24.02.2012
A economia moçambicana tem crescido a um ritmo de 7,7% ao ano e os especialistas do Fundo Monetário Internacional colocam o país no restrito lote dos 10 países do mundo que mais cresceram na última década e que mais irão crescer até 2016. A posição de destaque faz de Moçambique, apesar de todas as suas carências, uma terra de oportunidades para um número cada vez maior de empresas e profissionais portugueses.
Moçambique figura entre as três economias africanas de maior pujança para os próximos cinco anos. A economia nacional está em crescimento contínuo há 15 anos, a um ritmo superior a 7% ao ano e o Banco de Moçambique prevê para este ano um crescimento do Produto Interno Bruto do país na ordem dos 7,5%. Números que associados ao crescente dinamismo da economia local fazem com que o país comece a ser olhado como um dos mais dinâmicos e atrativos do mundo, figurando também no “radar de presença obrigatória” de um número crescente de empresas portuguesas.
No momento em que folheia o Expresso Emprego está em território moçambicano uma comitiva de onze empresários portugueses, ligados à área da construção civil e alimentação, que integram a missão da Associação Empresarial de Portugal (AEP) que tem rumado ao território para estabelecer contactos para futuras relações comerciais com parceiros locais. Esta é a terceira missão empresarial portuguesa ao país desde o início deste mês. Uma movimentação de denota bem o interesse dos empresários portugueses na descoberta deste novo Moçambique.
E a AEP não é caso único nestas missões. Mais de 80 empresários portugueses ligados ao sector da construção, imobiliário e segurança estiveram na passada semana presentes na Tektónica Moçambique para “promover as oportunidades e qualidades do mercado português e potenciar os seus produtos e serviços”, revela a Confederação do Imobiliário dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP). Segundo a confederação o evento é uma importante porta de entrada das empresas portuguesas num mercado que precisa de profissionais e produtos. Só no sector da habitação e do imobiliário, por exemplo, o primeiro estudo sobre o mercado imobiliário moçambicano, realizado pela Prime Yield, revela que uma procura claramente superior à oferta disponível. A consultora dá conta de “um desajuste da oferta face à procura, que se reflete já na venda de imóveis ainda em projeto” e adianta que “a procura é alta também nos escritórios”. Um mercado cuja dinâmica contrasta com a que se vive em Portugal e que poderá ser uma importante porta para a internacionalização de muitas empresas portuguesas do sector, já que “é de prever um forte crescimento do mercado imobiliário moçambicano nos próximos anos”, revela a Prime Yeld.
E Portugal é já o terceiro maior fornecedor de Moçambique, segundo Filomena Malalane, a adida comercial da Embaixada de Moçambique. A diplomata referiu recentemente numa conferência sobre as relações entre Portugal e Moçambique que existem oportunidades para as empresas portuguesas em inúmeros sectores naquele território. O país importa quase todos os produtos alimentares, incluindo produtos básicos como arroz ou açúcar e precisa de expandir a sua produção agroindustrial. Pelo que, sectores como o agroalimentar, a logística, armazenagem, mas também as pescas, o turismo, o imobiliário e as obras públicas precisam de desenvolvimento para assegurar as necessidades do país. E são várias as empresas portuguesas que já estão a tirar partido deste potencial de crescimento e expansão.
A aposta da Galp Energia em Moçambique está a revelar-se uma mina de ouro para a petrolífera portuguesa na área do gás natural, mas também a tecnológica Sapo está a crescer em Moçambique, e muito. Em três anos o portal já cresceu 400% na audiência e totaliza 200 mil visitantes mensais o que leva Inês Condeço, responsável pela área internacional do portal, a referir que vão ser lançados novos canais e a empresa que “continuar a crescer em Moçambique e investir mais no jornalismo multimédia para que o projeto seja cada vez mais sólido”.
A filial portuguesa da multinacional alemã Hörman - o maior fabricante europeu de portas e automatismos de garagens industriais - prepara-se também para entrar este ano em Moçambique e a Associação Empresarial da Região de Santarém (AERS) assinou recentemente uma agremiação com a Associação Empresarial da Beira, no sentido de promover a transferência de tecnologia e ajudar a região a transformar-se num centro produtivo e não apenas comercial. Para António Campos, presidente da comissão executiva da AERS, “Moçambique precisa de uma domiciliação de investimento produtivo, para que se lance também como um país de produção e esse salto pode ser dado através da transferência de tecnologia”. Portas que se abrem para a presença portuguesa no território.
E segundo dados oficiais são já cerca de 25 mil os portugueses a viver e trabalhar no país. Diz quem tomou a opção, que viver em Moçambique é “maningue nice”, mas passar a porta de entrada ainda não é propriamente fácil. As empresas moçambicanas têm quotas para a contratação de estrangeiros. Uma restrição que aliada aos custos de vir contratar profissionais a Portugal, ainda desmotiva as empresas locais a procurar fora de portas, e na quantidade necessária para suprir as suas lacunas, as qualificações que não conseguem encontrar dentro do país. Filomena Malalane reconhece que “a le gislação moçambicana permite contratar trabalhadores estrangeiros dentro das quotas estabelecidas e para categorias de especialidade que o mercado local não oferece”. A adida comercial confirma a existência de oportunidades para profissionais portugueses qualificados e admite que “há casos em que alguns experts, são recrutados através de agências locais e a pedido de companhias multinacionais/ONG´S, empresas que atuam no mercado ou até a pedido de algumas instituições do Estado, para projetos específicos”.
Uma realidade confirmada por Sónia Silva, a diretora-geral da empresa de recrutamento Select Vedior Moçambique. Sónia, que trocou Portugal por Moçambique em 2010, em nome de um novo desafio profissional, congrega a dupla experiência do recrutador e do português que se rendeu aos encantos do calor moçambicano. A líder da empresa de recrutamento confirma que a maioria dos portugueses que vivem e trabalham no território está em Maputo e adianta que o fluxo de trabalhadores lusos é crescente. “Todos os meses chegam mais portugueses ao país, tentando uma saída para a crise da Europa”, explica Sónia Silva. A economia moçambicana está a dinâmica e o crescimento do país poderá, segundo a especialista, acelerar ainda mais a médio prazo, suportado pelo investimento público e alguns megaprojetos na área dos recursos naturais. Entre os profissionais que chegam ao país estão, sobretudo, “quadros muito especializados em áreas que Moçambique não tem, como a mineração, a metalomecânica e até a construção civil”, explica.
Para Sónia Silva, “este é um país onde existem reais possibilidades de crescimento e onde há muito para fazer. Representa a oportunidade de não ser ‘mais um', mas ‘ser aquele'”. Energia, recursos minerais, transportes, comunicações, turismo, são áreas promissoras na economia Moçambicana e que podem, claramente ser aproveitadas pelos profissionais portugueses, com investimento e preparação prévia para abordar o mercado. Mas Sónia alerta: “se por um lado este é um país de oportunidades para inovar e rico em recursos naturais, por outro, por vezes faltam os meios. A burocracia é grande, a inflação, as infra-estruturas são inadequadas, falta mão-de-obra qualificada em muitas áreas e a saúde pública, o peso da economia informal e alguma rigidez das leis laborais, são ainda constrangimentos que preocupam e que é preciso ultrapassar”, concluí.
Dicas e obrigações legais
A economia moçambicana cresce a um ritmo de 7,7% ao ano e é sem dúvida um mercado de oportunidades emergentes em diversos sectores atividade. O país está na mira das empresas portuguesas e de outras a nível mundial, mas quem pensa encontrar uma oportunidade neste mercado (seja para trabalhar ou investir) deve ter consciência que este é um país pobre, com diferenças culturais abissais em relação à Europa.
Moçambique ocupa o 4º pior índice de desenvolvimento humano do mundo e 55% da população ainda vive em estado de pobreza, com 80% a dependerem diretamente dos rendimentos do sector primário. O combate à pobreza e segurança alimentar para as populações são, de resto, dois dos objetivos políticos prioritários do Governo moçambicano e que geram também oportunidades vindas de fora.
Quem escolhe Moçabique para trabalhar deve estar consciente desta realidade e preparado para as adversidades de conviver com ela de perto. O país tem carência de técnicos qualificados, mas o recrutamento de estrangeiros ainda tem de evoluir um pouco para suprir estas lacunas. Para trabalhar em Moçambique é preciso visto de trabalho e autorização de residência. Ou seja, tudo começa com um contrato. Mas as empresas moçambicanas têm quotas para a contratação de estrangeiros, por isso a melhor maneira de gozar em pleno as oportunidades que este mercado tem para dar é abordar Moçambique como empreendedor, ou aproveitar o interesse das empresas nacionais no território e viajar já na bagagem de uma delas, recrutado em Portugal para trabalhar em Moçambique.
Antes de sair deve estar bem informado sobre a realidade do país para onde vai. Constante a embaixada ou o consulado e evite partir á aventura. É muito importante que tenha a consciência que terá de se adaptar a uma cultura, uma forma de vida e, sobretudo, uma forma de trabalhar substancialmente diferente das que se vivem em países europeus. É verdade que os portugueses têm a vantagem da língua e de todo um passado histórico que os aproxima do povo moçambicano e, por ai, talvez gozem de maiores facilidades de adaptação. Ainda assim, Sónia Silva, a diretora da Select Vedior Moçambique, aconselha a que os candidatos “não descuidem nenhum dos aspetos de avaliação do mercado”.
Sónia que também passou pela experiência de escolher Moçambique como a sua casa, “salienta a importância de recolher informação sobre saúde, educação, transportes, legislação e tudo o que permita ter uma ideia global da realidade que vai encontrar e do esforço de adaptação que lhe vai ser exigido”. A especialista confirma que “ é necessária muita disponibilidade e perseverança para os primeiros tempos”, mas tranquiliza os portugueses “depois da adaptação é fácil ganhar a confiança e formar as pessoas que trabalham connosco, definindo os objetivos e focando a equipa nas metas”. Até porque, este é um mercado onde existem reais possibilidades de crescimento.
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