A ex-ministra da Educação de Moçambique e activista social Graça Machel disse ontem que falta ao país um "vínculo emocional à pátria", recordando que foi o patriotismo que evitou o colapso do Estado moçambicano após a independência.
Graça Machel defendeu a importância de Moçambique firmar um "pacto social", quando falava numa palestra sobre os 35 anos do histórico apelo do falecido Presidente moçambicano Samora Machel aos jovens, para interromperem os estudos e ocuparem as vagas deixadas pelos quadros portugueses.
Milhares de profissionais portugueses abandonaram Moçambique, depois da independência do país de Portugal, a 25 de Junho de 1975, provocando uma sangria de quadros que obrigou o novo governo a mobilizar estudantes para a administração pública.
Graça Machel, na altura ministra da Educação do governo chefiado pelo seu marido, disse que a decisão de levar os jovens a interromper os estudos para ingressar nas tarefas de construção do novo Estado impunha-se, para evitar o colapso da administração pública.
"Era uma questão de solidez e segurança económica, política e social do Estado, porque herdámos um país com 93 por cento de analfabetismo, um nível de analfabetismo que não se encontrava em nenhum outro país africano da época", frisou Graça Machel.
A ex-ministra da Educação de Moçambique (1975-1986) afirmou que era determinante para o funcionamento do novo Estado que os moçambicanos assumissem o comando, porque havia sinais de sabotagem económica protagonizados por alguns profissionais portugueses.
"Após a independência, celebrámos contratos de dois anos com os quadros portugueses, para permitir que se definissem e à medida que se aproximava o termo desses contratos, emergiram sinais de sabotagem", assinalou Graça Machel.
Apesar de ter sido uma decisão difícil para muitos jovens, por terem que abandonar sonhos de carreira, a mobilização permitiu que o país sobrevivesse a todas as vicissitudes que atravessou, incluindo a guerra civil de 16 anos.
Mas, 35 anos após o histórico "chamamento pela pátria", Moçambique debate-se hoje com a falta de um "vínculo emocional à pátria", considerou Graça Machel.
"Falta o vínculo pátrio, essa ligação a um espaço que se sinta que pertence a todos e pelo qual cada um pode morrer por todos. Temos que reconstituir esses valores", frisou Graça Machel.
(RM/Lusa)