*** André Catueira, para a Agência Lusa ***
Chimoio, 28 fev (Lusa) - A população de Mossurize, no centro de Moçambique, suplica pela chegada de um banco ao distrito, porque o seu dinheiro tem-se danificado quando enterrado em latas, a única forma usada para guardar a moeda na zona.
"Temos muito dinheiro aqui enterrado em latas. Muito dinheiro se decompõe por falta de boas condições de conservação, por isso pedimos um banco para salvar as nossas economias", apelou Feniasse Sitole, residente da região, no que foi fortemente ovacionado durante um comício realizado na última semana e ao qual assistiu a governadora de Manica.
Sitole acrescentou que o perigo de transportar o dinheiro para a cidade de Chimoio, a cerca de 300 quilómetros de Mossurize, retrai vários camponeses e comerciantes, que optam por enterrar os valores em casa, mesmo conscientes das consequências que dai possam suceder.
"Ainda em janeiro, um comerciante foi assaltado quando viajava para comprar mercadorias em Chimoio. Ficar com valores em casa, mesmo enterrado num lugar seguro, não traz segurança. Um banco seria a solução, porque muitos são obrigados a viajar com dinheiro vivo", disse à Lusa Filipe Ngonde, comerciante local.
A rede bancária em Manica, com 10 bancos, circunscreve-se apenas a três dos dez distritos da província, estando a maioria dos serviços concentrados na capital, Chimoio, o que coloca a população dos distritos mais longínquos, sobretudo do sul de Manica, desprovida dos serviços bancários.
Os dois outros distritos de Manica com agências bancárias situam-se no centro da província e estão separados por cerca de 70 quilómetros. Para quem vive no extremo norte ou sul, o banco mais próximo fica a 500 e 300 quilómetros de distância, respetivamente.
Apesar da fragilidade da expansão e o difícil acesso aos serviços bancários, sobretudo nas zonas rurais, uma iniciativa presidencial de 2011 pretende que a população massifique atos de poupança para minimizar a crise financeira e tornar o país sustentável.
A iniciativa que vai durar quatro anos prevê garantir a captação e dar segurança às poupanças, que servirão de meios financeiros necessários para a aplicação no desenvolvimento económico e social do país.
Em declarações à Lusa, a governadora de Manica, Ana Comoana, reconheceu o dilema da falta de serviços bancários, motivado pelo défice de infraestruturas, desde estradas a energia de qualidade, adiantando estarem em curso negociações com duas agências bancárias para a sua implantação na região.
"Esta não é a primeira vez que a população pede um banco, para nós o pedido é um bom indicador, porque ali a população diz que tem muito dinheiro, mas enterram-no. Penso que no passado seria um cenário inverso, teríamos banco sem dinheiro" disse Ana Comoana.
A governante disse que o Banco Internacional de Moçambique (BIM), do grupo BCP, e Banco Comercial e de Investimentos (BCI), do grupo CGD, estão a fazer levantamentos na região, para "terem certezas da capacidade para o uso dos serviços" e adiantou que o governo está a melhorar as infraestruturas para atrair os serviços.
O serviço bancário em Moçambique cobre apenas 52 distritos (dos 128 existentes), o que faz com que a população adira a poupanças informais e enterre o dinheiro em latas de óleo. Várias vezes a população é assaltada ou casa arde e lá se vão as poupanças.
AYAC
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