Lilongwe, 10 Fev (AIM) – As regiões centro e sul, maiores produtoras de milho no Malawi, tiveram fraca colheita deste cereal por escassez de chuvas, o que leva a sérias preocupações sobre uma possível falta deste produto nos prpróximos meses.
“Eu penso que pode ser uma das piores crises que teremos visto nos últimos tempos,” disse um funcionário do sistema de aviso prévio, que pediu anonimato. “As chuvas nunca foram tão irregulares. Em algumas zonas do Malawi pequenos camponeses fizeram uma segunda sementeira depois que falhou a primeira; e as sementes que utilizaram não são de boa qualidade de modo que não vão dar bom produto.”
Com as palantas de milho ainda pequenas existe a preocupação de que o milho não esteja ainda pronto para colheita no tempo habitual, em Abril-Maio. “A época até à colheita (que termina em Março) pode ser extendida por um período mais longo,” disse aquele funcionário.
A mais recente actualização da pesquisa (a 31 de Janeiro) pelo UNICEF é, contudo, optimista de que apesar das chuvas irregulares “ainda há indicações positivas de que o país pode ainda registar uma boa colheita se a estação chuvosa continuar até Março ou Abril.”
O país tem suficiente stock de milho até ao momento e o número de pessoas necessitadas nesta época antes da colheita tem sido baixo – 201.854 – comparado com os anos anteriores (quando os números atingiam pelo menos um milhão). Mas agências de ajuda humanitária dizem que o Comité de Avaliação da Vulnerabilidade no Malawi (MVAC), que inclui o governo e a sociedade civil, está presentemente a rever os números que podem ser superiores pelo menos por um terço.
Cheias sem precedente em princípios do ano no distrito de Nsanje, no sul do país, deslocaram mais de 6.000 pessoas; algumas áreas foram afectadas pelo surto de cólera, com 64 casos diagnosticados até agora.
É Complicado
Os preços do milho subiram em mais de 60 por cento nos últimos quatro meses de 2011 por causa da escassez de petróleo e de divisas. A Rede de Aviso prévio sobre a Fome, do USAID (FEWS NET), no seu último relatório alertou que a subida dos preços no sul pode acelerar, piorando os níveis nutricionais dos pobres na população urbana.
Um programa de subsídios nos últimos anos tem ajudado o Malawi a tornar-se auto-suficiente em termos de milho, mas nos últimos dois anos o país perdeu a confiança dos doadores (por causa do não respeito dos direitos humanos e da má governação) que garantiam 40 por cento do orçamento do país.
Citando números do governo, Blessings Chinsinga, um perito em políticas, que trabalha na agricultura e dá aulas na Universidade do Malawi, disse que o financiamento dos doadores que foi ou interrompido ou renovado atingia cerca de 800 milhões de dólares americanos.
O Malawi foi forçado a contrair empréstimos a outros países. Em Dezembro de 2011, por exemplo, a Índia emprestou ao Malawi tractores e moageiras e milho por um período de 40 anos.
As exportações de tabaco, uma grande fonte de divisas, também baixaram. “O país ganhava cerca de 300 milhões de dólares por ano em exportações de tabaco, montante que cobria as importações de combustíveis,” disse Chinsinga.
O vice-ministro da Agricultura, Kingsley Namankhwa, disse à IRIN que a baixa das receitas de tabaco levou à escassez de divisas – e o futuro parece mais sombrio: a produção de tabaco no Malawi deverá reduzir a metade em 2012, Segundo alguns relatórios.
Os agricultores, desencorajados pelo insucesso em conseguir bons preços para os seus produtos, planearam menos áreas, e as fracas chuvas danificaram as sementeiras já lançadas, diz a Associação de Tabaco do Malawi.
O vice-ministro disse que o governo estava a tentar encorajar os agricultores a diversificar e a plantar produtos de rendimento como algodão, e estava a tentar atingir 500 mil pequenos agricultores.
Mas Chinsinga discorda da estratégia: não conseguiria ajudar a curto prazo, e quando o algodão eventualmente chegasse ao Mercado, a competição com os principais produtores seria difícil por causa doas pequenas quantidades envolvidas.
Desvalorização?
Tem havido uma grande pressão tanto internacional como a nível nacional para desvalorizar o Kwacha, a moeda nacional, para torná-lo mais viável para os comerciantes exportarem e gerarem divisas.
Oficialmente, um dólar americano vale cerca de 166 Kwachas, mas no Mercado paralelo vale entre 270 e 300. Infelizmente, com a primeira ronda de desvalorização em 2011, que foi fundamental na subida dos preços, o governo recusou-se a desvalorizar novamente.
Dalitso Kubalasa, director executivo da Rede de Justiça Económica do Malawi, uma coligação de mais de 100 ONGs exigiu que o governo deve desvalorizar a moeda e implementar as medidas sugeridas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de que os parceiros de desenvolvimento deveriam falar com o governo.
“O tempo está-se a esgotar”, disse ele. “O status quo de nada fazer sobre a reportada super-valorização da moeda já não parece ser uma opção – porque os preços dos produtos sobem constantemente, prejudicando cada vez mais os pobres.”
Mas as críticas pelas ONGs não foram bem recebidas pelo presidente Bingu Wa Mutharika, que pediu uma legislação para “responsabilizar” a sociedade civil, pelas manifestações em Junho de 2011.
Banidas exportações de milho
Em Dezembro de 2011 o governo baniu as exportações de milho
A FEWS NET e a Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) disseram que a medida foi tomada depois de muito milho ter sido exportado, e o vice-ministro Namankhwa classificou o banimento como “uma medida temporária para evitar uma massiva externalização do produto.”
O governo também tentou controlar os preços do milho aumentando o preço do produto vendido pelo estado, do equivalente a 24 para 36 cêntimos do dólar por quilograma.
Namankhwa disse que a medida foi concebida para desencorajar os revendedores de comprarem do estado para revenda. Ele disse que a estratégia parece estar a funcionar, os preços tinham começado a baixar, e as pessoas vulneráveis “estão em boas mãos.”
Mas as agências da ONU e Chinsinga dizem que a subida do preço do milho no país foi provocada pela subida do preço pelo estado.
(AIM)
Irin/bm/dt
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