Cozer o arroz com a água num tacho tapado. Deve ficar cozido e praticamente seco. Quando estiver cozido, junte o leite, o pau de canela e a casca de limão e deixe cozer em lume brando (destapado), mexendo de vez em quando. Quando estiver quase seco, retire do lume.
Bata os ovos com o açúcar (com a batedeira) até que fique em creme. Junte ao arroz, envolva e leve novamente ao lume. Mexa continuadamente durante uns minutos (entre 5 a 10 minutos).
Retire do lume, distribua por tacinhas ou coloque numa travessa. Polvilhe com canela.
Os ovos batidos em creme com o açúcar dá a este arroz doce o toque cremoso... muito agradável! Pode achar demasiado creme para a quantidade de arroz mas até arrefecer o arroz absorve bastante.
A gastronomia sempre foi uma parte integrante e caracterizadora da cultura das sociedades. Fazendo parte desta, os doces apresentam-se como sinónimo de arte, mostrando por vezes um sinal exterior de exagero ou um pormenor rebuscado. Muitas receitas de doces tiveram a sua origem nos nossos conventos. Pelos finais do século XV, entre uma novena aqui e um trabalho de jardinagem ali, as religiosas descobriram que a vida podia ser mais saborosa. Matéria-prima não faltava. O Rei, cuja casa ducal tinha o direito de tributação do açúcar, dera aos conventos livre acesso ao produto. Começa aí um enredo de receitas sussurradas nos pátios, no confessionário e na cozinha, recheadas à base de ovos e eventualmente, envoltos em hóstias ou cobertos com suspiros. São doces que tentam: barriguinhas de freira, ovos moles, encharcadas, pastéis de Santa Clara, papos de anjo, fios de ovos, ninhos de ovos ou dom-rodrigos. Hoje em dia são motivo de orgulho para as suas terras de origem.
Existem outras receitas de doces que tiveram uma origem distinta e muito mais antiga. É o caso do nosso bem conhecido arroz-doce. Doce afamado das nossas melhores cozinheiras, tem no entanto uma variabilidade muito grande na sua maneira de confecção. Em Ílhavo é famoso o preparado só com água, mas pelo país, são comuns as receitas de duas cozeduras, uma primeira com água e uma segunda com leite. Outras existem em que se utiliza somente o leite. Se aqui é comum a utilização de ovos para dar cor, na região de Coimbra por exemplo, estes não são utilizados, ficando o arroz branco.
Este doce deverá ter entrado na península pela mão dos árabes. De facto, a introdução da cultura do arroz na Europa, deu-se com a entrada deste povo na península no séc. VIII. O próprio étimo arroz provém do árabe “ar-ruzz”.
Referências a este doce, são já conhecidas em textos árabes. É o caso do “Tratado dos Alimentos” escrito em 1162 por ABŪ MARWĀN ZUHR em Sevilha. Num outro manuscrito anónimo do séc. XIII, sobre a cozinha Hispanho-Árabe, encontra-se uma receita deste doce, aqui com o nome de “Arroz com mel”. Aparece com este nome, pois nestas primeiras referências é utilizado mel e não açúcar. Para 6 doses, indica os seguintes ingredientes: 250 gramas de arroz, 3 litros de leite, duas colheres de mel, 75 gramas de manteiga e como condimento a canela. O arroz tinha de estar de molho em água durante um dia e uma noite. Depois de escorrido e cozido no leite com o mel, deita-se num recipiente fazendo-se no meio um buraco que é cheio com manteiga derretida. Depois basta polvilhar com canela e está pronto a ser servido.
Hoje em dia, perante os acontecimentos globais recentes, é bom que saibamos que grande parte do que temos e do que somos, é fruto de um legado árabe, povo que habitou a península de 711 a 1492.
Espero que gostem da receita que vos deixo
Sao Percheiro