seu povo quererá reviver essa tragédia. Nos últimos anos, nós moçambicanos, fomos capazes de produzir uma conquista valiosa e rara: a Paz. Essa conquista fez crescer, em todo o mundo, o respeito por Moçambique. Como escritores sentimos orgulho de fazer parte dessa heróica epopeia. Essa obra de reconciliação também lhe pertence a si e à organização política que dirige. A Paz e a Democracia em Moçambique não andam à procura de filiação paterna. Nenhuma pessoa, nenhuma força política se pode intitular pai ou proprietária dessas conquistas que apenas pertencem ao povo que superou o passado e se fez construtor do presente. O senhor Presidente da RENAMO poderia ficar na história de Moçambique como alguém que ajudou a consolidar o processo de pacificação e o reencontro dos moçambicanos consigo mesmos. As suas declarações, contudo, deitam a perder essa possibilidade. Nenhum dirigente político se pode orgulhar de usar o medo como forma de fazer valer as suas intenções. A nação moçambicana não pode ficar refém do retorno à violência. Os moçambicanos sabem que serão eles (e não os políticos que encomendam os conflitos) as maiores vítimas da violência. Os nossos compatriotas anseiam demasiado o futuro para tropeçarem no medo do passado. Os moçambicanos esperam dos dirigentes políticos que façam política. E que façam política para servir o povo e não para se servirem dele, usando-o como carne para canhão. Os moçambicanos, de todas as cores políticas, estão unidos numa única certeza: a guerra, nunca mais. Mia Couto, Paulina Chiziane e Ungulane Ba ka Khosa (Com jornalnoticias.co.mz)
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