A malta anda sempre à procura do ponto de contacto entre Grécia e Portugal. Dez idiotas a insultar o primeiro-ministro na feira do livro é uma notícia que abre os nossos telejornais. É um cheirinho de Grécia, não é? Há dias, na BBC World, a pivot fez questão de dizer que era injusto comparar Portugal à Grécia. A fazer pendant com o espírito helénico das nossas redacções, encontramos o Dr. Seguro, o nosso acólito ansioso, que fica muito incomodado, quase histérico, quando as instituições internacionais dizem que Portugal está a fazer o ajustamento certo. "Como se atrevem a dizer bem de Portugal?", grita o Dr. Seguro. É o sistema neoliberal a funcionar, Dr. Seguro. É o sistema. A UEFA devia tomar providências, não é verdade?
Seja como for, com ou sem sistema, uma coisa é certa: se queremos ver o lado positivo de Portugal, temos de olhar para o exterior. Há dias, no Expresso, o embaixador alemão, Helmut Elfenkamper, frisou algo que também deve incomodar o dr. Seguro: "o que mais nos impressiona neste momento é a capacidade de adaptação da indústria exportadora portuguesa, que cresceu enormemente no ano passado e que está ainda a crescer". Ontem, o Financial Times fez uma peça sobre o sucesso das nossas exportações e sobre a forma rapidíssima como Portugal está a matar o seu maior problema, o défice externo. Além disso, ficámos a saber que a sub-realeza britânica está a trocar o calçado Made in Italy pelo calçado Made in Portugal. Uma peça destas no FT é a melhor publicidade que poderíamos ter neste momento, e revela uma mudança de percepção em relação a Portugal.
Não por acaso, a infame Moody's lançou há dias um relatório otimista sobre Portugal. Mas, claro, este relatório passou mais ou menos despercebido entre nós. Não é curioso? Sempre que a Moody's dizia alguma coisa de negativo sobre Portugal, os telejornais abriam com esse negrume. Ontem e anteontem, o relatório positivo da Moody's não passou de uma nota de rodapé na agenda mediática do país. Faz sentido, sim senhora: se a Moody's subir o ranking da nossa dívida, estou desconfiado de que vou ver essa notícia em primeiro lugar na BBC World ou na Deutsche-Welle